América Latina pode liderar cortes de juros após aperto monetário recorde
Os principais bancos centrais da América Latina, que lideraram alguns dos apertos monetários mais agressivos nos últimos dois anos, podem agora estar preparados para liderar o mundo nos cortes de juros em meio a sinais claros de desaceleração da inflação em países como Brasil e Chile.
O potencial ponto de inflexão ocorre mesmo quando o Federal Reserve e o Banco Central Europeu (BCE) sinalizam que novas altas de juros podem estar no horizonte, e o Banco da Inglaterra surpreendeu muitos investidores ao elevar os juros em 0,5 ponto percentual na semana passada.
A América Latina entrou no início de 2021 em um dos ciclos de aperto monetário mais acentuados do mundo para conter a inflação fomentada por obstáculos na cadeia de produção global, aumento dos preços dos alimentos e efeitos colaterais das medidas de estímulo fiscal usadas para aliviar o impacto econômico da pandemia da Covid-19.
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Isso significa que os juros já estão nas alturas — 11,25% no Chile e no México e 13,75% no Brasil — com mais espaço para cortes.
“Esperamos que os bancos centrais latino-americanos sejam os primeiros a cortar os juros globalmente porque há várias dinâmicas domésticas que beneficiaram a região”, disse Joan Domene, economista sênior da Oxford Economics, citando atividade econômica acima do esperado e inflação desacelerada.
O analista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, escreveu em uma nota de junho que a região estava vendo um progresso “gradual, mas constante e amplo” na inflação, incluindo o núcleo dos preços básicos, que poderia sinalizar uma “guinada de política à frente”, embora com cautela.
O Uruguai já cortou os juros em 25 pontos-base em abril. O Chile deve ceder já no próximo mês, com o Brasil potencialmente seguindo em agosto.
O banco central do Chile manteve sua principal taxa de juros inalterada em 11,25% na semana passada, mas disse que, se as recentes tendências positivas continuarem, poderia começar a cortar a taxa no curto prazo.
As previsões apontam para um corte de juros no próximo mês, disse Cesar Guzman, analista macroeconômico do Grupo Securities.
“O mercado já precificou a expectativa de um corte de 100 pontos-base”, disse ele.
No Brasil, o Banco Central manteve a taxa Selic inalterada na semana passada pela sétima vez consecutiva, embora tenha adotado um tom mais brando em relação a medidas futuras, excluindo a possibilidade de futuras altas em seu comunicado.
Os mercado financeiro brasileiro mostrava que muitos operadores estão apostando que o BC iniciará um ciclo de afrouxamento monetário em agosto, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue insistindo que a autoridade monetária reduza os juros para estimular o crescimento.