Airbus tem vantagem sobre Boeing em grande encomenda da China
O tão esperado acordo comercial entre EUA e China pode abrir caminho para a Boeing retomar as vendas no segundo maior mercado de aviação do mundo, mas a gigante americana ainda está longe de se equiparar à arquirrival europeia Airbus.
A China Aviation Supplies Holding, que compra aviões em nome das companhias aéreas do país, vem conversando com a Airbus desde 2019 sobre a compra de jatos para o plano econômico quinquenal que começa em 2021, de acordo com pessoas familiarizadas com as negociações, que pediram anonimato porque o assunto é particular.
Segundo uma das pessoas, as conversas começaram no início do ano passado.
O principal órgão de planejamento econômico da China precisa aprovar negociações dessa magnitude, mas sequer autorizou a estatal de compras a iniciar conversas com a Boeing porque as tensões comerciais atrasam as discussões, disse a fonte.
Isso significa que a companhia sediada em Chicago está pelo menos meses atrás da Airbus no processo de assegurar encomendas da China. A Boeing estima que o país precisará de mais de 8.000 aviões nas próximas duas décadas.
A Boeing ainda tenta se recuperar desde que o campeão de vendas 737 Max foi proibido de voar. Em meio à crise, o número de entregas da companhia foi menos da metade do da Airbus no ano passado, configurando sua maior derrota durante os 45 anos de duopólio do setor.
O presidente Dave Calhoun se mostrou otimista com a continuidade do bom relacionamento entre a Boeing e a China, na quarta-feira. Um representante da empresa se recusou a fazer comentários adicionais.
A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, que é o principal órgão de planejamento econômico da China, e a China Aviation Supplies não retornaram imediatamente os pedidos de comentário da reportagem. A Airbus se recusou a comentar.
A situação da Boeing pode melhorar. Dentro da Fase Um do acordo comercial, aviões entraram na lista dos US$ 200 bilhões que a China prometeu comprar em produtos americanos, porém não foram divulgados detalhes.
É improvável que a China deixe de comprar da Boeing totalmente porque o país historicamente dividiu suas encomendas igualmente entre as duas grandes fabricantes. Além disso, a Airbus não tem capacidade suficiente para atender a todas as necessidades da China e uma mudança tão drástica exigiria o retreinamento de milhares de pilotos.
As tensões comerciais atrapalharam os esforços da Boeing para aproveitar a demanda crescente no país que deve se tornar o maior mercado de aviação do mundo nos próximos anos. A China precisará gastar US$ 2,9 trilhões em novas aeronaves e serviços terrestres nas próximas duas décadas, conforme previsões apresentadas pela Boeing em setembro.
As conversas com a Airbus são independentes de um compromisso já anunciado pela China de comprar US$ 35 bilhões em jatos da empresa sediada em Toulouse, segundo os entrevistados.
A China foi a primeira a proibir o 737 Max de voar e por lá, compras de aviões precisam ser autorizadas por reguladores antes que a China Aviation Supplies se encarregue do processo. Frequentemente, Boeing e Airbus registram essas vendas como vindas de clientes não identificados e fazem a identificação ao longo do processo de aprovação.