Agrolend aposta no ‘zap’ do produtor rural e projeta multiplicar por seis sua carteira de crédito em cinco anos
Depois de fechar a captação de R$ 300 milhões em uma das maiores rodadas de investimento da história do agro brasileiro, a A Agrolend, que se define como um banco digital do agronegócio, que multiplicar por seis sua carteira de crédito nos próximos anos, contando para isso com uma estrutura de capital sólida e processos menos burocráticos para o produtor rural.
A instituição atualmente conta com uma carteira de crédito de R$ 500 milhões. “Temos uma alavancagem de certa forma conservadora, de 5 vezes. Então, podemos chegar a R$ 3 bilhões em carteira ao longo dos próximos 5 anos. O nosso ticket médio gira em torno de R$ 350 mil por produtor rural, o que deixa nosso modelo bastante eficiente do ponto de vista de custos”, afirma Alan Glezer, co-fundador da Agrolend juntamente com seu irmão André, e CFO (diretor Financeiro) da companhia.
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A Agrolend, que tem o produtor rural como seu principal cliente, tem dado maior atenção para revendas e fabricantes de insumos agrícolas, o que vai se intensificar após a nova captação.
“Oferecemos um produto simples através da CPR (Cédula do Produtor Rural) financeira, sem garantia real, que é uma linha mais ágil. Oferecemos um prazo safra, para seguir o ciclo do produtor. Eu acho que a experiência 100% digital, tudo no WhatsApp, é algo inovador do nosso lado”, vê.
“Entraram cinco sócios novos na empresa que adquiriram um pedaço do negócio. Já temos uma base de capital distribuída. O nosso maior acionista hoje na empresa inteira, individualmente, tem 15% do negócio“, comenta André, que é CEO da Agrolend.
Fundada em dezembro de 2020, a empresa tem como foco fornecer crédito a produtores de pequeno e médio porte para compra de insumos agrícolas, por meio de um processo menos burocrático, a partir do WhatsApp.
“Financiamos essa compra em um modelo 100% digital. Toda experiência é feita via celular. Um modelo bem rápido, digital, sem burocracia. A experiência acontece dentro do WhatsApp, que é basicamente o meio de comunicação dos produtores rurais. Estamos desde o Sul do Brasil, Sudeste e Centro-Oeste, mais focado no Mato Grosso do Sul e em Goiás, e um pouco menos em Mato Grosso, dado que os produtores são maiores por lá. Também estamos na fronteira do agro em Rondônia, Tocantins, nordeste do Pará e Maranhão”, diz Alan Glezer.
O financiamento da Agrolend ocorre através da captação de Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), tendo o BTG Pactual, XP Investimentos e Nubank como parceiras.
Irmãos no comando
Os irmãos são formados em engenharia na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e contam com experiência dentro do mercado financeiro.
Enquanto André trabalhou na parte de M&A na IGC Partners e Private Equity na Arlon, investindo no agronegócio, Alan começou sua carreira na Spinnaker Capita, um head fund global de mercados emergentes, tendo morado 5 anos em Singapura.
Após voltar ao Brasil, Alan trabalhou na Mauá com Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central, e com João César Tourinho, que foi tesoureiro do Safra. Após isso, o empresário também atuou na área de research do Bradesco BBI cobrindo os setores de mineração, siderurgia e papel & celulose, além de gestoras independentes.
“Esse é basicamente o nosso perfil. Temos outros três sócios, co-fundadores da Agrolend. A Valéria Bonadio é COO, com uma bagagem forte no mercado mais do lado financeiro. O Léo (Leopoldo Vettor), CTO, também com muito conhecimento em tecnologia voltada ao mercado financeiro, e o Carlos Fagundes, CSO, que conhece muito a indústria e o crédito para o agronegócio. Perfis bem complementares”. diz Alan.
“Somos inovadores nesse segmentos, tendo em vista que somos o primeiro banco digital que está endereçando as necessidades do agronegócio, dos produtores rurais“, completa.
‘Quem não entende a característica cíclica do agronegócio não pode operar no setor’
Apesar do momento atual de margens comprimidas no agronegócio, que acarretou no aumento da inadimplência e a recuperação judicial (RJ) de empresas como o Agrogalaxy (AGXY3) e Portal Agro, o CFO da Agrolend não enxerga uma crise e sim um período de vacas magras.
“Nós sempre tivemos um entendimento claro que o setor é cíclico. Você tem anos de vacas gordas e outros de vacas magras, sempre foi assim e sempre vai ser. Quem não entende a característica cíclica do agro, não pode operar nesse setor. Pensando nas RJ’s, precisamos entender que é uma parcela muito pequena da população de produtores rurais do Brasil, e esse ciclo está mais concentrado em produtores rurais enormes, diferente do nosso foco, que são os de médio porte, para os quais a RJ não se justifica, não é financeiramente viável”.
Em relação a RJ da AgroGalaxy, Alan explica que a empresa emprestou dinheiro a produtores rurais que eram clientes do AgroGalaxy, não estando exposta diretamente à empresa.
“A nossa exposição está em produtores rurais muito bem selecionados, com um motor de crédito super criterioso, que filtrou bem. Além disso, a gente tinha o aval da AgroGalaxy, que agora nós perdemos, mas também temos o aval de uma indústria. A primeira operação era direto com o produtor rural, não tem a ver com a empresa, e ele tem que pagar. Se ele não pagar, acionaríamos a AgroGalaxy. E, agora que não temos mais o AgroGalaxy, podemos acionar o terceiro elo da cadeia, que é a indústria. É um choque, mas o agronegócios vai se reequilibrar”.
A Agrolend enxerga uma grande alavancagem entre os players de insumos e entende que as empresas do segmento não são eficientes para ter esse nível de dívida.
“Isso deveria ser feito por instituições financeiras. Nós estamos aqui para cumprir essa função. O nosso objetivo é reduzir o nível de risco que hoje se tem dentro dessa cadeia com os distribuidores ultra alavancados. Estamos pouco alavancados, com mais capital agora, prontos para endereçar as necessidades que estão por vir”.
Para os irmãos Glezer, o agronegócio está em um período de transição no que diz respeito ao crédito. “No longo prazo, você precisa de um banco digital para atender esses clientes. Até agora, eles foram atendidos pelo Banco do Brasil (BBAS3) de uma forma basicamente monopolista, já que os bancos privados entraram de forma tardia neste segmento”.
Alan Glezer ressalta que as linhas do Plano Safra são insuficientes para atender os produtores e classifica a situação fiscal do Brasil como péssima.
“Qualquer aumento no Plano Safra tem um impacto negativo no fiscal. Não dá para continuar crescendo o programa da forma como foi feita no passado, tendo em vista a situação fiscal atual”.
“Vale destacar que o Plano Safra foi muito bem desenhado, servindo para trazer o agronegócio para a relevância que tem hoje. Ainda assim, acredito que poderíamos ter algumas melhoras, como mais flexibilidade em alguns tipos de linha”, diz Alan Glezer.