Agora Financial: Descontrole geral
Caro leitor,
As notícias que chegam do front preocupam mais do que empolgam.
O Congresso e a Casa Branca selaram um acordo que suspende o teto da dívida do país até as próximas eleições presidenciais e, simultaneamente, ampliam os gastos públicos federais.
Essa manobra vai aumentar os gastos em US $ 50 bilhões no próximo ano, totalizando algo em torno de US $ 2,7 trilhões em despesas para o período de dois anos.
O presidente não demorou muito tempo para anunciar o acordo através do seu porta-voz, o Twitter:
“Tenho o prazer de anunciar que foi fechado um acordo com o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, o líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, a presidente da Câmara Nancy Pelosi e o líder da minoria da Casa, Kevin McCarthy, sobre o orçamento de gastos e o teto da dívida para os próximos dois anos.”, twittou ao presidente Trump.
A expectativa era justamente a de que o acordo fosse assinado antes do recesso de agosto. Caso contrário, o governo ultrapassaria o limite de endividamento antes que os legisladores retornassem de seu período de férias e o país não pudesse pagar suas contas.
Em um comunicado conjunto, a dupla Nancy Pelosi e Chuck Schumer elogiaram a administração por ter se juntado à equipe, evitando um novo “shutdown” do governo como ocorreu no final do ano passado.
“Estamos satisfeitos que o governo finalmente concordou em se juntar aos democratas para acabar com esses cortes devastadores que ameaçam os investimentos necessários para manter a América líder na economia global, bem como para garantir nossa segurança nacional. Com este acordo, nós nos esforçamos para evitar outra paralisação do governo, que é tão prejudicial para atender as necessidades do povo americano e honrar o trabalho de nossos funcionários públicos. ”
Enquanto isso, membros de ambos os partidos não deixaram de expressar suas preocupações, alertando que esse movimento acrescentaria trilhões de dólares à dívida pública que já é gigantesca.
Houve uma época em que os republicanos insistiam em cortar um dólar nos gastos para cada dólar que estivesse além da dívida para manter a saúde financeira da economia.
Contudo, conforme disse Maya MacGuineas, presidente do Comitê do Orçamento Federal Responsável, parece que essa não é mais uma preocupação.
“É difícil acreditar que eles estão agora considerando inflacionar os gastos em US $ 2 trilhões e, simultaneamente, flexibilizar o aumento do teto de endividamento do país”.
É o famoso tampando o sol com a peneira. No curto prazo, tudo uma maravilha, mas no longo prazo a dívida federal americana torna-se cada vez mais impagável.
Sob esse aspecto, o dólar e a dívida são dois lados da mesma moeda. O dólar americano perdeu 96% de seu valor desde que o Federal Reserve foi criado em 1913. Enquanto isso, a dívida nacional disparou.
Quando Bill Clinton deixou o cargo, a dívida nacional era de cinco trilhões. Bush dobrou para 10 trilhões. Em seguida, Obama o dobrou novamente para 20 trilhões. Em suma, em pouco menos de 20 anos a dívida nacional praticamente quadruplicou.
Ou seja, embora a dívida tenha alcançado valores inusitados, cada um dos presidentes que senta na cadeira, tampouco quer assumir o legado deixado pelos anteriores. E é assim que a dívida se torna uma bola de neve.
Não por menos, esse processo continuou com Trump.
Aquela ideia de que Trump era um conservador fiscal, não é verdade. Até agora, apenas neste ano, o déficit da administração Trump é de um trilhão de dólares.
Muitos podem pensar, “bom, estamos falando da maior economia do mundo, então, uma hora ou outra essa dívida começará a ser paga e os níveis voltarão aos patamares normais”
Será?
Sabe qual é a relação dívida / PIB hoje? É de 106% !! Ou seja, se os Estados Unidos ficarem um ano inteiro sem investir em nada, sem gastar com nada, ainda assim faltará dinheiro para pagar a dívida.
O nível atual está voltando aos patamares da Segunda Guerra Mundial, quando foi necessário gastar uma enormidade de dinheiro para financiar a guerra. Esse não é mais o caso.
Seja como for, o acordo celebrado por republicamos e democratas afasta ainda mais a dívida federal de níveis aceitáveis ou de uma zona de conforto que seria de aproximadamente 30% do PIB.
Em um mundo em que juros negativos estão se tornando “normais”, aparentemente dívidas impagáveis tampouco tem causado muita estranheza.
Abraços,