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Alta do açúcar, por possível disparada do petróleo, precisa ser combinada com Bolsonaro ou Lula

09 out 2022, 10:04 - atualizado em 09 out 2022, 14:37
Cana de Açúcar
São as usinas brasileiras que definem os preços do açúcar cotejando com a produção de etanol (Imagem: REUTERS/Nacho Doce)

A aposta mais visível em um fator de alta consistente para o açúcar no mercado mundial passa diretamente pelo mercado brasileiro, ou, melhor dizendo, em como Jair Bolsonaro (PL) ou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conduzirão suas políticas energéticas que definirão o mix das usinas.

Se prevalecer o quadro atual, a disparada prevista do petróleo pode não surtir efeito sobre o etanol hidratado; se mudar, possivelmente, cai a oferta de açúcar do Brasil, dando gás para os preços internacionais, porque aumentaria a proporção do biocombustível.

O Brasil é o único país que determina o equilíbrio, enquanto a Índia ainda não atinge mandatos maiores para a mistura de etanol anidro à gasolina.

A especulação dos últimos quatro dias, e mais forte na sexta quando o petróleo disparou a mais 4,25% (US$ 98,45), passa inexoravelmente pela segunda opção, quando o açúcar acelerou 1,19%, a 18,68 cents por l/p, elevando expectativas de que vá passar dos 19 c/lp no vencimento março a qualquer momento, em Nova York.

Os analistas não falaram diretamente, mas é como se estivessem apostando que a Petrobras (PETR4) retome a elevação dos preços da gasolina, atualmente represada após três cortes seguidos, e que a PEC do teto tributário dos combustíveis não seja reapresentada ao Congresso.

A medida, a vencer em 31 de dezembro, foi a principal causadora da maior competitividade do derivado do petróleo, ao derrubar o ICMS, o imposto estadual, para 18%, derretendo o etanol.

As duas por obra do presidente Jair Bolsonaro.

De traders internacionais, como a ANZ australiana, à gestora de capital brasileira Legacy, passando por advertências da União Europeia (UE), acredita-se que o barril do óleo cru passe folgadamente dos US$ 100, diante apenas das pressões sobre a produção que emergiram nos últimos dias.

A Opep+ decidiu por corte da produção diária em 2 milhões de barris, o que motivou a alta de anteontem do barril no terminal de Londres, além do recrudescimento da guerra na Ucrânia, são fatores a pesar nesse balanço de oferta muito ajustada.

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É a política

Para além de considerações que podem derrubar esse viés altista do petróleo – consumo menor com a desaceleração econômica global já contratada para 2023, a determinação do presidente Joe Biden em ‘peitar’ os produtores e até um possível acordo com o Irã para liberá-lo do embargo -, cabe a pergunta:

Quem garante que quaisquer dos candidatos a presidente do Brasil vá embarcar nessa?

Bolsonaro, se reeleito, teria que jogar fora o capital político conquistado por três meses de deflação se não reeditasse a medida. Terá um Congresso amplamente favorável, embora também com uma base de governadores que poderá exercer pressão contrária, uma vez que a receita do imposto estadual é importante para as contas estaduais.

Em relação à Petrobras, o descontingenciamento de altas da gasolina pode ser afrouxado, mas lentamente e sem que haja repasses cheios e automáticos. Turbinado por um segundo mandato, o atual mandatário não leva jeito de que soltará as amarras da estatal.

Quanto a Lula, este já se mostrou disposto a mudar a estrutura de formação de preços da Petrobras, inclusive criticando abertamente sua política pró-mercado. O cenário, portanto, é quase igual ao traçado para o candidato à reeleição, talvez até mais radical, como foi durante do segundo mandato de Dilma Rousseff, que simplesmente congelou os valores.

Em relação ao ICMS, ele já tomaria posse sem a PEC estar mais vigorando, e, ainda mais, não sendo um projeto seu. Todavia, deixar os combustíveis mais baratos por esse ângulo tributário é um belo começo de governo. De resto, ajudaria a agradar uma densa camada do eleitorado do adversário e facilitaria a sua necessidade de reunir forças no Congresso ‘bolsonarista’ para governar com algum apoio.

A política, enfim, determinará o cenário para o setor sucroenergético.

E a oferta?

Sobre a oferta de açúcar, do ponto de partida apenas pelas condições de safras de momento não parece que apresentará problemas maiores.

O Brasil terá uma safra melhor em 23/24, com mais cana diante das chuvas neste final de ciclo 22/23. Uma das projeções é da StoneX, que vê cerca de pouco mais de 35 milhões de toneladas, o que seria 5% acima da estimada na temporada atual, que já vem saindo com mais açúcar que etanol desde agosto, principalmente.

A Índia está recém-entrando na safra 22/23 entre empate com as 36,8 milhões/t da última, ou leve queda, como registrou o USDA, mas mantém sua política de subsídios aos exportadores, que dificilmente a leva a deixar de entregar menos de 6 milhões/t do adoçante ao mundo.

Na UE, a quebra da produção de açúcar de beterraba será considerável, de 6,9%, para 15,5 milhões/t, segundo a Comissão Europeia, porém aqui se volta ao ponto do quanto a demanda poderá encolher com as economias em forte desaceleração depois de sucessivas altas de juros dos bancos centrais.

Inclusive a China deverá crescer menos.

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