Ainda é tempo de Cosan (CSAN3)? A visão dos analistas para a holding no 3T24
A Cosan (CSAN3), controladora da Raízen (RAIZ4), Rumo (RAIL3) e Compass, viu seu lucro líquido cair 57% no terceiro trimestre de 2024 (3T24), em 293 milhões. No ano, a ação recua 41.21%.
A alavancagem financeira da companhia terminou setembro em 2,9 vezes, acima do nível de 2,7 vezes do segundo trimestre e da 1,7 vez de setembro de 2023.
De acordo com o BTG Pactual, a empresa deu sequência em seu processo de administração de ativos e passivos, focando na extensão de prazos, redução da dívida bruta e diminuição dos custos da dívida.
“A Cosan eliminou todas as maturidades de dívida até 2026, garantindo praticamente nenhuma preocupação de liquidez de médio prazo. Acreditamos que a empresa pode estar perto da máxima eficiência possível com suas ferramentas atuais e, com as recentes mudanças na equipe executiva, não descartamos movimentos inorgânicos no futuro próximo”, apontam Pedro Soares,
Embora a cobertura de juros tenha permanecido razoável em 1,2x dividendos LTM (últimos 12 meses) no 3T24, vale ressaltar que foram impulsionados por dividendos extraordinários, provenientes principalmente da Compass.
Nos próximos trimestres, os custos da dívida podem superar os dividendos recebidos, a menos que a Cosan aumente outras fontes de liquidez.
Há um desconto para Cosan?
Em relatórios recentes, o BTG aponta que as ações da Cosan estão sendo negociadas com um dos maiores níveis de desconto de holding registrados (atualmente em 35%).
No entanto, dado o ambiente macroeconômico desafiador, com taxas de juros novamente em alta, os analistas acreditam que esse desconto só diminuirá com ajustes na estrutura de capital da empresa e um fluxo mais consistente de dividendos. Segundo o BTG, ajustes de portfólio — como a venda de ativos não essenciais para reduzir a alavancagem — seriam muito bem-vindo, enquanto a aprovação do novo programa de recompra de ações parece estranha.
“Não esperamos que a Cosan aloque muito capital nisso (recompra de ações) até que as preocupações com a alavancagem sejam resolvidas. Mantemos nossa recomendação de compra (preço-alvo de R$ 23 e potencial de alta de 103,54%) com a esperança de que o senso de urgência demonstrado nos últimos meses prevaleça na agilidade para resolver a estrutura de capital que a gestão experiente da Cosan demonstrou ao longo dos anos”.
A alavancagem como ponto crítico
Para Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, a alavancagem financeira, ponto crítico da tese de investimentos, ficou estável no nível da holding, mas o índice de cobertura de juros caiu em função dos menores dividendos recebidos das subsidiárias, principalmente devido à queima de caixa na Raízen.
“Fica claro que a companhia está com a geração de caixa pressionada pelo endividamento elevado. Entretanto, isso já foi percebido, o que pode ser notado em movimentos recentes. A Cosan estendeu o prazo de pagamento da dívida da holding, que soma R$ 24 bilhões e tem a próxima amortização prevista somente para 2027, além de ter um custo menor (CDI+1,37%, versus CDI+1,41% anteriormente). Além disso, a Radar vendeu a Fazenda Vista Alegre, o que pode ter ajudado no pagamento de dividendos da Cosan”, explica.
Com isso, a analista vê os movimentos com bons olhos, mas acredita que uma recuperação da ação está dependente de uma redução mais drástica da alavancagem, que virá provavelmente com:
- o retorno da geração de caixa na Raízen;
- venda de ativos maiores, que permitiriam redução relevante da alavancagem.
“A Cosan anunciou uma recompra de até 10% das ações em circulação com prazo em maio/2026, somando R$ 2,4 bilhões, o que chama a atenção diante da elevada alavancagem. Entretanto, isso pode ser um sinal de que a companhia pretende vender algum ativo grande, o que seria bom. Por ora, estamos dando o benefício da dúvida”.
CSAN3: Bank of America mantém compra
Embora o Bank of America compartilhe da preocupação dos investidores sobre a alavancagem da holding e ao retorno sobre os investimentos recentes, em meio ao aumento das taxas de juros no Brasil, o banco enxerga a Cosan como uma sólida holding de longo prazo.
“Acolhemos as iniciativas da administração para otimizar as operações dos ativos subjacentes, reduzir a exposição à Vale ao desfazer a estrutura de colar e melhorar a cobertura de juros. A recente reorganização da administração também traz maior foco nessas iniciativas em todo o portfólio de empresas, em nossa opinião. Finalmente, o desconto para SOTP (Soma das Partes) em 15% fornece suporte de avaliação. Mantemos nossa recomendação de compra (preço-alvo de R$ 2)”, diz Isabella Simonato e Julia Zaniolo.