O agronegócio pode ser a esperança para tirar a Argentina do buraco?
Para aqueles que enxergam o cenário macroeconômico apenas através do prisma futebolístico, a Argentina pode parecer estar vivendo o melhor momento da sua história, pouco mais de 10 meses da conquista da sua terceira Copa do Mundo.
No entanto, a inflação no país acumulou expressivos 138,3% ao ano até setembro, sendo que no próximo domingo (22) os ‘hermanos‘ vão às urnas para votar no primeiro turno pelo novo presidente da nação.
Em 2022, os argentinos, que respondem pela terceira maior produção de soja do mundo, atrás apenas do Brasil e Estados Unidos, sofreram com uma grande seca que resultou em uma redução de 51,5% na produção da oleaginosa no país.
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Dessa forma, a safra 2022/2023 da Argentina ficou em 21 milhões toneladas, menor volume em 20 anos.
Segundo o governo do país, essa quebra deve resultar em uma queda de 3% no Produto Interno Bruto (PIB), que equivale a US$ 20 bilhões (R$ 100,79 bilhões).
Agronegócio pode ser solução para Argentina?
Para a safra 2023/2024, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires projeta um avanço de 138% na safra de soja depois da forte seca. Já a safra de milho do terceiro maior exportador do mundo, deve crescer 61%.
Na visão de Felippe Serigati, professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP) e pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV (FGV Agro), apesar da importância do agronegócio, o setor não será suficiente para uma expressiva retomada econômica do país.
Por outro lado, ele diz que fica claro que a partir da recuperação do agronegócio, a Argentina tem um respiro maior. “Com a quebra da safra no último ciclo, vimos o país com uma completa escassez de dólares, tendo de criar diversas taxas de câmbio para reter a moeda dentro do mercado interno, além de uma forte disparada na inflação”, explica.
“O agro é importante, mas não consegue sozinho tirar o país do buraco”, ressalta.
Serigati diz ainda que a Argentina é a nação da América do Sul que mais tributa sua produção agropecuária. “Por mais que isso tire a competitividade das exportações do país, o governo depende dessa receita para fechar as suas contas que estão sendo acertadas por meio da impressão de moedas, o que explica essa inflação de três dígitos”, pontua.
Eleições
Para Leandro Gabiati, doutor em ciência política pela Universidade de Buenos Aires, o agronegócio também funciona como o motor econômico para Argentina, assim como é para o Brasil.
Por outro lado, a melhora econômica do país passa pelas eleições de domingo, segundo análise de Gabiati.
“A Argentina precisa de dólares e eles só virão através dos produtores rurais se houveram condições atrativas, incentivos, para que eles insiram dólares na economia. A balança comercial do país depende muito do tamanho da safra, mas o controle da inflação dependerá justamente do novo plano econômico que será definido”, finaliza.
O candidato ultraliberal Javier Milei, o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, e a candidata conservadora Patricia Bullrich disputam o pleito.