Algodão: quando a indústria brasileira resolveu comprar, a China havia levado
A pouca disponibilidade de algodão no mercado interno, com reflexos na ponta final dos preços das roupas, foi porque a indústria têxtil foi pega no contrapé. Descapitalizada ou desprevenida, ou desprevenida por estar descapitalizada, viu a matéria-prima ir embora para a Ásia.
Igual opinião dada há algumas semanas pela Abrapa, entidade que reúne os produtores rurais da fibra, é compartilhada pelo ex-diretor-presidente da Terra Santa Agro (TESA3) e CEO da Santa Colamba Agropecuária, Arlindo Moura, no momento em que as tecelagens e indústrias de vestuário voltam a debater a alta dos preços em um mercado ainda combalido pela pandemia.
“Faltou previsibilidade para o industrial brasileiro”, diz o empresário.
Há uns meses, no auge do contágio mundial, a própria Abrapa não esperava um 2020 dos mais promissores no mercado externo, enquanto uma supersafra começava a se concretizar no Brasil. Portanto, era um cenário de oferta maior.
Mas os chineses foram trocando de marcha com a mesma rapidez que saíam da pandemia, enquanto o Brasil demorava para mostrar algum ímpeto na economia.
Segundo Moura, que também já presidiu a entidade, “quando o mercado (interno) retomou, o algodão brasileiro já estava comprometido”.
Da safra brasileira de 2,9 milhões de toneladas, 2,4 milhões/t estavam disponíveis para exportações, sendo que destas, 2 milhões/t fixadas em contratos externos, pelos dados da Abrapa.
O que ocorreu, portanto, foi que os importadores avançaram também sobre as 400 mil/t que não estavam ainda negociadas e, possivelmente, tiraram lascas das 500 mil/t reservadas para o Brasil.
Lembrando, ainda, que o oferta dos Estados Unidos foi menor na temporada deste ano.