Mercados

Analistas chamam a atenção para otimismo exagerado com mercados emergentes

18 dez 2020, 13:53 - atualizado em 18 dez 2020, 16:23
O Morgan Stanley recomendou uma pausa nas apostas contra o dólar (Imagem: Facebook/Morgan Stanley)

Embora firmas de Wall Street estejam quase universalmente unidas ao prever um ano de ganhos para mercados emergentes, estrategistas de bancos como HSBC e Société Générale alertam investidores para moderarem o otimismo.

Com os preços das ações já no limite, possíveis obstáculos incluem a dificuldade dos sistemas de distribuição de vacinas, uma recuperação desigual e situação fiscal frágil. Também questionam se países mais pobres ficarão no final da fila para receber vacinas.

Mesmo empresas que apostam na recuperação começam a mostrar alguns sinais de redução das expectativas. A Natwest Markets fechou sua posição no peso colombiano à medida que se aproxima dos níveis pré-pandemia.

O Morgan Stanley recomendou uma pausa nas apostas contra o dólar. O BBVA disse que algumas curvas de juros na América Latina, como no Chile, podem ter desempenho inferior devido à instabilidade política.

“Navegar pelos mercados foi extremamente desafiador em 2020, e 2021 deve ser igualmente complicado”, disseram estrategistas do Société Générale, como Jason Daw em Cingapura e Phoenix Kalen em Londres, em relatório no início do mês. “Neste momento, o mercado está eufórico, e esse é o caminho de menor resistência”, mas vários eventos podem mudar a trajetória.

O Société Générale alertou contra o otimismo completo nas moedas ao dizer que o ciclo baixista acaba de ser adiado, não finalizado.

O banco francês disse que a diferenciação será fundamental e destacou o desempenho positivo na Europa Central e EMEA, enquanto a Ásia e a América Latina enfrentariam mais obstáculos. Já o HSBC prefere títulos externos em vez da dívida local, pois os bancos centrais de mercados emergentes ficarão sem espaço para acomodação.

A multidão otimista inclui gestores e estrategistas do State Street Global Advisors e Franklin Templeton Fixed Income, por exemplo.

No entanto, até mesmo o Bank of America, que se enquadra mais diretamente no campo otimista para 2021, disse na semana passada que muitas das boas notícias já estão precificadas.

O rali de US$ 9,2 trilhões desde março já elevou as ações de mercados emergentes para níveis raramente vistos no passado.

O indicador da MSCI é negociado a 15,1 vezes o lucro projetado de seus componentes, ou 33% acima da média de longo prazo.

Não está claro por quanto tempo as estimativas de ganhos podem continuar a subir, porque o nível médio de lucro de empresas de mercados emergentes caiu para o patamar mais baixo desde junho de 2016. Se essa diferença aumentar, os investidores podem enfrentar um choque de realidade.

Ainda assim, a maioria dos 63 investidores, estrategistas e traders de uma pesquisa da Bloomberg disseram esperar que ações, títulos e moedas continuarão fortes em 2021.

Esse tom otimista é ecoado por investidores como Jacob Grapengiesser, sócio da East Capital em Moscou, segundo o qual as ações de mercados emergentes estão a caminho do melhor ano em mais de uma década em 2021.

O indicador da MSCI é negociado a 15,1 vezes o lucro projetado de seus componentes, ou 33% acima da média de longo prazo (Imagem: REUTERS/Thomas White/Ilustração)

Sob outras perspectivas, esse otimismo pode ser um pouco exagerado. Estrategistas do HSBC, liderados por Andre de Silva em Hong Kong, apontam para expectativas muito altas sobre o quanto as vacinas poderão estimular a expansão no mundo em desenvolvimento.

Muitas economias de mercados em desenvolvimento fora da China ficarão quase no fim da fila para receber as vacinas, escreveram.

Países como Brasil, África do Sul e Índia podem sofrer pressões de rebaixamento sem reformas estruturais ou aumento das receitas públicas, escreveram no início do mês.

“Embora 2021 deva trazer uma recuperação cíclica, vemos um otimismo exagerado em relação à recuperação econômica e potencial distribuição de vacinas”, escreveram.