Economia

Análise do Fed: Fala de Powell foi dura e não deixa caminho claro sobre próximos passos

26 jan 2022, 18:27 - atualizado em 26 jan 2022, 18:27
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Bolsas norte-americanas reverteram as altas de boa parte do dia e encerraram em queda (Imagem: Reuters/Lucas Jackson)

O anúncio feito pelo Federal Reserve (Fed) nesta quarta-feira (26) veio em linha com o que o mercado esperava.

Autoridades monetárias dos Estados Unidos decidiram manter inalterada a taxa de juros norte-americana entre 0-0,25%, sinalizando que a primeira elevação deve ocorrer em março. O Fed também disse que espera dar início à redução do seu balanço patrimonial após a alta dos juros.

No entanto, o discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, acionou alguns sinais de alerta. Tanto que as bolsas americanas reverteram as altas de boa parte do dia e fecharam em queda.

Na avaliação de Thomas Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos, Powell foi duro em seu comunicado e não deixou o caminho claro sobre as próximas ações do órgão.

“O mais importante, e o mercado fica com receio, é que o Fed não deixou claro os próximos passos. Esse foi o grande ponto”, diz.

João Beck, economista e sócio da BRA, destaca que haverá menos liquidez ao longo do ano, o que deve pesar nos mercados.

“Em outras ocasiões de ciclo de alta de juros, os mercados americanos ‘performaram’ bem. Mas dessa vez a inflação ameaça de forma mais forte, e já vemos alguns sinais de desaceleração da atividade econômica nos EUA (vide auxílio-desemprego)”, comenta.

Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, ressalta que o ritmo de retirada de estímulos, atualmente lento, pode mudar no meio do caminho.

“É daí que pode vir alguma piora mais clara dos mercados. Hoje, o que a gente vê é um Fed com todas as cartas na mesa para reduzir liquidez de forma mais rápida. É um Fed que, se você me perguntasse há três meses se ele faria o que está fazendo, eu diria que não”, diz.

Caruso destaca a mudança de tom do Fed nos últimos meses.

“O Fed teve um entendimento sobre inflação que se mostrou errada. Ele bateu na tecla da inflação transitória e agora está correndo atrás do prejuízo”, completa o especialista.

Alívio para os mercados? Há quem acredite que sim

Para Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance, o Fed se posicionou de uma maneira mais dovish (suave), pois a decisão veio conforme esperada e é positiva para empresas de crescimento, em especial as de tecnologia.

“O Fed agindo como previsto dá mais conforto para os investidores que precisam de previsibilidade para terem confiança em suas decisões”, explica.

Nousi diz que a postura adotada pelo Fed mostra que os riscos do aumento da inflação estão sendo “devidamente acompanhados” pelas autoridades.

Na avaliação de Lucas Martins da Silva, líder de mesa de renda variável da corretora Blue3, essa preocupação com a pressão inflacionária nos EUA foi o que mais chamou a atenção.

De acordo com o especialista, a elevação dos juros indica que o banco central norte-americano entendeu que não precisa mais prestar suporte à economia.

O especialista da Blue3 acredita que o Fed ainda pode surpreender na quantidade de elevações. Ele trabalha com um cenário de quatro a seis aumentos em 2022.

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