Coluna do Einar Rivero

Alta na inflação: Impulsionado pelo dólar, IGP-M supera o IPCA pelo 2º mês consecutivo

10 out 2024, 9:41 - atualizado em 10 out 2024, 9:41
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A supremacia do IPCA permaneceu constante por 20 meses, até julho de 2024, quando o índice de inflação ao consumidor marcava 4,5%. (Imagem: inkdrop/Canva)

Nos últimos meses, a inflação medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) tem apresentado sinais de recuperação em relação ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), revertendo uma trajetória que, até recentemente, favorecia o IPCA como o índice mais elevado.

O IGP-M, que historicamente é mais volátil devido à sua maior sensibilidade aos preços no atacado e à variação cambial, voltou a superar o IPCA pela primeira vez em quase dois anos.

Entre dezembro de 2022 e julho de 2024, o IPCA liderou as medições de inflação anualizada, com uma diferença consistente sobre o IGP-M. Em dezembro de 2022, por exemplo, o IPCA registrou 5,78% contra 5,45% do IGP-M.

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A supremacia do IPCA permaneceu constante por 20 meses, até julho de 2024, quando o índice de inflação ao consumidor marcava 4,5%, enquanto o IGP-M ficou ligeiramente atrás, com 3,82%.

A reviravolta ocorreu em agosto de 2024, quando o IGP-M fechou o mês com uma inflação anualizada de 4,26%, superando os 4,24% do IPCA. Essa tendência foi consolidada em setembro, com o IGP-M avançando para 4,53%, enquanto o IPCA manteve-se em 4,42%, evidenciando a volta da inflação medida pelo IGP-M para o patamar superior.

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Fonte: Einar Rivero

Como o dólar impacta a inflação do Brasil

Esse movimento reflete uma maior pressão sobre os preços no atacado, impactados, em grande parte, pela valorização do dólar. Como o IGP-M é fortemente influenciado pelos preços das commodities e pelos custos de importação, a moeda norte-americana desempenha um papel fundamental na sua variação.

A recente valorização do dólar frente ao real tem pressionado os custos de matérias-primas e insumos industriais, que acabam por afetar diretamente o IGP-M, enquanto o IPCA — mais focado no varejo e no consumo das famílias — ainda demonstra resistência a esses repasses.

Além disso, setores como a construção civil, representados no índice pelo INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), também enfrentam altas de preços, influenciando a composição final do IGP-M. Mesmo assim, o impacto dessas elevações sobre o consumidor final tende a ser mais diluído, refletido nas variações menores do IPCA.

Perspectivas para os próximos meses

O cenário futuro aponta para uma continuidade dessa tendência de alta no IGP-M, caso a pressão cambial persista e os preços dos insumos industriais continuem subindo.

Por outro lado, o comportamento do IPCA dependerá fortemente de como o Banco Central vai administrar a taxa de juros e conter o consumo para evitar a disseminação desses aumentos ao varejo.

Com a proximidade do fim do ano, é crucial observar como esses dois indicadores continuarão a interagir. Historicamente, o IGP-M tem picos mais abruptos, mas também tende a se estabilizar mais rapidamente, enquanto o IPCA, ao ser mais rígido, apresenta um impacto prolongado, principalmente sobre o poder de compra da população.

Caso o dólar permaneça em patamares elevados, o IGP-M poderá continuar superando o IPCA, o que é um sinal de alerta para contratos de aluguel e energia, ambos indexados ao IGP-M.

Essa nova fase do IGP-M serve como um lembrete da complexidade dos indicadores de inflação no Brasil e da importância de acompanhar esses movimentos para ajustar contratos, investimentos e planejamento financeiro.