Análise: Atividade ou câmbio, a nova encruzilhada do Copom
Com a reforma da Previdência precificada pelo mercado, dois fatores de efeitos opostos devem ganhar peso especial nas próximas decisões do Copom: o efeito da guerra comercial sobre o dólar e o comportamento da atividade doméstica.
De um lado, se o estresse entre os EUA e China provocar nova desvalorização cambial, pode desestimular cortes mais agressivos de juros – embora o dólar já não tenha o mesmo impacto inflacionário do passado. De outro, após o 1º semestre frustrante, se a aguardada retomada gradual da economia não vier, pode disparar apostas em níveis ainda menores da Selic.
O comportamento dos futuros de juros esta semana exemplifica o peso das duas variáveis nas expectativas do mercado.
Na segunda-feira, quando o dólar disparou 2,25% com o agravamento da disputa EUA e China, os contratos de juros subiram e o mercado reduziu a precificação de corte da Selic para o próximo Copom de 42 pontos-base para 37 pontos-base.
Bastou um leve alívio externo na quinta-feira, porém, para o mercado fazer o caminho de volta. Nesta sexta, mesmo com o dólar em leve alta, os investidores mantêm a precificação de um BC dovish, após dado do setor de serviços, o de maior peso na economia, ter mostrado a maior queda mensal desde julho de 2018.
David Beker, economista-chefe do Bank of America Merrill Lynch, diz que mantém sua previsão de que a Selic será cortada em 0,50 pp no próximo Copom e fechará o ano em 4,75%, uma das previsões mais otimistas do mercado.
Ele reconhece, porém, que o BC poderá cortar menos os juros se o dólar subir muito e se estabilizar num nível alto. “O risco para essa previsão é se o real seguir desvalorizando. A dúvida é o quanto acima de R$ 4,00”, disse Beker.
“O debate em torno da política monetária vai ser mais pelo lado da atividade do que pelo câmbio”, disse Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, embora ela recoheça que o mercado foi “atropelado” pelo cenário externo.
Para que comece a pesar mais sobre as expectativas de tamanho do ciclo de flexibilização da Selic, o dólar teria que caminhar para níveis maiores, perto de R$ 4,00 ou R$ 4,15.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira em evento em São Paulo que o Brasil está bem preparado e tem reservas para enfrentar a mudança no ambiente global. Segundo ele, o mundo está sinalizando que haverá crescimento mais baixo por período mais prolongado.