Algoritmos ainda perdem para humanos no mercado de aço
A automação tem transformado mercados financeiros ao redor do mundo, mas ainda há um setor onde o aperto de mão é a norma e o uso da tecnologia significa enviar ofertas com cópia por e-mail.
O complexo e antiquado mundo siderúrgico, que está entre os setores mais antigos dos Estados Unidos, é uma das últimas linhas de defesa contra os bots. Em vez de um mercado computadorizado, em que os pedidos vão e voltam em milésimos de segundo, uma grande parte das transações do setor é feita em contratos anuais, com preços e volumes combinados. Ao contrário da maioria das commodities, quase não existe um mercado futuro e, quando o aço é de fato comercializado, a venda acontece por telefone ou e-mail.
A situação no mercado de aço, que movimenta US$ 900 bilhões, quase não tem paralelos. No lado positivo, há mais estabilidade de preços, o que poupa siderúrgicas como US Steel, ArcelorMittal e Nucor de ter que gastar bilhões protegendo a produção futura. Clientes com relacionamentos acolhedores podem obter boas ofertas. Mas, para os críticos, o status quo é ineficiente e falta transparência, o que significa que compradores podem acabar pagando muito. Esse modelo de negócio poderia levar a custos mais altos em vários produtos, como carros e geladeiras, em um momento em consumidores estão arcando com uma parte do peso das tarifas sobre o aço impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
“A realidade é que algo precisa mudar”, disse Todd Leebow, presidente da Majestic Steel USA, que compra aço de usinas e processa o material para venda aos usuários finais. O aço “não é realmente um mercado eficiente”.
Há muitas explicações que explicam por que a “financialização” ainda não conseguiu se firmar na indústria siderúrgica. Inúmeros produtos – bobinas laminadas a quente, aços inoxidáveis, entre outros – dificultaram bastante a obtenção de contratos padronizados. As usinas siderúrgicas também têm um histórico de priorizar relacionamentos em detrimento do modelo de negócios. Mas também é possível argumentar que o setor tem sido tão lento, e talvez até hostil, em modernizar a forma como negocia porque grandes produtores há muito tempo têm domínio sobre a fixação de preços.
“A inércia das pessoas no comércio é que elas não querem ver seu produto como uma commodity”, disse Shan Islam, diretor de operações de ferrosos da Amalgamated Metal Trading, de Londres. Não só não entendem como funciona o hedge, como também “estão pressionando contra isso porque querem comandar um prêmio”.
O problema é falta de transparência, dizem especialistas. Negociações bilaterais são negociadas de forma privada e os descontos podem variar de acordo com o comprador. Isso dá às usinas um grau de poder de precificação sobre os contratos, bem como no mercado à vista. Além disso, os custos mais altos geralmente são repassados ao longo da cadeia de suprimentos, inflacionando o custo pago pelos consumidores.