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Agronegócio brasileiro adere à energia solar e vê oportunidade de substituir diesel

05 fev 2025, 11:26 - atualizado em 05 fev 2025, 11:26
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O agronegócio brasileiro vem ampliando a geração de energia solar para reduzir custos e começa a testar baterias para substituir o diesel. (Imagem: Vivo/Divulgação)

O agronegócio brasileiro vem ampliando a geração própria de energia solar para reduzir custos e começa a testar a integração da fonte renovável com baterias, uma nova fronteira tecnológica que permite estabilizar o suprimento elétrico nas fazendas, avançar com ampliações de capacidade produtiva e reduzir o consumo de diesel, disseram produtores e especialistas à Reuters.

A busca do agro por baterias pode ajudar a dar impulso no nascente uso da tecnologia no Brasil, tanto em grandes projetos, com a expectativa de um leilão para integração no setor elétrico, quanto em pequena escala, com a regulamentação pela agência reguladora Aneel para uso de baterias por consumidores.

Empresas que fornecem soluções de energia, como a WEG (WEGE3), afirmam que o interesse de produtores rurais por sistemas de armazenamento se intensificou nos últimos meses e deve se consolidar neste ano, com projetos começando a sair do papel após a forte queda recente dos custos das baterias.

A classe rural responde hoje por aproximadamente 14% de toda a potência instalada solar no Brasil, com 4,8 gigawatts (GW) distribuídos em pequenas instalações fotovoltaicas, muitas vezes construídas em telhados ou terrenos sem uso.

A capacidade solar no agro cresceu mais de sete vezes desde 2020, quando a fonte renovável deslanchou em todo o país, enquanto o número de unidades consumidoras atendidas no meio rural saltou de 54 mil naquele ano para 471 mil ao final de 2024, conforme levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

São diversas aplicações para a solar no campo, desde suprir energia para irrigação de lavouras até climatização e iluminação de granjas, bombeamento de água para reservatórios e alimentação de câmaras frias.

Se antes a solar era visada principalmente pela economia considerável na conta de luz, em função dos incentivos tarifários dados à fonte, agora os agricultores estudam sofisticar suas instalações, agregando baterias como backup para estabilizar o suprimento de energia em áreas onde a rede elétrica tem condições mais precárias.

O grupo Bom Futuro, importante produtor de grãos em Mato Grosso, é um dos que avaliam a adoção da nova tecnologia, apostando na redução de perdas produtivas causadas por falta de energia, entre outras vantagens.

“Quando estou com uma algodoeira em produção e tem queda de energia, ocorre ‘embuchamento’, todo aquele produto que estava na linha de produção trava, tranca o processo… Vamos dizer que a energia caia por 15 minutos, vou demorar até duas horas para retomar a produção novamente”, exemplifica Lívio Costa, gestor do setor de energia da Bom Futuro.

“Isso não acontece só uma vez, ocorre algumas vezes durante a safra. Então existe uma perda considerável de capacidade produtiva”, acrescenta.

A Bom Futuro investe há anos em geração própria de energia, por ter consumo mais elevado em processos como secagem e armazenagem de grãos e beneficiamento de algodão. O parque gerador da empresa soma cerca de 200 MW de capacidade, principalmente em pequenas usinas hídricas, mas a solar vem ganhando espaço nos últimos anos.

Costa aponta que, “possivelmente para 2025”, a expectativa é implementar algum case de baterias integradas à solar na Bom Futuro, para avaliar o desempenho e “escalar”.

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Menos diesel

A aplicação das baterias como backup também tem potencial para reduzir o consumo de diesel nas fazendas, que usam geradores movidos ao combustível fóssil para garantir energia para irrigação ou máquinas em áreas rurais onde a rede elétrica das distribuidoras não chega.

A WEG vem buscando negócios no nicho do agro para seus sistemas de armazenamento de energia fabricados no complexo de Jaraguá do Sul (SC), aproveitando que muitos produtores já são clientes em motores e outros equipamentos, conta Harry Schmelzer Neto, diretor de negócios Solar & Building.

“A bateria não entra no agronegócio já tirando o diesel, ela entra fazendo uma tríplice: diesel, solar e bateria… Tem lugares que o produtor usa direto o diesel, durante o dia não desliga… A viabilidade (dessa solução) está explodindo.”

“Acreditamos que a transição passa por soluções híbridas com o gerador diesel. O pessoal já está acostumado, o equipamento já está lá e realmente funciona”, explicou, estimando que os sistemas híbridos são capazes de reduzir em até 30% o consumo de diesel das fazendas.

Entre os locais com maior aderência para esse tipo de solução de solar com baterias, produtores e especialistas citam principalmente os Estados do “Matopiba”, fronteira agrícola que compreende Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

“Pará ainda tem bastante instabilidade (da rede elétrica), no interior da Bahia tem áreas com muitas fazendas e algumas inclusive 100% com gerador a diesel… Aqui no Mato Grosso, a maioria das fazendas têm geradores a diesel para suprir qualquer necessidade de queda de energia”, apontou Alexandre Sperafico, um dos fundadores da Enerzee, empresa de soluções de energia que se especializou em atender clientes do agro.

Aumento do consumo

Sperafico destacou que os produtores também estão buscando a integração de solar com baterias para viabilizar ampliações de capacidade produtiva ou mesmo de seus sistemas solares quando a rede da distribuidora de energia está saturada.

“Muitas empresas têm problemas para ampliar o consumo, a distribuidora às vezes não tem mais esse espaço. Às vezes a empresa quer ampliar ou construir uma fábrica e vai ter que esperar um ano, dois, para ter energia. Isso já conseguimos solucionar hoje”, afirma o fundador da Enerzee.

“Mato Grosso tem sim um problema de distribuição de energia… por ser um Estado em desenvolvimento, desenvolvendo acima da média nacional há vários anos seguidos, a situação da rede elétrica, ela não consegue acompanhar tanto”, observou Costa, da Bom Futuro.

A Calcário Mato Grosso, que produz calcário agrícola em Nobres (MT), tem instalado perto de 1,4 MW em sistemas fotovoltaicos para suprir seu consumo, mas não consegue ampliar a capacidade solar por limitação da rede elétrica local.

“Se quisermos aumentar, vamos ter que partir para baterias mesmo… Estamos orçando, hoje o preço não está viabilizando, mas estamos estudando para ver se conseguimos viabilizar. É muito novo, a tendência é baratear”, disse Kassiano Riedi, diretor de produção e fundador da empresa de calcário.

O presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia, destacou ainda o aspecto ambiental das novas soluções, que ganham destaque em meio à preocupação do segmento em reduzir emissões e agregar processos mais sustentáveis e limpos.

“O agro tem o desafio da sustentabilidade, e a energia solar agrega para essa percepção de responsabilidade ambiental… Com a energia solar, e usando baterias, os produtores ganham mais autonomia e independência com agilidade, sem esperar a distribuidora”, avaliou Sauaia.

reuters@moneytimes.com.br