Agricultores nordestinos estão à margem da modernização tecnológica
A participação das lavouras temporárias do Nordeste alcançou 7% da produção agrícola brasileira em 2017, o que indica queda frente a 2006, quando atingiu 15,5%.
A comparação, feita a partir de dados dos dois censos agropecuários mais recentes, consta de estudo divulgado, neste mês, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Além de um diagnóstico mais atual da atividade agrícola da região, a publicação ‘Agricultura Nordestina: Análise Comparativa entre os Censos Agropecuários de 2006 e 2017’ avalia, entre outros aspectos, o uso das inovações tecnológicas, uma vez que influencia diretamente a produtividade das lavouras.
O estudo examinou a evolução da agricultura nordestina, em especial, da agricultura familiar que responde pela maior parte dos estabelecimentos agropecuários na região, sob a ótica da estrutura fundiária, da produção agrícola e do uso de insumos tecnológicos, como adubos, agrodefensivos, irrigação, mecanização e orientação técnica.
Trata-se de uma publicação, elaborada pelos pesquisadores César Nunes de Castro e Caroline Nascimento Pereira, ambos na Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur/Ipea).
Castro informou que já havia feito um estudo similar baseado no Censo Agropecuário de 2006.
“Com a divulgação em 2019 do Censo Agropecuário de 2017, foi possível fazer uma comparação entre ambos e verificar o que mudou em relação ao censo de 2006”, disse.
Segundo o pesquisador, muitos dos produtores rurais da região Nordeste, que em maioria são agricultores familiares, estão à margem do processo de modernização tecnológica.
Ele explicou que a região se distingue pelas peculiaridades do semiárido, falta de infraestrutura, dificuldades de acesso a crédito e assistência técnica, além da escassez hídrica.
Especificamente quanto ao uso de insumos agrícolas, a avaliação dos dados revela uma menor intensidade no Nordeste, onde 30,3% dos estabelecimentos cultivam suas lavouras com adubação, frente a 42,3% no total do Brasil.
“A dificuldade de acesso e uso de tecnologias mais modernas, por falta de informação, orientação ou condições financeiras, reflete em menor produtividade e rentabilidade para os agricultores da região”, disse Castro.
Os dados do Censo Agropecuário 2017 indicam que poucos estabelecimentos (23,8%) na região utilizam defensivos, poucos possuem tratores (2,3%) e poucos tiveram acesso a algum tipo de assistência técnica, 8,2%.
Das 10,1 milhões de pessoas ocupadas em atividades agropecuárias no Brasil, 46,6% trabalham em mais de 2,3 milhões de estabelecimentos no Nordeste, onde 79% são da agricultura familiar, e ocupam 7,8 milhões de hectares ou 20% da área total cultivada no país.
Somados ao obstáculo tecnológico, esses produtores ainda convivem com desafios históricos, como crédito, acesso à terra, infraestrutura para escoamento e comercialização de produtos.
“A superação desses gargalos pode ser estimulada por formuladores de políticas públicas, tendo em vista a situação de pobreza ou extrema pobreza de muitos agricultores familiares”, concluem os pesquisadores.
Com informações do Ipea