Alexsandro Nishimura: Petrobras na máxima histórica
No dia 14 de janeiro, uma sexta-feira, um fato chamou atenção: as ações preferenciais da Petrobras encerraram o pregão em seu valor mais alto na história, após quase 13 anos. Entretanto, uma rápida busca por PETR4 no Google poderia contrastar com a informação apresentada no Radar ATH (all time high). Pelo gráfico apresentado como resultado da busca, a ação estaria longe dos R$ 50,56 registrados em 23 de maio de 2008.
A explicação para a diferença está no fato de que o gráfico não leva em consideração os proventos distribuídos pela empresa, que devem ser considerados no histórico de preços. Ou seja, os proventos anunciados devem ser descontados nos preços, sendo necessário o mesmo ajuste em toda a série histórica de cotações da ação.
Por exemplo: se a empresa vai distribuir R$ 1 em dividendos e o valor do ativo é R$ 10 até a data em que o investidor terá direito ao recebimento do dividendo (data-com), ele será negociado em R$ 9 a partir do dia útil seguinte ao qual o detentor da ação já não tem mais direito ao dividendo (data-ex). Perceba, não há perda de patrimônio do investidor. Afinal, o acionista detinha uma ação cotada a R$ 25, que embutia o direito de receber R$ 5 em dividendos. No dia seguinte, na data-ex, ele teria uma ação que vale R$ 20, mais R$ 5 de dividendo a receber. Ou seja, os mesmos R$ 25. Este desconto faz sentido também pela ótica da empresa, pois todo o valor descontado vai deixar de pertencer à empresa para pertencer diretamente ao investidor.
Assim, o gráfico correto é mostrado abaixo, comprovando o patamar histórico que as ações da petrolífera se encontra:
Isto reforça o poder do recebimento dos dividendos, que às vezes pode passar despercebido por alguns investidores. No caso da Petrobras, desde maio de 2008, foram distribuídos R$ 13,49 por ação, dos quais R$ 5,65 nos últimos 9 meses. Abaixo listei as distribuições de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) anunciadas pela Petrobras desde o final de 2008:
Aliás, a distribuição de dividendos da Petrobras passou a ser um ponto destacado por analistas. A XP, por exemplo, tem visão positiva para a empresa devido à alta qualidade dos ativos do pré-sal, valuation atrativo e dividendos robustos, apesar de enxergar potencial volatilidade nas ações neste ano, por conta das eleições presidenciais. Quanto aos dividendos, o cenário base traçado pelo time da XP enxerga que a soma dos dividendos de 2022 a 2026 deve totalizar quase 100% do valor de mercado atual da companhia.
Voltando ao fato das ações da Petrobras terem atingido sua máxima histórica, o marco chama atenção diante de tudo que aconteceu com a empresa ao longo da última década. Desde o topo anterior, passamos pelas crises do subprime e covid-19, que afetaram o mercado como um todo, mas a empresa esteve exposta a fatores específicos que a colocaram no centro das atenções e a penalizaram por um longo período: mega oferta de ações para capitalização e pagamento da cessão onerosa referente aos campos do pré-sal, escândalos de corrupção descobertos no âmbito da Operação Lava-Jato e intervenções no governo Dilma para controle dos preços de combustíveis.
Após o fundo do poço, que levou as ações para patamar próximo a R$ 3,30 no início de 2016, daí em diante a empresa entrou em um processo contínuo de desinvestimentos, adoção de paridade internacional de preços dos combustíveis e tentativa de blindar a companhia dos riscos de ingerência política, além da gradativa recuperação dos preços do petróleo no mercado internacional.
É interessante observar também o momento em que a empresa segue avançando, em um início de ano eleitoral, justamente o principal fator de risco para as ações. Será que o mercado está desconsiderando tal risco? Costumo acreditar no poder do mercado como agente consolidador da opinião da massa de investidores, o que leva a crer que a precificação dos ativos é eficiente.
Ah, como eu soube que a Petrobras atingiu a máxima histórica? O BRANews envia diariamente um relatório com as ações que fecharam o pregão no maior valor histórico ou que estejam mais próximas deste patamar. Trata-se do Radar ATH.
Alexsandro Nishimura é head de Conteúdo e sócio da BRA, escritório credenciado da XP Investimentos. É formado pela UFF e possui MBA em Finanças pelo IBMEC. É planejador financeiro certificado (CFP®️) e responsável pela produção e distribuição de conteúdo aos clientes da BRA. Atua no mercado financeiro desde 2005, dedicado à produção de conteúdo para investidores pessoa física. Iniciou carreira na área de consultoria, na Lopes Filho & Associados, onde atuou como analista de investimentos, montagem de carteiras recomendadas e análise de fundos de investimentos imobiliários. Foi Head de Conteúdo da MyCAP Investimentos, operação brasileira dedicada à pessoa física da maior corretora do mundo, a TP ICAP, em que era o responsável pelos departamentos de Research e Marketing.