Opinião

Agora Financial: Big Brother

25 jul 2019, 19:15 - atualizado em 25 jul 2019, 19:15
(Imagem: Bloomberg)

Por Agora Financial 

Caro leitor,

O que o Facebook Inc. (NADSAQ: FB), a Alphabet Inc. (NASDAQ: GOOGL), a Amazon.com (NASDAQ: AMZN) e a Apple Inc. (NASDAQ: AAPL) têm em comum?

De alguma maneira, cada uma dessas empresas de tecnologia domina nossas vidas, mas além disso, conforme noticiado na noite de ontem, todas elas também atraíram oficialmente a ira dos reguladores federais.

Conforme publicado em diversas mídias, o Departamento de Justiça americano está abrindo uma investigação antitruste contra os maiores protagonistas de tecnologia do país para tentar descobrir se essas empresas estão infringindo as leis para eliminar seus concorrentes (falamos sobre isso em edições passadas do BWS).

“O novo inquérito antitruste do procurador-geral William Barr poderia aumentar as já consideráveis pressões regulatórias enfrentadas pelas principais empresas de tecnologia dos EUA”, informa o The Wall Street Journal Reports.

Diante de tal notícia, seria de se esperar que as ações dessas empresas iniciassem a sessão de hoje em queda, mas ao contrário do que se poderia imaginar, não é bem isto o que está acontecendo no mercado futuro.

Apesar de uma pequena volatilidade, motivada especialmente pela decisão do Banco Central europeu acerca de um potencial cortes na taxa de juros previsto para essa manhã, parece que os investidores não estão muito preocupados com as investigações em curso contra as gigantes do Vale do Silício.

Além disso, a quebra de privacidade ou acesso à dados privados é outra questão comum a todas elas. Em alguns casos, porém, aparentemente não geram muita preocupação.

A Amazon.com (NASDAQ: AMZN), por exemplo, acredita que uma nota de US $ 10 será suficiente para convencer seus usuários a permitirem acessar seus dados.

O rei do e-commerce promoveu uma promoção do Prime Day em que oferecia US$ 10 a qualquer um que permitisse que a ferramenta Amazon Assistant espionasse seus dados on-line, relata Reuters.

Caso você não esteja familiarizado, o Amazon Assistant ajuda os compradores a comparar as ofertas da Amazon com outros varejistas on-line.

Apesar dessa óbvia invasão de privacidade, o recurso de assistente já foi baixado mais de 7 milhões de vezes (até quando seremos coniventes com essas práticas?).

Ao que tudo indica, contanto que, em troca, consigamos economizar ou ganhar alguma coisa, é totalmente aceitável abrir as portas da nossa vida pessoal para qualquer empresa de tecnologia ou mídia social.

O pior de tudo é que na maioria dos casos, apenas uma das partes está ganhando alguma coisa com esse escambo digital, afinal, hoje em dia, todo mundo está distribuindo seus dados, preferências e hábitos gratuitamente através de curtidas, retweets, postagens e afins.

Conforme comentei em outras oportunidades, nós é quem somos o verdadeiro produto dessas empresas.

Conforme reportado ontem durante a divulgação dos resultados trimestrais, o Facebook Inc. teve um impacto de mais de US $ 5 bilhões em seus lucros no primeiro semestre deste ano.

A penalidade imposta pelo governo é consequência das práticas da empresa que, rotineiramente, tem se envolvido em escândalos e polêmicas por quebrar a privacidade e/ou usar indevidamente os dados dos usuários da sua plataforma.

“A ação da Federal Trade Comission veio muito tarde”, disse Marc Rotenberg, presidente do Centro de Informações de Privacidade Eletrônica, em um comunicado na quarta-feira.

“Os consumidores americanos não podem esperar mais uma década para a comissão agir contra uma empresa que viola seus direitos de privacidade. O Congresso deve agir rapidamente para estabelecer uma agência de proteção desses dados”.

Seja como for, os investidores claramente não se mostram incomodados…

Ao menos por enquanto, mesmo no epicentro de polêmicas, apesar das multas impostas pela FTC e da investigação do Departamento de Justiça anunciada nessa semana contra as gigantes do Vale do Silício, a ação se comporta de maneira oposta, tendo avançado mais de 2% no início dessa manhã.

Como os investidores são motivados por interesses seletivos, enquanto a máquina publicitária continuar ganhando dinheiro e o Facebook continuar reportando crescimento de receita na casa dos dois dígitos, seu papel em escândalos – incluindo o da Cambridge Analytica nas eleições presidenciais – será visto como um mero detalhe.

Sob esse aspecto, os investidores tem motivos para comemorar.

Para o trimestre, o Facebook registrou receita de US $ 16,89 bilhões, uma melhora de 28% em relação ao ano anterior. Isso ocorreu especialmente por conta de um forte aumento na receita de publicidade, que aumentou na mesma proporção.

Além dos números acima das estimativas dos analistas, os investidores do Facebook certamente serão satisfeitos com as principais métricas operacionais, que continuam a subir notavelmente.

A contagem mensal de usuários ativos, por exemplo, ficou um pouco acima de 2,1 bilhões, um aumento de 8% em relação ao ano anterior.

No entanto, o lucro líquido GAAP caiu drasticamente para US $ 2,6 bilhões (US $ 0,91 por ação) em relação ao ano anterior, de US $ 5,1 bilhões.

O resultado final foi afetado justamente pela contabilização de parte da multa de US $ 5 bilhões que a empresa deve pagar à Federal Trade Commission (FTC) como parte do acordo com o órgão regulador.

Em uma base não-GAAP (ajustada), o lucro líquido do Facebook foi de US $ 1,99 por ação.

Há poucas razões para pensar que a popularidade do Facebook irá diminuir… o mesmo se aplica para o aplicativo líder de compartilhamento de fotos, o Instagram, ou canal de mensagens WhatsApp.

Se mesmo diante de toda a repercussão recente e dos problemas em que se envolveu houve uma diminuição dos usuários, imagino que nada mais será capaz de fazê-lo.

Em relação aos investidores, o apoio continua irrestrito, afinal, esses continuam mais impressionados com as finanças do que assustados com o aumento da supervisão federal sobre a empresa.

Abraços,