Economia

Alta no mercado de crédito coloca em cheque aperto monetário do BC; entenda

29 nov 2022, 13:54 - atualizado em 29 nov 2022, 13:54
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No mês passado, as concessões de crédito para pessoas físicas subiram 2,1% em outubro, para R$ 241,5 bilhões. (Imagem: Shutterstock)

Em um ano e meio, o Banco Central elevou a taxa Selic de 2% para 13,75% ao ano – trata-se do seu maior patamar desde 2016. O aperto monetário visava controlar a inflação, que estava em dois dígitos.

No entanto, a medida ainda não surtiu o efeito esperado no mercado de crédito. Segundo dados do Banco Central, as concessões dos bancos no crédito livre caíram 4,3% em outubro, para R$ 437,5 bilhões.

Já no acumulado de 12 meses, a alta registrada é de 24,2%.

Apesar da queda, no mês passado, as concessões de crédito para pessoas físicas subiram 2,1% em outubro, para R$ 241,5 bilhões. Em 12 meses, a alta é de 23,2%.

A taxa de juros mais alta tende a encarecer o crédito, o que levaria a uma diminuição das concessões e, consequentemente, uma redução no consumo.

Mas o volume de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) alcançou R$5,2 trilhões em outubro, o que representa uma elevação de 1% no mês.

O volume de crédito com recursos livres às famílias atingiu R$1,7 trilhão em outubro, com elevações de 1,8% no mês e de 20,9% em doze meses.

Por modalidades, a expansão do crédito livre às famílias concentrou-se nas operações de cartão de crédito (+2,0%), crédito pessoal consignado para trabalhadores do setor público (+2,4%) e crédito pessoal não consignado (+1,5%).

“Diante de mais um avanço do saldo das concessões, parece que a política monetária ainda não conseguiu surtir total efeito no mercado de crédito”, destacam os economistas da Genial Investimentos, em relatório.

As taxas de crescimento para as famílias ainda são significativas, dando sinais de estabilidade em patamares mais elevados.

Além disso, a persistência do crédito livre para pessoas físicas ilustra a demanda ainda aquecida, sobretudo no consumo de serviços em um contexto de reabertura da economia ao longo de 2022.

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Mais crédito, mais inadimplência

Junto com a concessão de crédito, subiu também a inadimplência. Os dados do Banco Central mostram que

A inadimplência do crédito total do sistema financeiro – que considera os atrasos superiores a 90 dias – registrou alta de 0,1 ponto percentual e atingiu 3%.

Por segmento, a inadimplência registrou elevação de 0,1 p.p. no crédito livre (4,2%), enquanto que no crédito direcionado a inadimplência se manteve estável (1,2%).

Já o endividamento das famílias com o SFN alcançou 49,9% em setembro, o que representou estabilidade no mês e elevação de 2,3 p.p. em 12 meses.

Com isso, o comprometimento de renda registrou elevações de 1 p.p. no mês e 3,3 p.p. no ano, situando-se em 28,7%.

A XP destaca que, no segmento pessoa jurídica, o destaque foi o cheque especial, com aumento da inadimplência anual de +4,7p.p. Já no caso de pessoas físicas, a inadimplência do cartão de crédito aumentou +3,4 p.p.

“Mantemos nossa visão de crescimento gradativo da inadimplência nos próximos meses e elevação das taxas de juros devido ao ciclo de aperto monetário”, afirmam os analistas da corretora, em relatório.

Em linha com o forte ciclo de aperto monetário, as taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre voltaram a registrar avanço de 1,7 p.p. no mês, ficando em 42,4% a.a., de modo que, registraram um aumento de 10 p.p. nos últimos 12 meses.

Selic mais alta

Essa deterioração da inadimplência nos últimos meses reflete as dificuldades do cenário macroeconômico, sobretudo com o aperto monetário que é responsável por um significativo encarecimento do custo do crédito.

Para os economistas da Genial Investimentos, o atual contexto macroeconômico, com a melhora no mercado de trabalho e aumento da massa salarial, em conjunto com políticas fiscais expansionistas, ajuda a explicar certa resiliência do mercado de crédito.

“O aumento generalizado da inadimplência já é mais um sinal de uma tendência que deve se agravar com a desaceleração econômica a partir do 4° trimestre de 2022, e que deve perdurar em 2023, refletindo os efeitos da política monetária contracionista”.

Este cenário, somado à expansão dos gastos do novo governo eleito, que elevaram significativamente o risco fiscal, aumenta a probabilidade de que o ciclo de aumento da Selic seja retomado, como forma de ancorar as expectativas de inflação.

“Este cenário adiciona um viés altista para o avanço da inadimplência tanto para as pessoas físicas quanto jurídicas”, diz a Genial.

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