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Adeus, Homem de Aço: Que tal ser um líder que tem coragem de admitir que sente medo?

25 abr 2024, 14:51 - atualizado em 25 abr 2024, 14:51
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Pare de sofrer com a Síndrome do Homem de Aço: “É sim relevante e, em especial para líderes, mostrar-se vulnerável e compartilhar fraquezas”, explica Bruna Charifker Vogel (Imagem: Pixabay/ solihinkentjana)

Não sei você, mas às vezes tenho a impressão de que me tornei um clichê: à medida que o tempo passa, fico mais medrosa. Foi-se a época na qual eu literalmente me jogava em novas experiências, umas mais ousadas, outras nem tanto: mudar de cidade, de país, de faculdade; voar de asa delta; trabalhar dentro de presídios; casar; ter dois filhos; e por aí vai.

Recentemente, fui a um parque de diversões com as crianças. Meu filho foi com destemor em todos os brinquedos radicais liberados para sua idade. Já minha filha precisou de um incentivo extra – leia-se “mamãe, vem comigo?”.

Foi o jeito… o incentivo a ela era um incentivo a mim mesma: ter medo é normal e até bom para a gente ter cuidado, mas não deixe o medo te dominar, te paralisar. Vai com medo, mas vai! Ou melhor: VAMOS!

Além de ser um bom gestor de riscos, o medo é também um sinalizador de individualidade.

O jornalista, filósofo e professor Clóvis de Barros Filho nos ensina que medo e imaginação caminham juntos. Sentimos medo de algo que ainda não é real, mas da possibilidade de sua realização. Sentimos medo da possibilidade de sermos atropelados por um veículo e não do atropelamento em si – ao ser efetivamente atropelado, você sente dor.

O medo, portanto, é fruto do conhecimento e das experiências: você tem medo de se queimar com fogo ou porque já se queimou, ou conhece alguém que se queimou ou alguém te ensinou que fogo queima. Isto é, nossos medos são aprendidos e transmitidos.

3 dicas para um líder admitir o medo, sem medo de errar na dose

Em outras palavras, as coisas das quais sentimos medo evidenciam muito de nós mesmos, da nossa história de vida. Daí que compartilhar nossos medos é nos desnudar, é deixar transparecer nossas vulnerabilidades e singularidades.

Mas aí fica a pergunta: tudo bem compartilhar medos no ambiente de trabalho?

Na coluna anterior, falei sobre o compartilhamento estratégico de situações embaraçosas quando o objetivo é incentivar a criatividade. No caso de pontos fracos, como o medo, existe uma quantidade ideal de autenticidade e vulnerabilidade a ser dividida entre colegas?

De acordo com a psicóloga organizacional e professora da Kellogg University Maryam Kouchaki, há dois tipos de autenticidade: a sentida e a percebida. A primeira está relacionada ao sentimento pessoal de que comportamento e valores estão alinhados. A segunda diz respeito à forma como outras pessoas enxergam você, se de fato você está agindo de acordo com seu verdadeiro eu.

Ao conduzir uma pesquisa para entender se existem maneiras de comunicarmos nossa autenticidade no ambiente de trabalho, Kouchaki descobriu que revelar pequenas fraquezas não só aumenta a autenticidade percebida, mas também a confiança e a propensão a trabalhar junto.

Mas atenção, há alguns detalhes importantes aqui. Primeiro, estamos falando de pequenas fraquezas – tais como medo de voar, de falar em público ou dificuldades em gerir o tempo – e não de questões que colocam em xeque o caráter moral de uma pessoa como, por exemplo, enganar um colega ou ser pego roubando algo.

Segundo, não se trata de sair por aí revelando fraquezas como uma estratégia para aumentar a autenticidade percebida. Isto é, intencionalidade é fator crucial para diferenciar uma autenticidade genuína de uma forçada.

Terceiro, de acordo com os estudos conduzidos pela professora, esse efeito positivo na autenticidade percebida – em especial no que se refere ao aumento na confiança e na vontade de trabalhar junto – é bastante forte para líderes, mas não entre pares. Em ambas as situações, no entanto, não há efeitos contrários, ou seja, comunicar fraquezas de forma genuína e voluntária não leva a uma percepção de incompetência tanto para líderes quanto para colegas de trabalho.

Em suma, a forma como as pessoas nos enxergam é sim relevante e, em especial para líderes, mostrar-se vulnerável e compartilhar fraquezas é uma bela maneira não só de humanizar o ambiente de trabalho, mas também de gerar sentimentos de identificação e pertencimento – nossa saúde mental agradece!

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