Economia

Alta do euro ao maior nível desde 2015 ignora cautela de Draghi

08 set 2017, 2:49 - atualizado em 05 nov 2017, 13:55

O euro voltou a subir frente ao dólar nesta quinta-feira (7) no mercado internacional, cotado acima de US$ 1,20, maior nível desde meados de 2015. O salto da moeda europeia reflete a expectativa sobre a reversão da política monetária de juro zero conduzida pelo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi. Analistas, porém, não veem juro subindo por lá antes de 2019.

Nesta quinta-feira, o BCE anunciou a manutenção do programa de estímulos de € 60 bilhões ao mês até dezembro e reiterou a intenção de ampliá-lo caso as condições da economia apresentem uma piora. Além disso, conservou a taxa básica de juro em zero. A decisão frustrou o mercado que aguardava sinais sobre quando essa estratégia será alterada.

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Durante a coletiva de imprensa, Draghi deu a entender que isso será tratado no encontro de outubro – o penúltimo do comitê de política monetária do BCE antes do fim do programa de estímulos. A ansiedade de investidores tem fundamento: geralmente, o BCE comunica seus próximos passos com relativa antecedência.

Para David Zahn, chefe de renda fixa para Europa da gestora Franklin Templeton, a readequação no plano de estímulos não significa que o BCE vai elevar o juro básico em breve. “De fato, não achamos que o presidente do BCE, Mario Draghi, vai elevar o juro durante seu mandato atual, que irá até 2019”, diz Zahn.

Draghi argumenta que o crescimento econômico da zona do euro é sólido, mas ainda não surtiu efeito sobre nível geral de preços – talvez por culpa do próprio fortalecimento do euro -, que segue abaixo da meta da autoridade monetária. A projeção do BCE para o PIB da região neste ano melhorou de 1,9% para 2,2%, enquanto a da inflação permaneceu em 1,5% (abaixo da meta de 2%).

Para o BCE, diante das projeções para a atividade, a convergência da inflação para a meta de 2% é só uma questão de tempo. Fotios Raptis, economista do TD Bank Group, chama atenção para outro aspecto: “A falta de inflação não é um fenômeno só europeu˜.

Um avanço notável de inflação, acrescenta ele em análise, faz falta a várias economias desenvolvidas, incluindo Canadá e Estados Unidos, apesar de vigorosos desempenhos econômicos. Raptis suspeita que o motivo pode estar no crescimento da produtividade, que se encontra no maior patamar desde 2014 na zona do euro. Haveria, portanto, mais folga para se apurar crescimento econômico sem pressões inflacionárias.

A equipe de economistas da Capital Economics prevê que Draghi continuará agindo de forma bem cautelosa ao iniciar a retirada do volume de estímulos, e por isso deixará a taxa básica de juro parada em zero até 2019. Na visão deles, parte do fortalecimento recente do euro tende a se dissipar ao longo do ano frente ao dólar. A previsão é de euro valendo US$ 1,15 ao fim de 2017.

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