Alinhado ao setor, bom resultado da Marfrig vem da compra boi e de mais receita com exportações
A redução do prejuízo do Minerva, o resultado positivo de mais de R$ 2 bilhões da JBS e agora o lucro líquido de R$ 86,5 milhões da Marfrig (MRFG3) no segundo trimestre, divulgado ontem (15), revertendo prejuízo de perto de R$ 600 milhões de um ano antes, mostram que ante um mercado interno fraco as exportações estão fazendo a diferença para os frigoríficos. Com a ajuda do câmbio e de compras de bois mais baratas no mesmo período.
Em abril, a receita cambial brasileira superou 43%, em maio foi de 11,4% acima e em junho um aumento excepcional de 93% (apesar de 10 dias de paralisação dos embarques à China), com um recorde de mais 107% em volume, tudo sobre iguais períodos de 2018. No total, mais de R$ 1,592 bilhão.
China, somando Hong Kong, deu essa sustentação, mas os dados do Secex apontam também forte elevação das compras russas, após um ano de embargo sobre as importações de carnes brasileiras.
Não foram divulgados pelo Marfrig os consolidados pela empresa nesses meses, mas seu market share nas vendas globais só está abaixo do da JBS, como se sabe no mercado.
Também não se conhece detalhes da compra de matéria-prima pelo grupo de Marcos Molina, maior acionista individua. As compras foram vantajosas olhando alguns parâmetros em uma dinâmica de mercado bastante conhecida.
Houve uma grande quantidade de animais a termo adquiridos pelas grandes indústrias e não foi diferente com o Marfrig.
Negociado antecipadamente, a preço fixado para entrega futura, o boi sempre tem preço menor que no valor cotado na entrega, mas garante para os fornecedores a compra de altos volumes. E tira as indústrias de compras no spot mais volumosas.
Boa parte desses lotes também é de animais com bonificações, como o chamado boi China (até 30 meses e máximo quatro dentes). No dia a dia, varia de R$ 2/3,00 sobre o boi comum, mas no termo certamente tem bonificação menor porque a indústria garante o volume.
Mas também ninguém sabe e os frigoríficos não falam sobre o negócio. Pouco se conhece também da quantidade de boi em confinamentos próprios da indústria, onde o valor da originação foi menor, apesar de certa valorização da reposição (compra do boi magro), do que a originação do animal acabado.
Como nem tudo que é exportado é boi comprado com prêmio e no termo, mesmo porque a oferta não cobre as necessidades de compor os lotes contratados, em termos de animais considerados comuns é possível olhar o parâmetro do Cepea/Esalq nos 2º trimestre. Naturalmente nem tudo é comprado com base nesse indicador – ou até pouco, segundo analistas, porque a referência seria a mais deprimida –, mas aqui é outro dado que o mercado desconhece.
Somente as indústrias, com alto poder de fogo sobre produtores médios e pequenos que precisaram desovar para saldar compromisso, depois de um início de safra bagunçado pelo veranico de dezembro/fevereiro.
Em abril, a média para São Paulo do Cepea, foi de R$ 157,00, mais 3% sobre março, mas no acumulado o mês teve a @ recuada em 1,34%, a R$ 154,95. Em maio, foi mais fraco: média de 152,75, caindo 2,85% contra abril, e fechou o mês somando R$ 153,15, menos 1,16%.
Junho oscilou bastante, com derretimento no começo, quando as compras pararam com o travamento das vendas à China, e alta depois, dando uma média de R$ 144,95, mas puxando o acumulado de 30 dias em R$ 156,85.
De modo geral, os dados estão dados para os trimestres futuros, este e o próximo. As exportações seguem bem, apesar de que não saíram novas plantas habilitadas à China (e a Marfrig tem unidades na lista), e a @ em alta nos últimos dias deve começar a perder força com a chegada de nova boiada a termo esperado para outubro.