Política

Alívio fiscal de Bolsonaro alimenta inflação, diz Pérsio Arida

06 ago 2022, 19:00 - atualizado em 05 ago 2022, 7:48
Jair Bolsonaro
Arida afirma que está disposto a discutir propostas econômicas com Lula, assim como com qualquer outro candidato que esteja fazendo campanha de acordo com as regras democráticas (Imagem: Clauber Cleber Caetano/PR)

O Brasil enfrentará desafios adicionais para conter a inflação no próximo ano, já que quem ganhar a eleição presidencial dificilmente cortará gastos sociais ao mesmo tempo em que impostos como o ICMS devem voltar a subir, segundo o ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida.

O presidente Jair Bolsonaro lançou mão de um programa de cerca de R$ 60 bilhões para amortecer o impacto da inflação, acima de 11% este ano, sobre a população.

As medidas incluem o aumento do valor do Auxílio Brasil e a redução dos impostos sobre combustíveis, eletricidade e transporte público.

O problema, diz Arida, é que o ICMS vai subir novamente enquanto os gastos sociais permanecerão, no mínimo, nos níveis atuais, independentemente se Bolsonaro ou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vencer a eleição.

Além disso, os servidores públicos intensificarão a pressão por reajustes salariais depois de não conseguirem um aumento neste ano.

“Está se preparando para o ano que vem um aumento do tamanho do problema, porque uma das fontes de contenção de preços, que foi a redução do ICMS, vai desaparecer, o que complica o trabalho do Banco Central mais à frente”, disse Arida à Bloomberg em entrevista em seu apartamento em São Paulo, segunda-feira.

Ex-sócio do BTG Pactual (BPAC11), Arida também foi assessor econômico do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin na campanha presidencial de 2018, agora companheiro de chapa de Lula.

Ele disse que não faz parte da equipe de economistas que assessora o ex-presidente, embora mantenha conversas com interlocutores da campanha.

Outro complicador para a missão do Banco Central de trazer a inflação para a meta de 3,25% prevista para o próximo ano é a perda de credibilidade do governo Bolsonaro.

Os investidores ficaram preocupados, por exemplo, com a decisão do governo de furar novamente a regra do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas à taxa de inflação, para financiar mais programas sociais.

Em vez disso, diz ele, Bolsonaro deveria ter feito uma taxação extraordinária sobre os preços de petróleo da Petrobras (PETR3; PETR4) e usado esse dinheiro para subsidiar o aumento do Auxílio Brasil.

Além disso, o alinhamento de Bolsonaro com líderes de extrema direita prejudicou a reputação do país, afetando a moeda e retardando a desaceleração da inflação, acrescentou Arida, um dos mentores do Plano Real na década de 1990.

“Outro componente é que o risco político e institucional com o governo Bolsonaro é alto. Há um câmbio que deveria ter apreciado mais e isso facilitaria a tarefa do Banco Central”, afirma, referindo-se à campanha agressiva de aperto monetário do BC, que deve elevar a taxa básica de juros para pelo menos 13,75%.

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Abaixo das Expectativas

O compromisso de Bolsonaro com a agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, foi frustrante para Arida porque não houve progresso em promessas importantes, como a reforma tributária e uma abertura comercial efetiva.

A forma como o governo lida com a política externa também prejudicou o acordo entre União Europeia e Mercosul, diz.

Arida lembrou comentário feito por Guedes sobre a aparência física de Brigitte Macron, primeira-dama francesa, e o fato de Bolsonaro ter deixado de encontrar Jean-Yves Le Drian, ministro das Relações Exteriores da França, para ir cortar o cabelo.

“São atitudes pueris do ponto de vista da diplomacia que nos trouxeram custo efetivo.”

Arida afirma que está disposto a discutir propostas econômicas com Lula, assim como com qualquer outro candidato que esteja fazendo campanha de acordo com as regras democráticas.

No entanto, evitou prever como será a condução da economia por Lula caso ele seja eleito para um terceiro mandato.

Embora o petista tenha sugerido que está buscando uma agenda de centro, diz, o quadro ainda não está completamente claro.

“Essas coisas a gente sabe na hora que nomeia o ministro e os assessores dos ministros. Aí há clareza de como vai ser conduzida a política econômica. Antes disso, não dá para saber.”

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