Ajuda para grandes empresas envolve medidas de dívida e títulos conversíveis, diz Campos Neto
O governo avalia ajuda a grandes empresas em meio à crise do coronavírus via apoio para contratação de dívida e por meio de títulos conversíveis, indicou nesta quarta-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Em videoconferência com executivos do Credit Suisse, ele disse que a liquidez que já foi injetada na economia por meio das medidas para combater efeitos econômicos do coronavírus é suficiente, mas que a autoridade monetária tem mais iniciativas na manga caso seja necessário.
“Estamos sempre olhando para ver o que precisa fazer”, afirmou.
Em relação às grandes companhias, que ainda não foram contempladas por uma iniciativa de vulto, Campos Neto afirmou que o governo analisa dois tipos de programa. O primeiro envolve dívida, com as empresas podendo alavancar em cima do aporte do governo, num modelo de “first loss” (primeiras perdas).
Mas ele ponderou que para alguns negócios e setores isso não seria o mais adequado em função de um quadro de endividamento já alto.
“No final das contas, você deixar a empresa altamente endividada distorce a estrutura de capital”, disse.
Para esse grupo, o BC se debruça sobre algo que envolva “algum conversível”, prosseguiu Campos Neto, em referência à possibilidade de os recursos injetados em auxílio serem posteriormente convertidos em ações nas empresas.
“O que está sendo feito para as maiores está nessas duas linhas, de first loss e alguma coisa com equity”, resumiu.
Para as empresas menores, com faturamento anual abaixo de 360 mil reais, ele disse que o governo está pensando em “vários programas”, destacando eventual utilização das maquininhas de cartão para concessão de crédito, sem dar mais detalhes a respeito.
O presidente do BC afirmou que a opção por contemplar primeiro as pequenas e médias empresas, com faturamento entre 360 mil reais e 10 milhões de reais, veio após testes de estresse mostrarem resultado que “não foi muito bom” para esse segmento na crise, com consequências que poderiam drenar “liquidez do sistema bancário relativamente grande”.
Por isso, o governo lançou o programa de financiamento a folha de pagamento apenas a esse público. Inicialmente o BC pensou em uma ajuda maior, mas entendeu que os 40 bilhões de reais efetivamente destinados ao plano eram adequados, disse Campos Neto. Destes, 34 bilhões de reais serão aportados pelo Tesouro e 6 bilhões de reais, pelos bancos.
“Entre 45% e 50% do custo operacional das pequenas e médias era folha de pagamento, fazia sentido ir nessa direção, dado que preservaria emprego”, justificou.
Ele disse que a opção por compartilhar riscos com o setor financeiro –responsável por 15% do risco de inadimplência– se deu porque o governo não sabe recuperar crédito e essa foi uma forma de criar um incentivo para que os bancos tivessem interesse na tarefa.
Suavizar ciclo
Durante sua fala, Campos Neto também pontuou que o governo vai disponibilizar um banco de dados com tudo que for feito no âmbito do enfrentamento aos impactos da pandemia, com o detalhamento das empresas que forem beneficiadas.
Ele frisou que a crise atual é muito difícil de ser quantificada e reconheceu que o crescimento econômico brasileiro deve ser negativo neste ano, mas reiterou a importância de o governo ressaltar que as medidas temporárias adotadas representam um desvio de um caminho que será perseguido novamente depois, com a busca pelo equilíbrio fiscal.
De acordo com Campos Neto, a função do governo é “suavizar” o ciclo, não deixando haver “nenhuma ruptura” e sempre de olho nos setores mais prejudicados.
“Alguns nessa crise vão ser perdedores, vão ter mais impacto do que outros. Governo vai tentar fazer medidas para que isso seja da forma mais linear possível”, afirmou.
Em relação às instituições financeiras, Campos Neto ponderou que a atual crise por conta do Covid-19 vai gerar entendimento diferente sobre o papel dos bancos e seu capital.
“Não tem como apertar mais capital, acho que isso é coisa que vai mudar”, disse.
Ele fez um apelo para que a crise seja transformada em oportunidade de avançar com as reformas, mas ressaltou ser óbvio que o momento agora é de lidar com as medidas emergenciais.
“Essa atitude em relação às reformas, uma vez passado período mais de crise, é que vai determinar o formato da nossa recuperação.”