Economia

Alta dos preços dos alimentos testa bancos centrais da América Latina

09 nov 2020, 14:54 - atualizado em 09 nov 2020, 14:54
Supermercado Alimentos Arroz
No Brasil, os preços dos alimentos levaram o IPCA à maior alta para o mês desde 2002 (Imagem: Agência Brasil/Marcelo Camargo)

A inflação avançou mais do que o previsto no México e no Brasil diante da forte alta dos preços dos alimentos, o que desafia os planos de bancos centrais de estimular economias afetadas pelo coronavírus com juros baixos.

No México, os preços ao consumidor continuaram a subir acima da meta do banco central em outubro, puxados pelas frutas e legumes, de acordo com dados publicados na segunda-feira.

No Brasil, os preços dos alimentos levaram o IPCA à maior alta para o mês desde 2002. Essas tendências podem complicar um último corte dos juros no México nesta semana, ao mesmo tempo em que geram maior cautela no BC, que busca evitar o aumento da Selic a qualquer custo.

As maiores economias da América Latina colocaram a política monetária no foco dos planos para retomar o crescimento após as recessões históricas. Ambos os países ainda enfrentam obstáculos, como fragilidade do mercado de trabalho e recuperação desigual.

No Brasil, o BC afirma que o aumento dos preços dos alimentos é temporário, enquanto no México autoridades monetárias disseram que o espaço para mais cortes de juros é limitado.

“Vimos a inflação se acelerar na região principalmente devido ao aumento dos preços dos alimentos”, disse Marco Oviedo, economista-chefe para a América Latina da Barclays Capital. “Embora isso possa levantar algumas preocupações, não esperamos que os bancos centrais reajam imediatamente, pois as economias ainda estão em processo de recuperação.”

No Brasil, o BC afirma que o aumento dos preços dos alimentos é temporário, enquanto no México autoridades monetárias disseram que o espaço para mais cortes de juros é limitado (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

No México, os preços dos alimentos e legumes dispararam 16,2% nos últimos 12 meses, em comparação com a inflação geral de 4,1%, de acordo com a agência nacional de estatísticas. No Brasil, os preços de produtos como arroz e tomate registraram altas de preços de dois dígitos em outubro.

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Margem limitada

Alguns países da América Latina foram poupados da dor de cabeça causada pela inflação. Os preços ao consumidor na Colômbia caíram para o menor nível em mais de seis décadas em outubro em meio à demanda mais fraca do consumidor.

“Apesar das recentes surpresas de avanços nos dados do IPC, ainda achamos improvável que a América Latina tenha um período sustentado de inflação alta”, disse Marcos Casarin, economista-chefe da Oxford Economics para a América Latina, em relatório de 6 de novembro. “Assim que o atual choque dos preços dos alimentos perder força, ainda haverá um ambiente difícil para elevar os preços, já que o desemprego recorde manterá os salários reais deprimidos.”

Ainda assim, há sinais de que investidores estão preocupados com as pressões inflacionárias. Embora a economia do México deva encolher quase 10% neste ano, cinco dos 20 analistas em pesquisa da Bloomberg acreditam que o banco central vai interromper o ciclo de afrouxamento monetário nesta semana, deixando os juros na mínima de quatro anos.

“Os choques negativos de oferta se sobrepõem à fraca demanda no México e isso limita o espaço para cortes”, disse Carlos Capistran, economista do Bank of America, em Nova York. “Esperamos que o Banxico permaneça em modo de espera nesta semana.”

Na Focus, economistas têm elevado as projeções de inflação para este ano e o próximo há três semanas consecutivas, de acordo com pesquisa semanal divulgada na segunda-feira.

Os juros futuros mostram que operadores esperam aumento da Selic já no início de 2021, também devido aos crescentes riscos fiscais da explosão de gastos do governo durante a pandemia.