Alta nos salários ainda não é suficiente para recuperação do consumo
O desemprego está caindo e os salários aumentando. Pelo menos, é isso que indica a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta quarta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa de desemprego no país ficou em 9,1% no trimestre encerrado em julho. Já a renda média dos trabalhadores ficou em R$ 2.693 no período, uma variação de 2,9% frente ao trimestre anterior.
Embora o dado tenha caído 2,9% frente a um ano antes, quando o total era de R$ 2.773, já são quatro medições de altas consecutivas no rendimento desde o trimestre encerrado em abril.
“O ponto mais importante desse relatório é o avanço dos salários nominais”, afirma Eduardo Vilarim, economista do Banco Original. “O rendimento médio habitual nominal avançou 8% na comparação interanual, liderado por bons reajustes em setores como agricultura, construção, alojamento e outros serviços. Já ocupações como a administração pública sofrem com a falta de reajustes, apresentando leitura de -9,39% no salário interanual.”
Inflação e consumo
O economista destaca que a alta dos salários nominais até poderiam contribuir para uma inflação mais inercial do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), já que a demanda por serviços presenciais ainda se encontra aquecida – sobretudo em alojamento e alimentação – e com boas perspectivas para julho.
“Mas é difícil falar em uma espiral inflacionária, já que o grande vilão inflacionário doméstico são os choques externos sobre as commodities alimentícias e energéticas, além de ‘rupturas climáticas’ que impactam alimentos e energia elétrica”, diz.
Essa alta na renda disponível também não garante uma recuperação do consumo como um todo. Para Vilarim, talvez sejam vistas mudanças no volume de venda nos supermercados, em especial para o grupo de alimentos. Mas o dinheiro deve ser usado para os brasileiros no pagamento de dívidas.
“Os bens mais correlacionados com o crédito, como eletrodomésticos, veículos e materiais de construção, devem continuar vendo um recuo frente aos efeitos defasados da Selic sobre as modalidades de crédito, principalmente taxas relacionadas ao rotativo do cartão de crédito e financiamentos.”
Desaceleração do mercado de trabalho?
A queda na taxa de desemprego veio em linha com o esperado pelo mercado e é a menor para meses de julho desde 2015, mas já começa a apresentar uma leve desaceleração.
De acordo com o relatório do Itaú, os dados mostraram uma desaceleração no ritmo de crescimento da população ocupada, tanto formal quanto informal. Com isso, a expectativa é de que o mercado de trabalho perca força ao longo do segundo semestre à medida que a política monetária contracionista e a menor renda disponível impactam a atividade econômica.
O Goldman Sachs também destacou que a taxa de desemprego pode ser impactada caso a população desalentada, que desistiu de procurar emprego por falta de oportunidade, retomarem as buscas. Ao todo, são 4,2 milhões de pessoas.
Além disso, 24,3 milhões de trabalhadores ainda estão subutilizados. “Apesar do recente fortalecimento do mercado de trabalho, um quinto da força de trabalho ativa permanece subutilizada”, afirma.
Siga o Money Times no Facebook!
Curta nossa página no Facebook e conecte-se com jornalistas e leitores do Money Times. Nosso time traz as discussões mais importantes do dia e você participa das conversas sobre as notícias e análises de tudo o que acontece no Brasil e no mundo. Siga agora a página do Money Times no Facebook!