Banco Central

Ameaça de Lula ao BC pode ser ‘tiro no pé’ do governo; entenda

08 fev 2023, 16:41 - atualizado em 08 fev 2023, 16:52
Lula ameaça autonomia do Banco Central e cargo de Campos Neto no comando da instituição, mas pode acabar colhendo mais inflação e juros (Foto: SFPMIS.org.br/Montagem: Isabelle Santos)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ameaça não só a autonomia do Banco Central como também a demissão de Roberto Campos Neto do cargo à frente da autoridade monetária. No entanto, se conseguir o que quer, o governo vai acabar dando um tiro no pé.

Isso porque quaisquer dessas mudanças provocariam danos maiores na inflação e, consequentemente, na taxa Selic. “Em última análise, faria com que a inflação subisse, o que exigiria um longo período de altas taxas de juros reais mais adiante”, avalia a Capital Economics, em relatório. 

Vale lembrar que o Brasil já é o maior pagador de juros reais do mundo. Seja como for, os ruídos sobre a queda de braço entre governo e BC já provocam uma reação adversa nos mercados

“A ironia é que a retórica de Lula já está fazendo exatamente o oposto do que ele quer alcançar”, comenta o economista-chefe de mercados emergentes da consultoria britânica, William Jackson. Ele se refere ao aumento dos prêmios ao longo da curva de juros futuros, com reflexos nos rendimentos dos títulos soberanos em moeda local. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Autonomia do Banco Central: o que é e por que é importante?

Campos Neto demitido?

Para o economista, Lula parece estar em pé de guerra na busca por taxas de juros mais baixas. Com isso, o presidente põe a autonomia do BC na mira. 

Egresso do Bozano Simonsen, onde fez carreira como operador e tornou-se executivo por quase duas décadas após a aquisição do banco pelo Santander, Campos Neto carrega no nome o peso do avô. Mais que isso, o presidente do BC usa o sobrenome a seu favor, como alguém que dá valor ao patrimônio pessoal (goodwill). 

Vale lembrar que Roberto Campos foi economista, ministro no governo Castelo Branco, logo no início da ditadura militar, quando promoveu muitas reformas econômicas, a favor do setor privado nacional e estrangeiro. Ainda assim, o atual presidente do BC procurou ao longo da trajetória no comando da instituição se descolar da imagem do avô e deixar sua própria marca, em especial diante da visão inovadora na área de tecnologia.

Ainda que esse histórico não seja capaz de segurar a cadeira do presidente do BC, é mais difícil para Lula derrubar Campos Neto do que se imagina. “Um presidente do BC só pode ser destituído por alguns motivos, incluindo doença e condenação criminal”, lembra Jackson, da Capital Economics. 

Além disso, a exoneração precisaria ser proposta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) que inclui também o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet. “E eles não parecem alinhados com os objetivos de Lula”, observa o economista.