Americanas (AMER3): Recuperação judicial vai afastar, mesmo, risco de falência?
As perspectivas de que a Americanas (AMER3) quite sua dívida após a recuperação judicial são “bem pessimistas”, diz o analista da Benndorf, Niels Tahara. Segundo ele, mesmo se houver um grande aporte dos acionistas de referência, ainda há o desafio de tornar a empresa consistentemente lucrativa e rentável.
Para ele, no momento, as chances de a varejista decretar falência “parecem relativamente altas, mas é preciso entender se haverá aporte de capital e a magnitude dele”.
“Mesmo se conseguir sair da recuperação judicial, devemos ver uma Americanas diferente. Há casos de empresas que saíram da RJ, mas ainda com resultados bastante negativos, como a Oi, por exemplo”, avalia Tahara.
Um levantamento da Associação Brasileira de Jurimetria, com base em processos judiciais do estado de São Paulo, aponta que 51% das empresas seguem com as atividades depois de passar pela recuperação judicial. Entre 2014 e 2020, foram 1.194 pedidos de recuperação judicial e 51% das empresas se recuperaram.
A Americanas deu entrada no pedido de recuperação judicial na quinta-feira (19). As dívidas da empresa somam R$ 43 bilhões, de acordo com a petição.
Recuperação judicial era melhor saída para Americanas?
Para Tahara, da Benndorf, a recuperação judicial dará tempo para a Americanas negociar as dívidas com os credores, uma vez que essas não podem ser executadas. Com o processo, a empresa ganha mais 180 dias, que podem ser prorrogáveis.
Segundo ele, o processo da Americanas será “muito complicado”, pois mesmo antes da descoberta do rombo, a empresa já sofria para manter a lucratividade, devido ao negócio da antiga B2W, que reportava prejuízos consecutivos.
Além disso, Tahara pontua que, apesar de um “market share relevante no e-commerce brasileiro”, a operação online da Americanas está “muito atrás dos concorrentes”, o que dentro de um ambiente macroeconômico desafiador para o consumo discricionário, traz mais desafios para a companhia.
“Quando olhamos o omnichannel, por exemplo, enquanto a Magazine Luiza começou o processo em 2016 e a Via solidificou esse processo durante a pandemia, as operações online e offline das Americanas ainda estão passando por essa integração, o que exemplifica um erro na estratégia da companhia e na execução”, avalia.
O analista afirma que a varejista deve passar por um “grande processo de reestruturação, até com possível mudanças no modelo de negócios, que hoje não é lucrativo”.
O que dizem os bancos?
Inúmeros bancos, como o BTG Pactual, Bradesco (BBDC4), Itaú Unibanco (ITUB4), Bank of America e BV, entraram com pedido para derrubar o pedido de proteção da empresa.
Os advogados do BTG, por exemplo, argumentavam que a liminar que determinava o estorno de um pagamento feito pela Americanas ao banco era ilegal.
Na petição, afirmaram que o trio de sócios de referência da Americanas têm R$ 180 bilhões em patrimônio, “suficiente para garantir as obrigações correntes e preservar a atividade econômica” e que o juiz que aceitou o pedido da varejista na sexta havia sido “induzido a erro pela narrativa simplória da Americanas”, usando “fraude” para definir os problemas no balanço da companhia.
Além disso, o “fator Americanas” pode obrigar os bancos a reservar em balanço pelo menos R$ 7 bilhões para cobrir o eventual risco de calote da varejista.
De acordo com executivos do mercado financeiro, Bradesco, Santander (SANB11), Itaú, Safra, BTG Pactual e Banco do Brasil (BBAS3) são, pela ordem, as instituições com os maiores volumes de empréstimos concedidos à companhia.
O valor que cada banco emprestou varia, mas vai de cerca de R$ 5 bilhões, no caso do Bradesco, a R$ 1,3 bilhão, no do BB.