AES Brasil triplica capacidade de investir em novos projetos após mudanças
A AES Brasil, da norte-americana AES, vai triplicar a capacidade de investimentos em novos projetos de geração renovável no maior país da América Latina após uma reestruturação em curso em seus negócios locais, disse à Reuters nesta quarta-feira a presidente da companhia, Clarissa Sadock.
A elétrica propôs aos acionistas uma reorganização que concentrará seus ativos operacionais na controlada AES Tietê, enquanto novos empreendimentos, conhecidos no setor como “greenfields”, serão tocados por empresas à parte.
Essa estrutura permitirá à companhia tomar mais empréstimos para bancar projetos, uma vez que apenas os ativos da AES Tietê ficariam limitados a um nível de alavancagem financeira máximo acertado pela empresa junto a credores.
“Essa reestruturação está sendo feita com o objetivo de aumentar nossa capacidade de alavancagem. Na hora em que separo meus ativos operacionais daqueles que vão estar em construção, eu consigo com isso triplicar minha capacidade de crescer em greenfield”, explicou a CEO, eleita para o cargo em dezembro.
A AES Tietê tem um plano de investimentos de cerca de 1,4 bilhão de reais entre 2020 e 2024, mas o valor inclui apenas projetos já anunciados.
A AES Brasil opera em sua estrutura atual com alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e geração de caixa (Ebitda), entre 2,5 vezes e 3 vezes.
Na nova estrutura, a depender da velocidade de implementação de projetos, a empresa poderia buscar atuar com índice mais próximo de 4,5 vezes, disse Clarissa.
No radar da AES Brasil está a construção de parques eólicos ou solares para atender diretamente à demanda de clientes como indústrias e empresas no mercado livre de energia.
Ela possui um portfólio de projetos a serem desenvolvidos nessa linha, sendo que os investimentos dependerão dos contratos selados para venda da produção futura.
No mês de janeiro, a companhia anunciou memorando de entendimento com a Ferbasa para fornecimento de 80 megawatts médios em energia por 20 anos a partir de 2024.
A entrega será feita a partir de um parque eólico que a companhia construirá como parte do chamado Complexo Cajuína, no Rio Grande do Norte.
Antes, em 2019, a empresa havia fechado acordos semelhantes com Anglo American e Unipar que viabilizaram usinas eólicas na Bahia, onde ela constrói o Complexo Tucano.
Mercado Quente
Apesar da pandemia de coronavírus, que gera algumas incertezas sobre a demanda por energia, a AES Tietê tem mantido diversas negociações para viabilizar novos projetos que forneceriam a produção diretamente a empresas.
“Tem muita procura”, disse a CEO, que citou a maior preocupação de companhias com a agenda ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês).
Outro fator que ajuda as negociações é a perspectiva de que o governo vá retirar em breve subsídios atualmente concedidos para quem compra a energia de usinas de geração limpa, como as que a AES Brasil quer construir.
Um desconto em tarifas de transmissão para energia limpa deve ser retirado para novos projetos, segundo a medida provisória 998, que o Senado deve analisar ainda nesta semana.
“O mercado deu uma bela aquecida, seja pelo ESG, seja pelas questões setoriais, esse benefício da energia incentivada. Vemos uma procura acelerada, tem clientes fazendo processos organizados, com requisição de propostas, e a gente está participando”, detalhou Clarissa.
Por outro lado, esse mercado também tem forte concorrência.
“O mercado está competitivo, você tem muitos geradores oferecendo produtos, então o cliente está cada vez mais empoderado, ele tem mais poder de barganha, de discussão de prazo e preço”, disse a CEO.
Aquisições, Diversificação
Em paralelo às negociações para novos projetos, a AES Brasil continua a avaliar aquisições de ativos de geração renovável.
O foco nessa área estará em empreendimentos com porte entre 100 megawatts e 300 megawatts, disse a presidente da companhia.
Com os novos projetos “greenfield” e eventuais compras de usinas, a elétrica quer aumentar a participação de fontes renováveis não-hidrelétricas em seu parque gerador, mas não persegue uma meta específica.
Segundo a CEO, a companhia focará ativos que “façam sentido” dentro de seu conjunto de ativos e “tragam retorno”.
A AES Brasil opera um parque de hidrelétricas e usinas eólicas e solares com capacidade total de 3,7 gigawatts. A companhia possui ainda um portfólio de projetos para expansão que a permitiria chegar a pouco mais de 5 gigawatts.