Ágora alerta para pressão sobre açúcar da São Martinho, mas e o volume fixado a preços bons?
O alerta que a Ágora Investimentos deu em relação à performance do Grupo São Martinho (SMTO3), cujos resultados com o açúcar poderão ser pressionados pela maior oferta global que possivelmente a Índia despejará no mercado, parece não levar em conta o volume de contratos externos já fixados.
A São Martinho, como todos os players brasileiros, tradicionalmente antecipa as vendas, e, para a safra atual, em começo de fevereiro já havia se comprometido com 61% do volume projetado dos embarques totais, segundo a empresa havia informado. Na média do Centro-Sul, Haroldo Torres, do Instituo Pecege, acredita em 88% já fixado da temporada 21/22.
A média negociada pela empresa foi de R$ 1,537 mil a tonelada, quando a bolsa de Nova York, ao final de janeiro, estava negociando o contrato futuro de maio entre 14,94 a 15,08 centavos de dólar por libra-peso (2,20462 igual a 1 kg).
“Um preço excelente alcançado”, ratifica Maurício Muruci, da Safras & Mercados, ao fazer a conversão das unidades.
Com quatro unidades, três em São Paulo e uma em Goiás, o grupo também informava que esperava concluir o primeiro trimestre com mais 300 mil toneladas fixadas internacionalmente. Se isso se concluiu, a companhia chegou a pegar um dos melhores momentos de cotações, em torno dos 16,50 c/lp no começo de março, diz Muruci.
Já devendo estar comprometida em 70% ou mais com as exportações negociadas, o que resta a ser embarcado, inclusive, agora está tendo um novo repique de preços em Nova York, quase testando os 17 c/lp, sob influência de uma menor safra projetada para o Brasil.
E que anularia, por exemplo, a maior oferta exportadora indiana, pelo excedente que não seria consumido internamente em razão do avanço das restrições contra a pandemia. Os analistas da Ágora argumentam a respeito de viés interno do país, cuja sobra deverá ser exportada.
Mas mesmo se for o caso de a fixação ter ficado abaixo das cotações atuais, não significa prejuízo. A empresa deixa de ganhar, diga-se, porém seus custos de produção e margens já foram cobertos.
Alexandre Figliolino, sócio-diretor da MB Agro, é bastante otimista: “No nível de fixação informado e com o real desvalorizado, a São Martinho embolsa um belíssimo lucro”.
Além do que, o tradicional grupo usineiro paulista “tem uma política de hedge definida e as fixações são definidas em função de cenário, orçamento e nível de retorno adequado ao acionista, procurando tirar alguns componentes de volatilidade do resultado”, completa o ex-diretor do Itaú BBA.
No que acrescenta Maurício Muruci, a favor dos grandes grupos, com gestão operacional redonda, estão o baixo custo de produção – “a média dos maiores exportadores é de 9 c/lp” -, e os ganhos cambiais.