Alimentos podem compensar efeito do combustível na inflação no Brasil?
Desde quarta-feira (16), a gasolina e o diesel estão mais caros no Brasil, após o anúncio da Petrobras (PETR3;PETR4) sobre o reajuste de preços dos combustíveis para as suas distribuidoras. Os valores subiram 16,3% e 25,8%, respectivamente.
O aumento no preço médio de venda do litro da gasolina A foi de R$ 0,41, passando para R$ 2,93 por litro. Já para o diesel A, o reajuste foi de R$ 0,78 por litro, a R$ 3,80 por litro.
Com esse aumento, analistas do mercado revisaram suas projeções para o IPCA até o final de 2023, levando em consideração novos aumentos nos combustíveis. Os cálculos estavam longe do teto do intervalo de tolerância da meta de inflação, que é de 4,75%, com o centro em 3,25%.
André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV IBRE, falou em entrevista ao Blog da Conjuntura Econômica que a tendência no preço da gasolina e do diesel é de alta ou sustentação no mesmo patamar atual por conta da oferta. Segundo ele, o mundo caminha para a substituição da matriz energética mundial para fontes de baixa emissão de carbono, o que faz com que os países detentores das fontes não-renováveis garanta preços mais altos, de acordo com a oferta existente.
Combustíveis mais caros, inflação mais alta
Braz explica que há dois tipos de efeitos na inflação: o direto, que pode ser visto no varejo, e o indireto, que é na cadeia produtiva. No decorrer do processo, vai tendo alguns repasses de preços, resultando em um produto mais caro. O impacto a longo prazo deste aumento, principalmente no preço do diesel, é na inflação.
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Quanto ao impacto do comportamento da inflação de combustíveis no IPCA de 2023, o coordenador considera que ainda há chances de um resultado próximo do teto da meta, graças à ajuda dos alimentos.
O Boletim Macro de julho avaliou que uma boa oferta de grãos e o desaquecimento da economia mundial sustentam preços em dólar de importantes commodities alimentícias em níveis mais baixos.
“Nossa coleta de dados de agosto antecipa uma queda de mais de 1% para alimentos no domicílio. Isso é importante neste mês, em que já vamos captar pelo menos 50% do aumento do preço da gasolina – levando em conta que a vigência do aumento começou na segunda metade do mês, dividindo esse impacto entre agosto e setembro”, afirma. No IPC, a gasolina tem peso de 5%, enquanto a alimentação no domicílio representa 15% do Índice. “Com a perspectiva dessa importante queda dos alimentos, pode-se compensar a influência da gasolina, abrindo espaço para que, mesmo com o impacto dos combustíveis, o IPCA ainda feche o ano dentro do intervalo de tolerância da meta.”
Antes do aumento dos combustíveis, as projeções de Braz eram de o IPCA fechar 2023 em 4,5%.
Contudo, de acordo com o coordenador, há um fator no setor alimentício que pode afetar o resultado do IPCA, que é o efeito El Niño, que nada mais é do que temperaturas mais altas e mais chuvas, trazendo prejuízos para esse mercado. Esse efeito pode acontecer no quarto trimestre.