Análise de ações: Técnica x Fundamentalista
Qualquer investidor no início da sua jornada na bolsa de valores já teve essa dúvida inicial: Como avaliar se um investimento é bom ou ruim? Ou seja, vou ganhar ou perder dinheiro negociando aquele ativo? Procurando a resposta, chegamos na segunda pergunta: Qual análise devo utilizar, olharei apenas para os gráficos (análise técnica) ou tentarei entender os fundamentos da empresa (análise fundamentalista), mergulhando naquele emaranhado de números que para mim não dizem nada? É, eu sei, é um pouco desanimador. Eu escolhi o que eu achava mais fácil de entender, pelo menos naquele momento, segui então o caminho da análise gráfica.
Com o tempo, fui notando que faltava alguma coisa, e não era teoria – naquele momento já havia lido pelo menos 2 dúzias de livros. Na verdade, eu queria entender a empresa, o negócio, o mercado, eu queria entender a fundo o que eu estava fazendo e em que eu estava investindo. Acho a análise técnica sensacional, sempre achei que existe um fator comportamental e de sentimento (behavioral) muito forte por trás dos mercados e que esse tipo de análise consegue captar muito bem esse tipo de movimento (para alguns mercados e ativos). Novamente, eu acho que realmente VALE A PENA saber como funciona o grafismo e como se aplica, aliás, só sabemos se não gostamos de alguma coisa após entender ou experimentarmos aquilo, mas para mim não era o bastante, eu precisava de um pouco mais.
Análise técnica (ou gráfica)
A análise técnica utiliza os gráficos como ferramenta principal e foca no curto/médio prazo para a tomada de decisão. Ela pode ser subdividida em dois tipos, se podemos assim dizer: o primeiro é baseado no empirismo e nos padrões que tendem a se repetir com o tempo, o segundo tipo é a análise estatística, que utiliza osciladores e indicadores para realizar o estudo. O grafismo é baseado em três princípios:
- O mercado desconta tudo.
- O preço se move em tendências.
- A história tende a se repetir.
A grande vantagem da análise técnica sobre a análise fundamentalista é a possibilidade de utiliza-la em qualquer ativo que tenha um histórico de negociações. Por exemplo, o investidor pode utilizar esse tipo de técnica para avaliar moedas, commodities, empresa, fundos imobiliários, índices e etc.
O funcionamento da análise técnica se baseia na negação da hipótese dos mercados eficientes na sua forma fraca, pois com a sua comprovação os preços se moveriam de forma aleatória e não seriam impactados por eventos passados. A hipótese dos mercados eficientes foi formulada por Eugene Fama em 1970, e a sua teoria na sua forma forte impossibilita os agentes financeiros ter retornos superiores à média do mercado no longo prazo. No quadro abaixo podemos ver um resumo sobre a hipótese dos mercados eficientes, em inglês EMH.
Análise Fundamentalista
Na análise fundamentalista, diferentemente da técnica, o investidor utiliza os balanços da empresa ao invés dos gráficos, com a intenção de medir o valor intrínseco da empresa (valuation). Podemos dividir a análise fundamentalista em três tipos:
Modelo de fluxo de caixa descontado
Nesse modelo, o valor intrínseco da ação pode ser estimado trazendo a valor presente os fluxos de dividendos futuros distribuídos para os acionistas, que é o modelo baseado em dividendos, ou também pode-se descontar os fluxos de caixa futuros disponíveis aos acionistas após os investimentos necessários na empresa — esse modelo é baseado no fluxo de caixa para os acionistas.
Vantagens:
Baseado e fundamento em conceitos da teoria financeira
Aceito vastamente na comunidade de analistas financeiros
Desvantagens:
As variáveis devem ser estimadas, o que pode adicionar erros excessivos no modelo
Os valores de saída (ex: o valor da ação) é muito sensível em relação as estimativas
Modelo de múltiplos
No modelo de múltiplos também temos dois tipos básicos. No primeiro, estimamos o valor da empresa comparando-o com o seu lucro líquido, vendas ou fluxo de caixa. Essa medida é utilizada para comparar com os seus competidores e verificar se seu múltiplo está acima ou abaixo do valor de mercado. Um dos múltiplos mais utilizados é o P/E, que compara o valor da ação pelo seu lucro líquido.
O segundo modelo avalia o valor da companhia como um todo, esse valor inclui tanto as ações quanto as dívidas e exclui o valor em caixa e investimentos de curto prazo. Nessa conta é utilizado normalmente a receita ou o Lajida (EBITDA). Um múltiplo muito utilizado é o EV/EBITDA, que compara o valor da companhia com o seu lucro operacional. Vale lembrar que a análise por múltiplos é uma análise comparativa, não chegamos no valor intrínseco do papel, saberemos apenas se ele está acima ou abaixo do valor dos seus concorrentes ou do mercado.
Vantagens:
É um método comprovadamente eficaz para prever performance das ações
Usado por analistas de mercado com dados amplamente divulgados
Podem ser usados como series temporais
EV/EBITDA pode ser usado independente da estrutura de capital da empresa (o quanto ela tem de dinheiro de acionistas e de dívida) ou se o seu lucro líquido é negativo.
Desvantagens:
Múltiplos podem não ser comparáveis se a empresa tiver tamanho, produto e crescimento diferentes.
A ação pode parecer sobrevalorizada sob o método de múltiplos e subvalorizada sob o método de fluxo de caixa
Denominadores negativos podem impossibilitar a análise. Se estivermos analisando o EV/EBITDA de uma empresa e ela tiver o EBITDA negativo, o múltiplo não terá significado.
Modelo de avaliação dos ativos
O valor intrínseco das ações ordinárias nesse modelo é estimado em função dos ativos totais da empresa menos os passivos e as ações preferenciais. Normalmente, ao determinar o valor justo dos ativos e passivos da companhia devemos ajustar o valor contábil para o valor de mercado.
Vantagens:
Ajuda a determinar um valor mínimo para a empresa
Tem mais relevância quando a empresa é constituída em sua maioria por ativos tangíveis de curto prazo, valores claros de mercado, ou quando a companhia está sendo liquidada.
Desvantagens:
Valores de mercado para os ativos e passivos são difíceis de se obter
Valores de mercado são diferentes dos valores contábeis
O método não funciona bem para empresas com quantidade relevante de ativos intangíveis
Resumindo
A intenção desse texto é dar uma visão geral sobre os tipos de análise de investimentos. Nos próximos textos vamos entrar um pouco mais a fundo em cada um dos tipos e explicar como funciona e para que serve cada modelo de análise.