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Alex Nascimento: DeFi, o futuro do mercado financeiro

18 set 2020, 14:07 - atualizado em 18 set 2020, 14:07
Neste artigo por Alex Nascimento, entenda por que DeFi já está revolucionando o setor financeiro global (Imagem: Freepik/upklyak)

A criação de sistemas financeiros e a consequente proliferação dos bancos e de outras intuições financeiras tornou o mercado de capitais extremamente centralizado.

Na maioria dos casos, a emissão e o fluxo de moedas, o controle de ativos financeiros e, até mesmo, o risco econômico são regulados por autoridades governamentais e ou centrais.

Entretanto, o anseio do mercado de tornar essas operações mais descentralizadas e democráticas começa a se tornar realidade devido ao acesso a novas tecnologias, tais como a do blockchain.

Novas formas de realizar transações financeiras estão sendo criadas a partir da revolução das criptomoedas, da criação de CBDCs (“Central Bank Digital Currency”) e, mais recentemente, de aplicações como Finanças Descentralizadas, também conhecidas como DeFi.

A tecnologia DeFi proporciona uma nova forma de fazer negócios entre as partes interessadas, minimizando custos e oferecendo soluções inovadoras, transparentes, resilientes e consolidadas, possibilitando um reaquecimento no mercado de criptomoedas.

Hoje, as DeFi possuem mais de US$ 4 bilhões em criptoativos “colateralizados” (usados como garantia) em diferentes projetos, como MakerDAO ou Aave.

Essas plataformas se resumem na reformulação e completa descentralização da gerência e oferta de produtos e serviços financeiros, anteriormente somente disponíveis através de instituições centralizadas.

Em agosto, o protocolo Aave ultrapassou US$ 1 bilhão em valor total bloqueado (TVL), ou seja, todo esse dinheiro foi usado em empréstimos na plataforma (Imagem: Crypto Times)

As DeFi são, na sua maioria, plataformas descentralizadas que operam contratos inteligentes financeiros com ativos digitais (criptomoedas) como garantia e estes contratos são transacionados através de aplicativos descentralizados (dapps) no blockchain Ethereum.

Em definição, DeFi são softwares de transações financeiras, criados em um blockchain e que podem ser conectados uns aos outros como peças modulares de um grande ecossistema financeiro.

Dapps conectam participantes diretamente (“peer-to-peer”, ou P2P), dentro do universo DeFi e, por todas as transações serem executadas por contratos inteligentes, sem a presença de um intermediário, os participantes desse ecossistema financeiro têm o controle absoluto de seus ativos.

Estes por sua vez, através de protocolos DeFi, podem realizar empréstimos, pagamentos, gestão de patrimônio, investimentos e ter, à sua disposição, serviços financeiros como empréstimos, negociação de margem e juros, exchanges descentralizadas e derivativos financeiros.

DeFi possibilitam a criação de um sistema de produtos financeiros independente, eficiente, seguro e sem uma organização central com controle e poder dos fundos, como tradicionalmente é feito com produtos bancários.

Plataformas de empréstimos DeFi tiram a necessidade de um intermediário, que apresentaria altas taxas e não seria tão eficaz quanto os contratos autônomos (Imagem: Freepik/macrovector)

De modo geral, DeFi descentralizam toda a infraestrutura monetária e bancária disponível atualmente, através de contratos inteligentes que atuam de forma independente: as transações são gerenciadas entre os participantes que concordam em ter seus ativos digitais gerenciados por contratos inteligentes.

Isso torna os participantes do mercado os verdadeiros controladores do ecossistema e elimina, por completo, o intermediário.

Cada plataforma DeFi pode também emitir moedas de governança com direito a voto para garantir a democratização do processo e a integridade dos contratos inteligentes junto aos protocolos que fazem parte do ecossistema.

Hoje, os serviços DeFi mais populares estão operando no blockchain Ethereum. Ether (ETH), moeda da Ethereum, possui fácil conversão e é utilizada para pagar as taxas de transação dos diversos produtos DeFi.

Outro exemplo relevante é a criptomoeda DAI, que é um stablecoin, com seu valor atrelado ao dólar. DAI oferece aos agentes do ecossistema um ativo financeiro de menor risco e menor volatilidade, com a habilidade de transitar e ser utilizada como uma unidade de valor comum entre os diferentes protocolos.

