Americanas (AMER3): Os esclarecimentos de Sergio Rial sobre ‘rombo’ de R$ 20 bilhões
Sergio Rial, que renunciou ontem à noite ao cargo de CEO da Americanas (AMER3), realizou na manhã desta quinta-feira (12) uma teleconferência com analistas e acionistas para esclarecer o anúncio de que foram encontradas inconsistências contábeis de aproximadamente R$ 20 bilhões.
Em fato relevante, a companhia informou que, em análise preliminar, foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis redutores da conta fornecedores realizados em exercícios anteriores, incluindo o exercício de 2022.
Entre as inconsistências, há a existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem acima nas quais a companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta fornecedores nas demonstrações financeiras, afirmou a Americanas.
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A varejista disse no comunicado que ainda não é possível determinar todos os impactos de tais inconsistências na demonstração de resultado e no balanço patrimonial da companhia.
Esclarecimentos de Rial
Em teleconferência, Rial disse que, após assumir o posto, começou a estudar os balanços da Americanas e, ao longo do processo, encontrou inconsistências de aproximadamente R$ 20 bilhões que estavam sendo lançadas na linha de fornecedores, e não tratadas como dívida bancária.
Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research, destaca alguns pontos importantes nas falas de Rial nesta quinta. Primeiro, os R$ 20 bilhões estão contemplados no balanço, mas em linhas equivocadas.
“Ao que parece (condicionado a um estudo de nove dias realizado pelos executivos), esses R$ 20 bilhões não deveriam implicar em problema de liquidez imediata para a companhia, haja visto que ela possui uma posição de caixa importante e todos os compromissos estavam sendo pagos”, ressalta Ferrer.
Os R$ 20 bilhões estavam contemplados na linha de fornecedores, e não em endividamento. Nesse caso, o correto seria ajustar o valor à linha correspondente, o que aumentaria o endividamento da Americanas “de forma considerável”, destaca o analista. Ferrer reforça que ainda é difícil calcular precisamente o valor.
Na avaliação do analista, para que a Americanas consiga “honrar com os compromissos futuros e para que o balanço seja equacionado para um patamar de três vezes dívida líquida/Ebitda”, deve ser realizada uma capitalização no valor de US$ 2 bilhões “para que seja viável economicamente”.
“Adicionalmente, será preciso rever o balanço dos demais anos, uma vez que ele [Sergio Rial] acredita que essa prática já vinha sendo realizada há vários anos”, acrescenta.
Rial acredita que a contabilidade está incorreta há mais de três ou quatro anos, destaca a XP Investimentos.
“[Rial] comentou em torno de 7-10 anos, mas reforçou que não é uma estimativa precisa”, acrescenta Danniela Eiger, analista da corretora.
A Ativa Investimentos conta que Rial ressaltou que a Americanas está crescendo o número de vendas, superando em 15% os dados de janeiro de 2022. Porém, o executivo destacou que o desempenho operacional desse ano será muito importante para os desdobramentos da atual situação.
O que fica de alerta
O caso da Americanas ainda carece de mais informações. Não só o valor exato da irregularidade ainda precisa ser apurado, como também há dúvidas se o episódio representa uma fraude contábil ou não.
“Ainda não se sabe quando e se os acionistas de referência da Americanas participarão do aumento de capital, qual o real tamanho das inconsistências contábeis, por quantos anos essa prática foi realizada e qual o real impacto nos balanços passados”, acrescenta Ferrer, da Empiricus.
Desde o ano passado, a Empiricus está com uma leitura negativa em relação às empresas do setor de varejo de e-commerce brasileiro por conta do cenário macroeconômico desafiador e dos problemas de rentabilização.
“Além disso, temos um grave problema apontado pelo Sérgio Rial e que expõe de forma importante os fracos controles e práticas da área financeira da companhia”, completa o analista.
A leitura de Ferrer após as falas de Rial é que os controles da área financeira foram insuficientes para prevenir os erros no balanço. O analista também acredita que a prática se deu em função da vontade de crescimento acelerado da Americanas nos canais online.
“Para que isso de fato ocorresse, a empresa financiava seus fornecedores através de bancos”, explica.
Segundo Ferrer, a má notícia da varejista pode servir de alerta para outras empresas com crescimento acelerado, com faturamento alto e margens baixas, pois “elas podem acabar tendo um incentivo de realizar as mesmas práticas contábeis criativas como a apresentada pela Americanas”.
Após o episódio, foi criado um comitê independente para avaliação da prática contábil e realizar os ajustes necessários no balanço da Americanas.
Os acionistas de referência da Americanas, presentes no quadro acionário há mais de 40 anos, informaram ao conselho de administração que pretendem continuar suportando a companhia, tendo Rial como seu assessor nesse processo, prestando apoio na condução dos trabalhos.