Coluna do Einar Rivero

Americanas (AMER3): O que aporte de R$ 12 bi para manter a empresa no palco ensina para o mercado

28 nov 2023, 9:01 - atualizado em 28 nov 2023, 9:01
americanas empresas
Americanas: em 21 de novembro, a ação da varejista teve alta de quase 17%, a maior em quase dois meses. (Imagem: Renan Dantas/Money Times)

Empresas não são fenômenos naturais, não surgem por geração espontânea e também não brotam nas árvores. Elas são construções muito humanas, que levam tempo para maturar – mais tempo ainda para serem bem-sucedidas e, em alguns poucos casos, se tornarem verdadeiras instituições.

Um exemplo é o hotel Nishiyama Onsen Keiunkan, do Japão: foi fundado no ano 705 – há mais de 1.300 anos, portanto. E está em operação até hoje.

De uma empresa, o empresário tira seu ganha-pão, ao mesmo tempo, em que cria empregos para que outras pessoas busquem o próprio sustento.

Não é difícil encontrar quem fale de empresas com um vocabulário que derive para uma certa “naturalização”. Fala-se de “saúde” das empresas, de “crescimento orgânico” – já é tão corrente que nem se nota que essa linguagem se aplica a seres vivos. As comparações e metáforas são, claro, pertinentes. Mas empresas não são “naturais”. São fruto de incansável esforço, trabalho humano.

Empresas que quebraram ao longo dos anos

Mas empresas longevas, como o hotel Nishiyama, são exceções. Muitas ficam pelo caminho, contrariando as melhores expectativas. Muito mais próximas de nós no tempo estão marcas como a Kodak, por exemplo.

Fundada em 1888, a empresa foi por muito tempo sinônimo de filmes fotográficos. Hoje em dia, em tempos de Instagram e câmeras digitais de capacidades diversas, mesmo nos smartphones mais básicos, já é difícil encontrar alguém de menos de 50 anos que saiba o que é “filme fotográfico”.

A quebra de empresas raramente (se alguma vez) tem uma causa única. Mas, olhando um pouco mais de perto o caso da Kodak: a SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, na sigla em inglês) divulgou em 2019 o Formulário 10-K (um relatório que empresas listadas em bolsa têm de apresentar) da empresa. No documento, diz que o preço das ações ordinárias da companhia “flutuou substancialmente e pode continuar a flutuar significativamente”.

Essa flutuação, não raro, denota falta de confiança do investidor: sentindo que tem nas mãos uma ação cujo preço derrete rapidamente, quer passá-lo adiante logo (antes que deixe de qualquer valor).

A Kodak, tendo inaugurado a era da foto digital, demorou a entrar de vez no segmento; quando o fez, não era mais protagonista – estava a reboque. A empresa, como era, quebrou em 2012. Ainda existe, mas não é nem sombra do que foi.

  • Eletrobras que se cuide: Fusão entre Vibra (VBBR3) e Eneva (ENEV3) pode criar a terceira maior empresa de energia do Brasil, veja como isso impacta os investidores das empresas no Giro do Mercado desta segunda-feira (27), é só clicar aqui: 

Um caso ainda mais impactante foi o banco Lehman Brothers, um dos principais pivôs da crise do subprime nos EUA em 2008. Antes uma das principais instituições financeiras do mundo, fundado em meados do século 19, o banco se viu enredado em derivativos financeiros complexos demais até para profissionais tarimbados.

Não se viu movimento de qualquer dos sócios para evitar o colapso – todos, talvez, com o proverbial “escorpião no bolso”, não colocaram um centavo próprio. Apenas assistiram o navio ir a pique.

São apenas dois exemplos de como uma empresa nem sempre contará com o melhor da boa vontade daqueles que a capitaneiam. Mas empresas que naufragam porque sócios, acionistas ou empresários decidiram que já se ocuparam o suficiente delas tem um custo para a sociedade.

Esse custo se traduz em pessoas e famílias que perdem o sustento, em queda de consumo, mais gastos públicos com assistência. Uma empresa deixada a estiolar não tem nada de justiça poética, ou de beleza trágica: tem, isso, sim, cara e jeito de um problema econômico bem concreto e traduzível em números, que custa e custará ao país e à sociedade.

Salvando as Americanas

A Americanas (AMER3) é uma empresa brasileira quase centenária – fundada em 1929. Muitas foram as suas configurações ao longo dos anos, da lojinha do “nada além de 2 mil réis” (algo como uma loja de R$ 1,99) para o e-commerce.

O ano de 2023 foi aquele em que a empresa sofreu um impacto como nenhum outro jamais sentido por qualquer empresa brasileira: uma fraude de dezenas de bilhões de reais.

Mas também é o ano em que os acionistas de referência (Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira) aportarão R$ 12 bilhões na empresa – um sinal inequívoco da compreensão que têm do papel da varejista na economia nacional.

E o sinal já começa a ser entendido: em 21 de novembro, a ação da Americanas teve alta de quase 17%, a maior em quase dois meses; no mês, até então, já havia acumulado alta de quase 39%.

São mostras de que a Americanas é um negócio não só viável como de alto potencial. O aporte de capital não é uma aposta, mas uma mostra da confiança que se pode ter na varejista – que soube se reinventar e se adequar aos períodos que atravessou na história.

Como se disse, empresas não são fenômenos naturais: o que chegou ao nosso tempo é o resultado do esforço de gerações de pessoas, que com muito trabalho contribuíram para compor a riqueza do Brasil.

Aportar recursos próprios é fazer diferente daqueles acionistas que, vendo suas empresas como “vacas-leiteiras”, julgando já tê-las esgotado, a descartam – não se importando com efeitos colaterais. É mostrar que há valor a ser gerado e entregue, e que há mais que só o ganho imediato e privado a observar.

Como escreveu o poeta e intelectual alemão Johann Wolfgang von Goethe, quem proteger e preservar, no futuro terá ganhado a mais bela recompensa.

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