Mercados

Agosto do gringo: dólar mostra resiliência com enxurrada de dinheiro entrando no país enquanto exterior pega fogo

03 set 2022, 14:00 - atualizado em 02 set 2022, 18:02
chuva de dinheiro gringo
Após chuva de dinheiro, especialistas listam motivos que trouxeram mais de US$ 16 bilhões para a bolsa brasileira, em agosto (Imagem: Unsplash/Montagem Felipe Alves)

Apesar de entrar agosto com o pé na porta, o dólar mostrou resiliência ao longo do mês do cachorro louco e chegou a cair R$ 0,30.

Enquanto isso, lá fora, o cabaré pegava fogo em meio às discussões quanto à magnitude da alta de juros nos Estados Unidos, com apostas de um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais “hawkish” (agressivo), elevando a taxa em mais 0,75 ponto percentual (p.p.).

Além disso, sinais de recessão da economia norte-americana e a escalada da inflação global pesavam sobre os ativos. Aqui, contudo, o dólar saiu de R$ 5,31 para R$ 5,00, indo às mínimas em dois meses.

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Chuva de dólares

O que deu suporte para essa queda mais intensa, principalmente no meio do mês, foi uma enxurrada de dólares que entrou no país, dizem analistas.

O fluxo de investidores estrangeiros na bolsa brasileira, a B3, somou R$ 16,3 bilhões no mês passado, o maior montante desde março e o quarto maior do ano.

No acumulado de 2022, o saldo estrangeiro está positivo em R$ 70,1 bilhões, valor recorde.

O diretor de alocações e investimentos da InvestSmart XP, André Meirelles, reforça que o crescimento do fluxo estrangeiro em bolsa contribuiu para o desempenho positivo do real e também do Ibovespa, enquanto as bolsas de Nova York derreteram no mês passado.

Para ele, apesar de o dólar ter encerrado agosto com leve alta, o fato de a moeda ter testado a marca de R$ 5,00 pode ter tido essa influência do maior fluxo estrangeiro. 

“O saldo de aporte estrangeiro na B3 ultrapassou os R$ 16 bilhões. Enquanto o cenário internacional foi marcado por discussões a respeito de juros e um crescimento abaixo do esperado na produção industrial chinesa, nossa economia foi resiliente”, avalia.

Real valorizado

Todo esse movimento do dólar no mercado doméstico levou o real a figurar o segundo melhor desempenho entre as moedas de países emergentes no ano.

A moeda local perde apenas para o rublo russo, que engatou uma recuperação após a forte desvalorização diante os conflitos da Rússia com a Ucrânia, iniciados em fevereiro.

O real acumula valorização perto de 7% no ano. Já a moeda russa avança pouco mais de 19% em relação ao dólar.

“No começo de agosto, houve um fluxo muito positivo para países emergentes e para Brasil. Aqui, chegou a entrar na B3 coisa de R$ 3 bilhões, R$ 4 bilhões por dia”, acrescenta o sócio e analista da Ajax Capital, Rafael Passos.

Peso da balança

O sócio-diretor da Pronto Invest, Vanei Nagem, observa que não apenas entrou fluxo para a renda fixa (juros) e para a bolsa, como também houve um fluxo de exportações “interessante”. 

“Começou a entrar mais [fluxo] nas commodities. Houve muita exportação nesse período e passou a entrar dólar via commodities agrícolas e minério de ferro, principalmente”, comenta.

Tanto é que a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 4,16 bilhões em agosto, segundo o Ministério da Economia. Apesar de acima do esperado, o saldo foi 48% menor em relação ao registrado no mesmo mês de 2021.

O número foi resultado de US$ 30,84 bilhões em exportações, enquanto as importações somaram US$ 26,67 bilhões no período. As vendas externas da agropecuária avançaram 38,4%. Já a da indústria de transformação cresceu 24,8%.

Bolsa barata

O estrategista-chefe da Vitreo, Francisco Levy, avalia que a bolsa brasileira está “super barata”. O que pode explicar essa robustez no fluxo estrangeiro.

A XP diz o mesmo. Segundo os analistas Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, o Brasil continua com um desempenho superior quando comparado aos mercados globais.

“Em relação a renda fixa, as ações brasileiras continuam mais atrativas. O atual nível do prêmio de risco [que compara rendimento de renda variável com as taxas de juros reais], está em 10,2%, superior à média histórica de 5,1%”, destacam.

Levy diz que, em junho, houve um pico de estresse nos ativos locais com a alta do risco-país e um fluxo de notícias negativas. O que derrubou o índice Ibovespa e elevou o dólar em relação ao real naquele mês, ambos em 11%.

E a eleição?

O profissional da Vitreo explica que, em junho, as discussões em torno da política fiscal do país, algumas propostas econômicas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apresentadas pelo PT, e a ampla vantagem do petista nas pesquisas de intenção de votos na corrida eleitoral refletiram em aversão ao risco no mercado local.

“Depois, isso foi sendo atenuado. Os Estados Unidos subiram juros, deixando a nossa taxa [Selic em 13,75%] mais atrativa, e a gente foi vendo a corrida presidencial ficar mais competitiva”, observa.

Isso porque a diferença entre os principais candidatos à presidência da República, o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro, tem diminuído, segundo as últimas pesquisas.

Entretanto, Bolsonaro começou a crescer nas pesquisas e Lula moderou o discurso em relação à pauta econômica e à política fiscal, comenta Levy.

“Isso refletiu em um ‘ufa!’ no mercado e essa “descompressão do medo político” refletiu em uma melhora dos ativos locais e ajudou a trazer mais fluxo estrangeiro”, reforça.

Setembro dos BCs

Setembro promete. Ainda não há dados oficiais da B3 de entrada e saída de fluxo estrangeiro nos primeiros dias do mês.

Porém, o mercado acompanha com lupa as decisões dos bancos centrais ao longo do mês e as respectivas atas das reuniões de política monetária.

Além disso, investidores buscam pistas no indicadores das principais economias globais, sobretudo dos Estados Unidos, para ler o futuro dos juros no mundo.

Aqui, todavia, a atenção sai do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e vai para as eleições. Outubro é logo ali.

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