Opinião

Agora Financial: Quem perde mais?

06 ago 2019, 14:51 - atualizado em 06 ago 2019, 14:51
“Nossos representantes acabaram de voltar da China, onde tiveram conversas construtivas sobre um futuro acordo comercial”, twittou Trump (Imagem: REUTERS/Jason Lee)

Por Agora Financial 

Caro leitor,

Depois que os presidentes Donald Trump e Xi Jinping se reuniram na cúpula do G20 no início do mês passado e concordaram em reiniciar as negociações comerciais, parecia que as tensões com a China iam diminuir um pouco.

Ledo engano.

Menos de uma semana depois, o presidente voltou à ofensiva com a sua metralhadora giratória de caracteres e, em uma série de tweets, acusou a China de desistir do acordo para comprar produtos agrícolas dos EUA…

Ademais, aproveitou a oportunidade e para não ficar apenas nas ameaças, anunciou uma série de novas tarifas sobre produtos chineses.

“Nossos representantes acabaram de voltar da China, onde tiveram conversas construtivas sobre um futuro acordo comercial”, twittou o presidente.

“Nós pensamos que tínhamos um acordo com a China há três meses, mas, infelizmente, a China decidiu renegociar o acordo antes de assinar.”

Essas novas tarifas irão cobrar um imposto de 10% sobre os US $ 300 bilhões de bens chineses e serão completamente separadas da primeira rodada de tarifas já em vigor.

Essas tarifas antigas afetavam principalmente os produtos industriais (como tubos de metal e outros exemplos de produtos industriais que eu não consigo imaginar agora).

Porém, essa nova rodada de tarifas é focada especialmente nos bens de consumo como smartphones, brinquedos, camisetas e meias.

Segundo a Consumer Technology Association, essas novas tarifas afetariam cerca de US $45 bilhões em celulares, US$ 39 bilhões em laptops e tablets e US $ 5,4 bilhões em consoles de videogame.

Não bastassem as tensões já estarem relativamente altas, os mercados também repercutem a retaliação chinesa contra Trump, desvalorizando o Yen ao menor patamar em uma década.

Para piorar, as estatais chinesas também foram ordenadas a suspender definitivamente a importação dos produtos agrícolas americano.

Cada um joga com as armas que tem… e ambos parecem ter um arsenal inteiro para tentar ferir – e derrubar – o inimigo.

A guerra comercial saiu das trincheiras e ambos estão fazendo expedições em campo aberto…

Nessas horas os investidores lembram que se esqueceram de comprar um pouco de ouro!

Há rumores de que o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, começou a discordar com o presidente Trump sobre a política comercial chinesa que vem sendo adotada.

Nenhuma das partes confirma isso publicamente, mas, de acordo com uma fonte do Wall Street Journal, o aumento da tarifa teve a oposição de Lighthizer, do secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, do diretor do Conselho Econômico Nacional norte-americano Lawrence Kudlow e do conselheiro de segurança nacional John Bolton.

Ainda na semana passada, antes das retaliações chinesas, portanto, o presidente Donald Trump sugeriu a possibilidade de cancelar as tarifas planejadas antes do prazo de 1 de setembro, caso certas condições fossem atendidas.

“Os 10% são por um período de curto prazo, dependendo do que acontece com relação a um acordo”.

No entanto, em uma conferência de imprensa na Casa Branca mais tarde naquele dia, ele adotou uma abordagem mais firme e disse aos repórteres que “se eles não quiserem mais negociar conosco, tudo bem para mim”.

Diante dos novos acontecimentos, certamente haverá desdobramentos e, consequentemente, turbulências nos mercados mundiais. Embora todos desejem o contrário, essa guerra não tem data nem hora para acabar.

Por outro lado, apesar dos dados sugerindo que a economia americana desacelerou, nota-se que a taxa de emprego continua alta e com novos postos sendo criados.

De acordo com o Departamento do Trabalho, 164 mil novos empregos foram gerados no mês passado.

A taxa de desemprego se manteve estável em 3,7%, a menor em quase 50 anos. Embora lentamente, os salários ainda estão crescendo.

O salário médio por hora subiu oito centavos por hora, para US $ 27,98, um aumento de 3,2% em relação ao ano passado.

Em contrapartida, como resultado das disputas comerciais, o crescimento da indústria sofreu um impacto e as fábricas totalizaram apenas 16 mil novas vagas em julho.

Dado que a batalha deve continuar, poderemos ver uma deterioração desses números muito em breve. Será que nesse intervalo de tempo, alguém irá ceder?

Abraços,