Agrion vislumbra IPO, novas parcerias e quer lançar 2 fábricas por ano nos próximos 10 anos
“Olhamos para associações estratégicas ou mesmo um IPO (Oferta Pública Inicial). Vemos crescer muito nos próximos 7 anos”, vê Ernani Judice, CEO e fundador da Agrion Fertilizantes, que firmou na semana passada um acordo de investimento de R$ 250 milhões com a gestora americana Pegasus Capital Partners.
Aportados pelo Global Fund for Coral Reefs, fundo que apoia investimentos que beneficiam habitats marinhos costeiros e a saúde dos recifes de coral no Sul Global. os recursos serão utilizados na construção de dez novas fábricas de fertilizantes especiais e no desenvolvimento de outros produtos. O fundo americano tem como principal cotista o Green Climate Fund da ONU (Organização das Nações Unidas). A Agrion espera se aproximar cada vez mais do “esteira global ESG da ONU” a partir do acordo.
Para Judice, o grande diferença da companhia se dá pelo seu modelo de negócio, com a primeira unidade industrial nascendo junto à Companhia Bioenergética da Aroeira, em Minas Gerais, onde a Agrion produz cerca de 60 mil toneladas de fertilizantes. A empresa produz seus biofertilizantes e fertilizantes organominerais dentro das usinas, onde os subprodutos (matérias-primas) são gerados.
“O nosso plano de expansão é muito focado nas usinas porque elas garantem fornecimento por 10 anos dos subprodutos orgânicos. Nós usamos a torta de filtro, que é um resíduo do processo, para a produção do fertilizante organomineral sólido, e usamos também a vinhaça, que é um subproduto líquido do processo deles para a produção dos fertilizantes organominerais líquidos. Recebemos a energia da queima do bagaço e agora no caso dessa primeira unidade vamos receber o biometano da biodigestão da vinhaça. O único produto que vem de fora fica por conta do NPK (Nitrôgenio, Fósforo e Potássio), fertilizante mineral, que o Brasil importou 86% do total consumido em 2023”, diz Judice.
Novas fábricas
Segundo o CEO, o processo produtivo faz com que seja usado menos fertilizantes minerais e mais orgânicos e biológicos, com uma produção eficiente e maior produtividade, com custos e logística otimizados por estarem dentro da usina. Os produtos da Agrion são destinados, principalmente, para cultivos como café, hortifrutis, soja, milho e feijão.
“Temos um pipeline bem extenso de projetos para realizar. O nosso plano é levantar 20 unidades em dez anos, mas focados principalmente em ter mais 10 fábricas nos próximos cinco anos, e duas delas lançadas ainda este ano. Estas ficarão no estado de São Paulo, mas também vamos construir em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Nordeste”, aponta.
Para a primeira fábrica, foi emitido um CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) de R$ 28 milhões, com cada unidade tendo um investimento na ordem de R$ 30 milhões. A ideia da Agrion não é construir novas fábricas através de dívidas, mas também combinar capital de novos investidores com recursos próprios para reduzir custo de captação e risco. Cada unidade deve gerar em torno de 60 empregos. Além das usinas sucroalcooleiras, a Agrion busca parcerias com a indústria de papel e celulose, assim como confinamento de bois.
“Cada região e cada planta tem uma flexibilidade de tamanho. Podemos ter um módulo com 50, 60 ou 80 mil toneladas de produção. Podemos também escolher produzir mais organominerais sólidos ou líquidos, a partir da análise comercial de cada região que vamos entrar com a planta. Temos essa flexibilidade, podendo ajustar esse ‘mix’, algo feito pelas usinas sucroalcooleiras com açúcar e etanol, sendo que esse processo das usinas também nos impacta, já que com mais açúcar gera menos vinhaça”.
Gargalos, menos químicos e possível IPO
Apesar do agronegócio pujante do Brasil, o país ainda depende muito das importações de fertilizantes, tendo importado o volume recorde de 39,439 milhões de toneladas no ano passado, um crescimento de 14% ante 2022, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).
O CEO da Agrion ressalta que o mercado brasileiro de fertilizantes é gigantesco, em torno de 45 milhões de toneladas e R$ 150 bilhões por ano. No entanto, altamente dependente das importações, com composições que não são adaptadas para a agricultura tropical, e que se perdem muito facilmente em solos arenosos e com chuvas. Ele ressalta que 60% dos fertilizantes químicos que são inseridos nos solos do Brasil são perdidos, que resulta na contaminação dos lençóis, chegando aos mares e destruindo a vida marinha.
‘É fundamental alimentarmos nosso solo com matéria orgânica. A transição dos minerais para soluções orgânicas, biológicas e organominerais acontece após esse pico dos preços do NPK com a guerra da Rússia (maior produtor e exportador do conjunto NPK) e Ucrânia. Substituímos o NPK por um organomineral mais eficiente, para reduzir cada vez mais o uso de químicos. É preciso reduzir essa dependência das importações não só com investimentos na produção, mas com tecnologias novas”.
Para um possível IPO, Judice espera que o mercado brasileiro esteja mais “solto”, já que ele enxerga um ambiente atual muito travado para uma abertura da capital. “O IPO é uma possibilidade porque algumas grandes empresas não estão nesse segmento e nós estamos consolidando com contratos de longo prazo, com garantias, com unidades descentralizadas em várias regiões. Acredito que vamos ter um modelo nacional muito bem posicionado”.
Quando perguntado sobre o Plano Nacional de Fertilizantes do Governo Federal, que busca reduzir a dependência externa, disse que não espera soluções e costuma “pedir” pouco por parte do poder público. “Nós como empreendedores temos que fazer nossa parte, construir tecnologias e encontrar formas de torná-las viáveis economicamente”.