Justiça

AGU diz ao STF que Bolsonaro quer depor presencialmente em inquérito sobre interferência na PF

06 out 2021, 15:12 - atualizado em 06 out 2021, 15:39
Alexandre de Moraes
A manifestação da AGU foi lida pelo ministro do STF Alexandre de Moraes no início da sessão desta quarta-feira (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Em uma inesperada mudança de posição, a Advocacia-Geral da União (AGU) informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira que o presidente Jair Bolsonaro tem interesse em depor presencialmente no inquérito que investiga se ele interferiu nos trabalhos da Polícia Federal.

A manifestação da AGU foi lida pelo ministro do STF Alexandre de Moraes no início da sessão da corte nesta quarta.

Com isso, Moraes decidiu suspender o julgamento do recurso que iria decidir o formato do depoimento de Bolsonaro –que estava pendente de apreciação há quase um ano, desde a aposentadoria do ministro Celso de Mello.

“Vou solicitar a suspensão do julgamento e a retirada, porque acabei de receber uma petição protocolada pelo AGU em que Vossa Excelência, em nome do presidente, ‘manifesta perante esta Suprema Corte o seu interesse em prestar depoimento em relação aos fatos objetos deste inquérito mediante comparecimento pessoal'”, leu Moraes.

O presidente do STF, Luiz Fux, concordou com a retirada do processo da pauta de julgamentos.

Caberá a Moraes decidir se aceita a nova posição de Bolsonaro, considerando assim prejudicado o recurso que iria a apreciação dos ministros em plenário. Ainda também terá de ser decidido se Bolsonaro será ouvido pelo ministro do STF ou pela Polícia Federal.

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Prerrogativa

Na manifestação ao Supremo, obtida pela Reuters, o advogado-geral da União, Bruno Bianco, pediu que seja garantida a possibilidade de se agendar a data, o local e a hora do depoimento, conforme o Código de Processo Penal, diante da prerrogativa para compatibilizar o “pleno exercício das funções de Chefe de Estado e do seu direito de defesa na ocasião da prestação de depoimento em modo presencial”.

A questão sobre o depoimento de Bolsonaro estava pendente havia cerca de um ano, quando Celso de Mello se posicionou pelo depoimento presencial do presidente.

A defesa de Bolsonaro queria inicialmente que ele fosse dispensado de depor ou o fizesse por escrito, se fosse necessário.

O inquérito foi aberto no final de abril de 2020 por Celso de Mello, então relator do caso no Supremo a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras. Essa foi a primeira investigação contra Bolsonaro no exercício do mandato das cinco a que ele responde no STF e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Recentemente, Moraes determinou que a Polícia Federal retomasse a investigação sobre se Bolsonaro tinha tentado interferir no comando da Polícia Federal, mesmo sem ter havido uma definição a respeito do formato do depoimento.

O inquérito já ouviu uma série de autoridades, entre elas o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, autor das acusações de que o presidente teria buscado interferir na corporação.

A mudança de postura de Bolsonaro também ocorre após uma redução dos embates dele com a cúpula do Judiciário.