Banco Central Europeu (BCE)

Alta de 0,5 ponto ainda está na mesa, diz integrante do BCE

03 abr 2023, 13:56 - atualizado em 03 abr 2023, 13:56
BCE, Robert Holzmann
“Por enquanto, voltamos a ter um pouco de otimismo, mas ainda há algum tipo de incerteza” (Imagem: Bloomberg)

Robert Holzmann, que integra o Conselho do Banco Central Europeu, disse que outro aumento de 0,5 ponto percentual dos juros “ainda está em jogo”, caso não ocorra uma piora da turbulência que abalou o sistema bancário global.

Embora reconheça que a instabilidade, causada pelo colapso do Silicon Valley Bank, poderia ter um efeito comparável ao aumento da taxa básica ao restringir o crédito, Holzmann disse que sua percepção seria a de “permanecer no curso”.

Da mesma forma, o anúncio surpresa no domingo da Opep+ de um corte na produção de petróleo não deve ter um grande impacto na trajetória à frente, disse o presidente do banco central austríaco.

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“Por enquanto, voltamos a ter um pouco de otimismo, mas ainda há algum tipo de incerteza”, disse em entrevista de Viena. “Se as coisas em maio não se tornarem realmente mais terríveis, acho que podemos aguentar mais 50 pontos-base e, em particular, se não surgir nenhum acordo social para conter a inflação, teremos que fazer mais para produzi-lo.”

As observações de Holzmann estão entre as mais concretas sobre quais podem ser os próximos passos do BCE, com a maioria das autoridades da instituição cautelosas em fazer previsões em meio à incerteza tão elevada. Um número crescente, no entanto, diz que o ciclo mais agressivo de aumentos de juros da zona do euro pode estar perto do fim após 3,5 pontos percentuais de aperto monetário desde julho.

Gediminas Simkus, presidente do banco central da Lituânia, disse nesta segunda-feira que a “maior parte” dos aumentos de juros do BCE já foi implementada – ecoando comentários na semana passada do líder do Banco da França, François Villeroy de Galhau. Yannis Stournaras, do BC da Grécia, disse em entrevista a um jornal publicada no domingo: “Sinto agora que estamos perto do fim”.

Também para investidores, o fim está à vista: os mercados monetários apostam que a taxa de depósito, atualmente em 3%, atingirá o pico em cerca de 3,6%. No entanto, veem apenas um aumento de cerca de 0,25 ponto percentual em maio.

Holzmann afirmou que a maior prudência demonstrada pelas autoridades não é “domínio financeiro” ou agir com medo de que os juros mais altos provoquem o caos no sistema bancário.

“É mais dizer que, à medida que os mercados financeiros se tornam mais cuidadosos com sua oferta de crédito, isso nos permite fazer menos”, explicou, citando estimativas de que a recente turbulência poderia desacelerar a oferta de crédito para o equivalente a 0,5 a 1,5 ponto percentual de aumentos nas taxas.

Holzmann disse que o problema de optar por 0,25 ponto em maio é que seria “difícil voltar novamente”.

O BCE já elevou os juros uma vez em meio ao estresse bancário – indo em frente com sua planejada alta de 0,5 ponto em março, mesmo quando o Credit Suisse foi engolfado por uma tempestade que mais tarde resultou em sua compra pelo UBS.

Autoridades dizem que os dados recebidos vão orientar o rumo a seguir.

Os números de março das 20 nações da área do euro mostraram a maior desaceleração até agora da inflação, para 6,9%, com a retração dos preços de energia, que haviam disparado com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Mas o dado foi acompanhado por outro recorde para o núcleo da inflação, que elimina esses itens voláteis e é o foco atual dos responsáveis pela definição dos juros no BCE.

A tarefa de trazer a inflação de volta à meta de 2% ficou ainda mais difícil após a decisão da Opep+, que poderia elevar os preços do petróleo. Mas Holzmann minimizou seu provável impacto na inflação.

“Isso levará a um aumento de preço em relação aos níveis que tínhamos antes”, afirmou. “Vai acrescentar alguma coisa, mas só na margem.”