Entrevista: descubra por que a Alsol vai muito bem “sem IPO no radar”
Em um mundo em transformação rumo à economia verde, a Alsol Energias Renováveis é pioneira em sistemas de fazendas solares e armazenamento de energia elétrica no Brasil, e trabalha para aumentar ainda mais sua envergadura em 2021.
Com investimento na ordem de R$ 173 milhões, a Alsol construirá 15 usinas solares fotovoltaicas neste ano, sendo 14 em Minas Gerais e uma no Rio de Janeiro. As plantas terão capacidade de geração de 46 MWp, e somadas as já existentes, a companhia terá 73 MWp de capacidade instalada, energia solar suficiente para abastecer 70 mil residências.
No Brasil, a hidrelétrica continua como a principal matriz energética, responsável por 59,8% (109.228 MWp) da produção nacional, conforme dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), compilados pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR).
Atualmente, a fonte solar responde por apenas 1,7% (3.098 MWp) da energia brasileira, pouco à frente da energia nuclear, que gera 1,1% (1.190 MWp), e atrás da produção obtida pelo carvão mineral com 2% (3.582 MWp), segundo a entidade.
Em 2019, o Grupo Energisa (ENGI3; ENGI4; ENGI11) entrou no negócio e adquiriu 87% do capital da companhia. Desde então, a Alsol assumiu a dianteira dentro do grupo como “Energia 4.0“, conceito a ser esmiuçado no decorrer da entrevista ao Money Times com Gustavo Buiatti, fundador e CTO (Diretor Técnico) da empresa.
Money Times – Como se deu o contexto de criação da Alsol em 2012, passando pela chegada da Energisa ao negócio? E o que significa o conceito Energia 4.0?
Gustavo Buiatti – Olha, em 2011 eu decidi, avaliando a situação do mercado e olhando para o Brasil — afinal nós temos um potencial sonar muito grande, apesar de sermos predominante hídricos — empreender com a criação de uma empresa que visava trabalhar com sistema fotovoltaico. Naquela época, eu já estava há nove anos morando e trabalhando na Europa.
Eu sou natural de Uberlândia (MG), e após ter concluído, em 2002, a graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Uberlândia, cursei no ano seguinte doutorado na área de semicondutores, ou seja, o material das células fotovoltaicas no Politecnico di Torino, na Itália. Na sequência, tive passagens pelas empresas Alstom Transport e Mitsubishi, em que pude desenvolver novos produtos no âmbito de aplicações fotovoltaicas.
De volta ao Brasil, em abril de 2012 aconteceu a regulamentação da geração distribuída no País, e já tínhamos uma projeto em andamento em Uberlândia, e com isso nasce a Alsol, como a primeira instalação fotovoltaica do Brasil, regulamentada pela normativa 482 da Aneel.
A instalação tinha 6,58 MWp, que seguem em funcionamento na minha cidade natal. Nosso primeiro investidor foi o grupo Algar em 2014. E no ano de 2019, chega ao negócio o Grupo Energisa, assumindo o controle da Alsol.
A Energia 4.0 é um conceito mundial, que entendemos como essencial nesse momento de transição energética, já implementado dentro da Alsol. Poxa, são cinco pilares muito fáceis de compreender: 1) apenas lidamos com energias renováveis — fonte solar, biogás (a partir de dejetos de animais), biomassa (processo 100% orgânico com base na soja, macauba, biodiesel, etc.), combinado com energia eólica e hídrica; 2) geração descentralizada; 3) sistema de armazenamento; 4) digitalização, já que cada vez mais o consumidor quer entender como ele gera, consome e economiza com a energia limpa; e 5) eletrificação dos transportes.
MT – Como a Alsol deve se beneficiar da onda verde de investimentos desencadeada pela vitória de Joe Biden, já que o democrata é conhecido defensor de fontes renováveis?
GB – Na verdade, a chegada do presidente Joe Biden à presidência dos EUA só vem endossar um movimento já existente de investimentos verde. Se observarmos as grandes empresas de tecnologia, como, Facebook (FB) e Apple (AAPL), elas já haviam levantado tal bandeira do ESG (Ambiental, Social e Governança Corporativa, na sigla em inglês).
A questão é garantir que toda a energia usada tanto nos data centers quanto nas demais facilities da empresa sejam oriundas de fontes limpas. Além dos EUA, a onda verde começa a se intensificar no nosso País, por vários motivos.
A bandeira da sustentabilidade começa a ganhar peso, o consumidor final passa a valorar isso, somada a questão econômica, à medida que investidores e empresas começam a lucrar a partir de fontes limpas de energia.
Inclusive, a própria Alsol dispõe de um modelo interessante de negócios, a partir de um investimento de R$ 100 milhões em plantas solares próprias ao longo do ano passado, que dá acesso à energia limpa, com desconto, a micro e pequenas empresas no Estado de Minas Gerais.
MT – Em 2020, a Alsol realizou uma parceria com o Banco Inter, que facilitou o acesso de clientes residenciais à contratação de energia de fazendas solares. A parceria com o Inter tem escala para outros Estados brasileiros?
GB – Foi um modelo bastante inovador e diferenciado, a maioria das empresas apenas foca em clientes de natureza jurídica, e a Alsol, além de suprir empresas, também trouxe junto com o Banco Inter (BIDI3; BIDI4; BIDI11) o mercado de aluguel de cotas solares mais próximo ao consumidor físico.
Imagina só: se você mora em apartamento e não tem espaço ocioso para instalações, mas deseja adquirir energia solar e economizar na conta luz. Logo, enxergamos uma grande oportunidade de mercado. Junto com o Inter, desenvolvemos toda a plataforma digital de acesso ao serviço, e hoje já contamos com centenas de clientes do banco que fizeram a adesão.
E portanto, isso leva a Alsol direcionar também parte dos investimentos previstos em 2021 para atender esse nicho. Neste ano, construiremos uma usina solar no Rio de Janeiro, então está previsto que o serviço também chegue aos consumidores residenciais cariocas em breve.
MT – Como se dará a expansão da companhia para outros Estados? Qual seria o limitador?
GB – Hoje o que drive [direciona] os nossos investimentos são três pontos fundamentais. Primero, a gente olha para o potencial solar da região pretendida. Felizmente, o Brasil é bastante ensolarado como um todo, mas há locais mais favoráveis do que outros.
Minas Gerais mesmo é um Estado bastante iluminado. Segundo, consideramos os valores das tarifas elétricas. E o terceiro, e talvez mais importante pilar a ser levado em conta na expansão, esbarra na política pública.
O que faz com que Minas Gerais seja líder no País em geração distribuída é a isenção de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Isso também explica o nosso movimento rumo ao Rio de Janeiro.
MT – No ano passado, uma onda de IPOs tomou conta do mercado, inúmeras empresas com planos de se lançarem na Bolsa brasileira. Logo, a Alsol tem intenção de realizar IPO?
GB – Estamos bastante em linha com o Grupo Energisa, tendo todos os investimentos necessários, e atuando como braço de Energia 4.o. A Alsol passa agora por um momento de consolidação, como um dos principais players do País. Portanto, não enxergamos nos próximos anos nenhum movimento nesse sentido.