Alta da Selic é único ‘remédio’ possível para contrabalancear a ineficiência fiscal, diz especialista
O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 0,50 ponto percentual (p.p.) na reunião de novembro, para 11,25% ao ano, e, segundo especialistas, deu sinais de continuidade dos ajustes.
O comunicado que acompanha a decisão desta quarta-feira (6) não trouxe sinalizações sobre o ritmo ou o tamanho total do ciclo de aperto. Porém, destacou que as decisões seguem atreladas ao comportamento da inflação, em particular às respostas de política fiscal.
Desta vez, os diretores reforçaram o impacto do fiscal na trajetória da política monetária. “A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio“, afirmam.
“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
Para o CEO e fundador da Corano Capital, Bruno Corano, não resta nenhuma outra alternativa aos membros do Banco Central que não seja elevar a Selic. “É um remédio amargo, mas o único possível para contrabalancear a ineficiência fiscal do Brasil”, afirma.
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Segundo ele, o desequilíbrio cambial é fruto do desequilíbrio das contas. “A falta de austeridade em relação às contas está colocando o Brasil em um caminho muito perigoso e com destino certo de consequências muito ruins”, diz.
Corano pontua ainda que, recentemente, o dólar voltou a cair justamente porque o ministro Fernando Haddad acenou que vai apresentar um corte de gastos.
O economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, por sua vez, diz que as incertezas fiscais locais, atreladas ao cenário global, podem levar o Copom a elevar os juros novamente em 0,5 p.p. nas reuniões de dezembro e janeiro.
Ele ainda considera mais um ajuste de 0,25 p.p. em março de 2025, que deve encerrar o ciclo de aperto monetário — com a taxa no patamar de 12,50%.
Padovani diz também que alguma medida de ajuste fiscal e consequente desaceleração econômica em 2025 permitem que o Copom trabalhe com cortes na Selic a partir do segundo semestre. Assim, os juros devem encerrar o ano a 11,50%.