Comprar ou vender?

Altas que viram pó: Os riscos de comprar papéis que passam por fusões e aquisições

28 jun 2024, 7:30 - atualizado em 27 jun 2024, 23:18
Fusões e Aquisições
(Imagem: Canva/Pixabay)

Em pouco mais de seis meses, o mercado viu uma série de fusões e aquisições pipocando na bolsa. Algumas foram confirmadas, outras não passaram de rumores, mas fato é que as empresas estão se movimentam para unir forças em um cenário macroeconômico ruim. Elas aproveitam o descontão de papéis, que em alguns casos chegaram em suas mínimas históricas, com quedas na ordem de 90%, para fazerem propostas de trocas de ações ou uma incorporação pura e simples.

Entre as negociações confirmadas, estão Enauta (ENAT3) e 3R Petroleum (RRRP3), Cobasi e Petz (PETZ3), Arezzo (ARZZ3) e Soma (SOMA3) e AES Brasil, que vendeu os ativos para Auren (AURE3). Na caixinha dos rumores, é possível citar Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), que entrou em recuperação judicial. Outras negociações incluem uma possível compra da Vivo (VIVT3) pela Desktop (DESK3), além da venda da participação da Novonor na Braskem (BKRM5) e a joint venture entre Dasa (DASA3) e Amil, que também sondaram uma fusão dos negócios.

Rumores de fusão ou aquisição são, muitas vezes, gatilhos para que essas ações disparem dois dígitos em um único dia e estendam as altas por semanas.

Mas a pergunta que fica é: vale a pena comprar esses papéis pensando em lucrar em um curto espaço de tempo?

Altas que podem virar o pó

A recente movimentação da Dasa e Amil é um caso emblemático. A empresa de diagnósticos, que acumula queda de 70% no ano, chegou a disparar 40% em quatro sessões após notícia do Valor Econômico sobre a fusão. Porém, o papel da empresa de saúde subiu no boato e caiu no fato. Desde 12 de junho, a ação despencou 40%. O mercado não gostou da operação ter sido uma joint venture, ao invés de uma fusão, frustrando parte das expectativas.

E é justamente para esse risco que analistas que conversaram com o Money Times alertam. É muito difícil e arriscado prever o movimento das ações no curto prazo. Se um boato parece promissor, na prática, ele pode frustrar (e o investidor perder parte do investimento).

“Muito cuidado quando se compra uma ação esperando que ela vá se valorizar porque será comprada ou ela comprará algum outro negócio. O ideal é que o negócio cresça de forma saudável organicamente, caso tenha oportunidade de M&A (sigla em inglês para fusões e aquisições) essas oportunidades sejam vantajosas. Agora, não quer dizer que o anúncio de uma aquisição ou de uma venda possa ser positivo”, explica Matheus Amaral, chefe de análise de ações do Inter Research.

Outro caso é a Braskem. Com o interesse do fundo árabe na compra da fatia da Novonor, o papel disparou 25% em um dia. Contudo, a ação devolveu as altas e acumula queda de 40% desde junho de 2023, quando a notícia surgiu. No final, o negócio não se concretizou.

“Na maioria das vezes, temos um mercado que fica bem para cima, quando vê um movimento desse gênero. Mas cada caso é um caso e a gente nunca sabe qual será o próximo passo. Geralmente, essas operações de M&E são confidenciais, você só sabe quando tem um anúncio oficial, então você compra uma ação e não sabe se o negócio vai sair hoje ou amanhã”, explica Amaral.

E das ações que confirmaram as fusões, todas caem. Considerando o pico dos preços, quando estavam na eminência de anunciar as operações, 3R Petroleum acumula queda de 27%, Petz 38% e Arezzo 21%. “Quando se investe em uma ação, é importante pensar no longo prazo, na qualidade do negócio. Uma hora ele pode ter algum resultado via M&A, mas esse não deveria ser o foco, até porque é um movimento muito incerto, um movimento imprevisível, você não sabe quando e como vem”, completa.

O que investidor deve olhar?

Os investidores devem tomar cuidados na hora de decidirem se vale a pena embarcar em um papel que pode ser comprado ou vendido por outra empresa. De acordo com Felipe Moura, analista da gestora Finacap, o primeiro passo é observar as possíveis sinergias, se há redundâncias que podem ser eliminadas. Depois, comparar a margem.

“Tudo isso é muito importante. Por exemplo, a fusão entre Suzano (SUZB3) e Fibria (que ocorreu em 2018 e foi avaliada em US$ 14,5 bilhões) tinha muita sinergia. Agora, BRF (BRFS3) e Marfrig (MRFG3), a princípio, nem tanta, porque eles vão manter as operações separadas”, diz.

Outro ponto importante é o mercado endereçável, ou seja, market share (participação de mercado) das companhias. Gol e a Azul, por exemplo. Se a Azul fizer a fusão, a companhia resultante vai ter mais de 50% do market share.

Apesar disso, o analista pondera que é difícil prever, com exatidão, o que esperar do negócio porque dependerá de muitas variáveis. “Você realmente só vai conseguir entender quando o processo estiver rolando. A planilha consegue modelar qualquer coisa. Mas, eu acho que no primeiro momento, é importante observar a sinergia e como é que fica o market share depois daquele movimento”, conclui.

Há casos clássicos no mercado de fusões que demoraram para engatar, como Hapvida (HAPV3) e NotreDame, que juntaram para a formar a maior empresa de saúde da bolsa.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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