Alta da Selic é ‘claramente necessária’ e deve começar com passo pequeno, diz economista do Itaú; entenda o por quê em 5 pontos
Grande parte do mercado já está convencida de que o Banco Central (BC) brasileiro deve voltar a subir a taxa básica de juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana. As atuais condições econômicas e o tom mais hawkish dos diretores nas comunicações antes do período de silêncio amargaram as expectativas.
A maioria defende uma alta de 0,25 ponto percentual, mas há quem ache necessário subir a Selic em 0,50 p.p. Nas opções de Copom, o contrato que indica um avanço de 0,25 p.p. era cotado a R$ 76,50 na véspera da reunião, enquanto aquele que prevê uma alta maior valia R$ 15.
Para o superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, Fernando Gonçalves, os membros devem começar esse novo ciclo com “um passo pequeno”. “Eu acredito que começa com 0,25 ponto percentual. No mesmo dia, tem uma decisão do Federal Reserve, que deve cortar juros. Isso vai na linha de ser mais conservador aqui no Brasil e não começar subindo fortemente os juros”, diz.
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Segundo Gonçalves, em entrevista ao Money Times, ainda há alguma possibilidade de uma alta maior, uma vez que os membros do Copom não deram guidance para a reunião que se aproxima. No entanto, o afrouxamento monetário norte-americano deve influenciar o ritmo no Brasil.
“Nós acreditamos que, nos Estados Unidos, vai ter um corte 0,25 p.p., mas lá, claramente, existe uma discussão muito viva sobre a possibilidade de reduções maiores. A barra para cortes maiores nos Estados Unidos está muito baixa”, afirma.
O superintendente do Itaú explica que uma potencial redução de 0,50 p.p. nos EUA “joga ainda mais no cenário de subidas bastante módicas aqui no Brasil”. “Vai depender um pouco desse cenário americano”, afirma.
Alta da Selic é ‘claramente necessária’
Gonçalves diz que uma alta na taxa Selic já na reunião desta semana é “claramente necessária”. “Tem muita coisa apontando na linha de mais pressões inflacionárias, o que evidencia essa necessidade de começar esse ciclo”, diz.
Segundo ele, cinco pontos justificam a eventual decisão do Copom:
- dados mais fortes da atividade econômica;
- composição ruim da inflação, com alta nos preços dos serviços;
- expectativas de inflação ainda desancoradas;
- mercado de trabalho aquecido; e
- desvalorização cambial.
Em relação ao crescimento econômico, o superintendente do Itaú diz que a economia está mais acelerada do que se imaginava. No segundo trimestre de 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,4%, frente à expectativa de 0,9%.
“Pode haver um aspecto técnico que reconheça que a economia está mais acelerada do que se imaginava, o que daria um embasamento para essa decisão de alta de juros. Em termos técnicos, isso se traduz na ideia de que o hiato do produto no Brasil está positivo”, afirma.
Ele destaca ainda a composição “bastante ruim” do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e a inflação de serviços ainda elevada. Já no mercado de trabalho, as taxas de desemprego seguem baixas e as pressões salariais em ascensão.
Por fim, Gonçalves destaca a desvalorização cambial no país e a discussão de temas fiscais, que estão diretamente ligadas ao aumento do prêmio de risco no Brasil.
O Itaú espera que o Banco Central ressalte o balanço de riscos assimétrico e faça uma decisão unânime.
E se o BC optar por não subir juros?
Apesar da maioria do mercado esperar uma alta na Selic, alguns não descartaram a tese de mais uma manutenção dos juros. O contrato que não prevê alterações nos juros no encontro de setembro valia R$ 8,75 nas opções de Copom.
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Para o superintendente do Itaú, essa opção seria “ruim”. “Estamos em um momento de transição e em que claramente o cenário de pressão inflacionária piorou. Se não subir juros agora, pode passar uma mensagem de que o Banco Central do futuro será diferente do Banco Central atual, com impactos em credibilidade”, diz.
Em um potencial cenário de manutenção, Gonçalves acredita que as expectativas de inflação seriam revisadas para cima e ampliariam a desancoragem.
Com isso, o trabalho mais adiante para trazer a inflação para baixo se tornaria “ainda mais difícil”.