Agronegócio

Alta do dólar deve fortalecer posto do Brasil como rei da soja

04 ago 2020, 21:03 - atualizado em 04 ago 2020, 21:03
Dolar
Os preços da soja em reais estão em níveis recordes devido à desvalorização da moeda local (Imagem: Reuters/Ricardo Moraes)

O Brasil deve fortalecer sua posição como principal produtor mundial de soja, expandindo a área plantada em aproximadamente 1 milhão de campos de futebol, à medida que a alta do dólar favorece a receita dos produtores em reais.

Eles deverão semear um recorde de 37,9 milhões de hectares (93,6 milhões de acres) com soja na temporada de plantio que começa no próximo mês, de acordo com a estimativa média de 10 analistas consultados pela Bloomberg.

Isso equivale a 1 milhão de hectares ou 3% a mais do que na safra anterior. A produção deve ficar perto de 130 milhões de toneladas, reforçando a liderança do Brasil sobre os EUA, enquanto o real, moeda com um dos piores desempenho deste ano, torna a oleaginosa brasileira mais atraente para os compradores chineses.

“Dificilmente o Brasil perderá essa posição em um horizonte de cinco a 10 anos, exceto por um problema climático”, afirma Victor Ikeda, analista do Rabobank em São Paulo.

As perspectivas de altas margens estão incentivando os agricultores a aumentar o plantio de soja, principalmente em áreas de pastagens no Cerrado, segundo Ikeda, que prevê 38 milhões de hectares de soja nesta temporada.

As perspectivas de altas margens estão incentivando os agricultores a aumentar o plantio de soja (Imagem: REUTERS/Roberto Samora)

No Mato Grosso, o estado líder em produção, as margens operacionais que consideram apenas custos diretos devem ultrapassar 40%, contra uma média de 35% nas últimas cinco safras, disse ele.

Os preços da soja em reais estão em níveis recordes devido à desvalorização da moeda local e uma forte demanda. Os preços altos têm incentivado os agricultores a vender grande parte da safra antecipadamente e fixar os preços. No Mato Grosso, os agricultores venderam 47% da produção esperada até o final de julho. Isso se compara a 23% há um ano e à média de 20% em cinco anos, segundo o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária).

“Temos visto um comportamento mais pragmático do produtor”, diz Daniele Siqueira, analista da consultoria AgRural, por telefone. “Diante de um cenário de demanda que depende muito da China, elem têm procurado vender quando recebem boas ofertas”.

A China, principal importadora, tem comprado soja brasileira para entrega em 2021, e os prêmios já estão refletindo isso, de acordo com Siqueira. Os prêmios no porto brasileiro de Paranaguá para embarque em fevereiro estão em torno de 85 centavos de dólar por bushel, acima dos 54 centavos de um ano atrás, de acordo com dados da Commodity 3.

bloomberg@moneytimes.com.br