Alimentos indicam pressão no IPCA em janeiro, mas demanda pode arrefecer, como a energia no trimestre
A surpresa que foi os 10,06% de inflação de 2021 pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), bem acima da meta e o maior desde 2015, pode continuar desagradável também para este primeiro mês do ano pela rubrica alimentação, apesar de leve recuo no mês anterior.
No indicador do IBGE, Alimentação e bebidas (7,94%), teve impacto de 1,68 p.p., sendo o terceiro grupo a ter pressionado o IPCA.
Se for tomado o IGP-DI de dezembro, da FGV, que subiu 1,25% – e acumulou alta de 17,74% no ano -, os itens que medem a inflação das matérias-primas alimentícias, no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), indicam elevação para janeiro, como já deu Money Times.
A FGV registrou 4,40% de inflação ao produtor. Carne bovina disparou de 2,60% em novembro para 8,33% em dezembro, o café foi de 8,02% para 9,16, entre as rubricas de alimentação que puxaram o índice, além de uma participação menor da soja.
Para o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, esse disparo via produtos in natura para serem transformados nem sempre se consolida, embora seja importante.
“Em novembro caiu [o IGP-DI] e o IPCA em dezembro [0,73%] não caiu”, diz, acentuando não se surpreendeu com a inflação de dois dígitos, já apontada em documento da entidade.
Ele espera as condições de preços da energia sobre os alimentos, em face da possibilidade da volta à ‘bandeira amarela’ com os reservatórios melhorando com as chuvas, mas é algo que, se ocorrer, deverá ser ao longo do 1º trimestre.
De todo modo, a inflexibilidade de preços da carne bovina não enfraqueceu nesse começo de janeiro, por conta da expectativa de retomada forte da China e rebanho curto; e o café se mantém com o viés de valorização contínua, diante dos riscos de oferta já presentes e adicionados, agora, com as chuvas nas regiões produtoras.
O IPCA trouxe participação importante do açúcar na inflação ao consumidor. E o item, em plena entressafra da cana, não deverá ceder.
Mas da Luz ainda prefere ver também as “elasticidades”. Entre essas, aponta a aponta do consumo. “Repassar preços é sempre uma vontade, mas nem sempre possível, depende de como está a situação do consumidor”, diz o economista, um dos elegíveis que, semanalmente, opina no Boletim Focus, do Banco Central.
Janeiro e fevereiro costumam ser meses menos aquecidos, levando-se em consideração que essa régua já vem historicamente baixa, aliados ao efeito do aumento das taxas de juros sobre o ímpeto de compras que já estaria surtindo efeito, completa ele.