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Alysson Paolinelli: Lanterna do agro, resposta para fome e ‘Pelé’ da sustentabilidade

04 jul 2023, 16:08 - atualizado em 04 jul 2023, 16:08
Alysson Paolinelli
Ex-ministro da Agricultura, indicado ao Nobel da Paz, morreu aos 86 anos, mas deixou um legado histórico para o agro do Brasil (imagem: José Cruz/Agência Brasil)

O agronegócio está em luto. Alysson Paolinelli, homem cuja vida e obra se confundem com o próprio significado do que hoje podemos denominar como “agronegócio e sustentabilidade”, faleceu na semana passada, aos 86 anos.

Eu, particularmente, tive a honra de encontrá-lo em duas esparsas oportunidades.

A primeira, entre 2007 ou 2008, quando se dispôs a ir ao meu então escritório em São Paulo, para participar de uma reunião em que apresentava um projeto de agroflorestas para investidores.

Quando o vi na sala de reunião do escritório para um simples encontro de trabalho com um jovem advogado que atuava no agro, custei a acreditar no que via. Simplesmente um ídolo, gigante em sua “envergadura histórica” e de uma simplicidade e humildade tamanha, humildade que caracterizam os “Pelés” como ele, que com um sorriso benevolente e o jeito mineiro de ser que cativava no primeiro aceno.

Ele mal poderia perceber que eu, simplesmente “tremia” só de estar frente a frente com ele. No entanto, precisávamos falar de trabalho e “engoli em seco” a idolatria e me controlei para discutir o tema objeto da reunião. Me deliciei a escutá-lo na defesa de seu projeto, como se eu pudesse apenas por osmose pegar um pouquinho de tudo que ele representava para mim naquele momento.

A segunda oportunidade foi ainda mais inesquecível para mim.

No dia 19 de janeiro de 2019, tive a oportunidade de participar da cerimônia de lançamento do livro: “Agro é Paz: análises e propostas para o Brasil alimentar o mundo, obra organizada por outro daqueles “Pelés” que só nós temos aqui no Brasil, outro ídolo e histórico ex-ministro da Agricultura, além de ex-coordenador na FGV-Agro, o professor Roberto Rodrigues.

Na oportunidade tive honra de trabalhar em um dos capítulos, o da “Gestão no Agronegócio”, junto com a minha amada esposa Nara, então aluna do mestrado profissional no Agronegócio na FGV-Agro.

Alysson Paolinelli, também, como não poderia deixar de ser, estava presente na ocasião e, claro, dando o tom da obra que praticamente homenageava-o no próprio título: “Agro é Paz”, já que praticamente simbolizava a sua liderança e trabalho de uma vida inteira.

Anos mais tarde, Paolinelli quase foi premiado pela Academia Real de Ciências Sueca, quando concorreu ao Prêmio Nobel da Paz, no ano de 2021 e 2022, pelo seu trabalho de uma vida: “Domar o Cerrado para a produção agrícola sustentável e com abundância”.

Ele estava lá conosco, mais uma vez prestigiando a cerimônia e nos brindando com a humildade, benevolência e espírito de liderança no agro brasileiro que sempre o caracterizaram, sorrindo e exibindo a sua aura de jovem senhor, para o qual todos rendiam homenagem – como se não bastasse a presença de muitos e ilustres grandes
nomes do agro brasileiro naquela oportunidade, naquele templo do agro que é a ESALQ (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo) no salão nobre da instituição.

Trabalho e legado no agro

Essa liderança e excelência fez com que como Ministro da Agricultura, se incumbisse de liderar politicamente o processo de uma nova agricultura, uma revolução agropecuária no Cerrado Brasileiro, quando exerceu o cargo de 1974 a 1979, criando as bases das novas tecnologias agrícolas, produzidas dentro da Embrapa.

Eu ainda o acompanhava com atenção – através de vídeos, palestras e tantos outros eventos – sua liderança e visão, sempre à frente do seu tempo, com o mesmo entusiasmo, porém tratando de propagar a nova revolução da sustentabilidade que o agronegócio brasileiro poderia propiciar ao mundo.

Para Paolinelli, a missão não era apenas entregar alimentos e bioenergia de qualidade, mas também garantindo preservação e sustentabilidade, através de suas técnicas de plantio na palha, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e muito mais.

Assim, se Alysson Paolinelli estava apontando para esse novo caminho, quem poderia duvidar?  Graças ao seu trabalho, temos hoje a CPR-Verde, as finanças verdes, a carne sustentável e orgânica, o “selo-verde” da Embrapa, a “soja-verde” e muito mais.

Paolinelli sempre esteve à frente de seu tempo e fará muita falta.

Na minha visão, a Real Academia da Suécia perdeu a oportunidade única de conceder o Prêmio Nobel a um dos brasileiros que mais contribuiu para saciar a fome no mundo.

Paolinelli foi um dos maiores pacifistas do mundo, contribuindo decisivamente para colocar comida no prato de 800 milhões de pessoas por ano através do seu sorriso, simplicidade e capacidade de trabalho.

Como diz o título do livro organizado pelo professor Roberto Rodrigues: “Agro é Paz” e Paolinelli foi a “lanterna de proa do agro brasileiro” por muitas décadas.

Descanse em paz, professor.

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