DAI é criado e emitido pela plataforma de empréstimo de ativos digitais MakerDAO que, com cerca de mais de 21 mil usuários, chegou a atingir 13.490 transações diárias após seu lançamento há dois anos.

Essa plataforma controla o processo de empréstimos, permitindo aos usuários pôr criptomoedas como garantia em contratos inteligentes de empréstimo e, em troca, receber outras criptomoedas como empréstimo ou juros desse mesmo contrato.

Em poucos dias, o protocolo Compound havia atingido recordes em volume quando apresentou seu token COMP , dando início à “revolução agrícola” do setor DeFi (Imagem: Crypto Times)

Outras plataformas inovadoras também foram desenvolvidas para atuar no espaço DeFi, tais como:

Compound: opera como um fundo de empréstimos onde os participantes ganham juros emprestando capital. O juro é estipulado pelo contrato inteligente, a partir do volume de ativos emprestados e fornecidos na plataforma. Os ativos digitais BAT, DAI, ETH, USDC, REP, ZRX, WBTC etc. também podem ser utilizados na Compound ​​como garantia.

Synthetix: plataforma de derivados onde usuários desenvolvem ativos digitais baseados no token SNX. Os ativos criados podem representar commodities, criptomoedas e moedas fiduciárias.

– Exchanges descentralizadas (DEXs): exchanges que não custodiam as criptomoedas e que permitem aos usuários realizar negociações P2P através de contratos inteligentes. Algumas das DEXs mais populares são AirSwap, Uniswap, Liquality, Oasis e Mesa.

Com uma estrutura ainda em desenvolvimento, mas já com grande adoção, o segmento DeFi surgiu como o setor mais dinâmico e promissor no universo blockchain.

DeFi oferecem novas oportunidades para indivíduos, desenvolvedores e instituições atuarem no mercado financeiro, oferecendo novos modelos de empréstimos, derivativos e contratos financeiros, além de trazer maior liquidez ao mercado de criptomoedas.

Mais recentemente, uma prática DeFi que tem se destacado é denominada de “agricultura produtiva” ou “cultivo de rendimentos” (do inglês “yield farming”).

O termo se refere a estratégias de usuários que movimentam temporariamente seus ativos digitais em busca das melhores taxas de juros, emprestando esses ativos em variadas plataformas financeiras descentralizadas com diferentes taxas de juros.

Essa ação visa obter novos tipos de tokens como recompensa por participar em uma plataforma específica e, assim, aumentar os rendimentos gerados em cima do ativo que foi emprestado.

Para tal, usuários buscam diferentes pools que estejam oferecendo as melhores oportunidades de arbitragem disponíveis no momento, gerando taxas de juros que variam de 0,25% a 142% para diferentes modelos de empréstimos.

Essa nova prática de rendimentos incentiva o uso da plataforma, uma vez que aumenta o fluxo de valor do token da plataforma em questão, gerando lucros aos usuários e criando um ambiente favorável para uma maior adoção dos variados protocolos DeFi.

As Finanças Descentralizadas e seus protocolos podem servir como exemplo de uma importante inovação para o desenvolvimento do mercado de capitais tradicional.

O acesso universal aos serviços financeiros, a criação de novos mercados, oportunidades de liquidez e o aumento da segurança e transparência financeira em um ambiente totalmente controlado pelos seus participantes democratiza cada vez mais a indústria financeira.

Com o potencial de recriar os sistemas financeiros mundiais, muitos acreditam que as plataformas DeFi cresceram por meio da constante adesão de participantes a seus ecossistemas, o que fará com que esse segmento da indústria blockchain seja cada vez mais seguro, eficiente e transparente.

À medida que o envolvimento de usuários e o aperfeiçoamento da tecnologia se expandam, DeFi se tornam uma das mais importantes ferramentas do universo blockchain, oferecendo mudanças reais à infraestrutura financeira e econômica contemporânea.

Alex Nascimento é professor de Blockchain & STOs na universidade americana UCLA e também é cofundador do Blockchain@UCLA Lab. É autor do livro The STO Financial Revolution. Alex é um profundo conhecedor do mercado de valores mobiliários tokenizáveis e, neste artigo, tratou justamente sobre o panorama atual das plataformas DeFi pelo mundo.

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