Adesão do bitcoin em mercados emergentes
A adesão do bitcoin, afirmou Andreas Antonopoulos, escritor e defensor do bitcoin, vai acontecer de forma progressiva: vai começar nos países subdesenvolvidos e, gradualmente, com o avanço da tecnologia, infiltrar mercados desenvolvidos com novas aplicações ainda desconhecidas.
Dados da LocalBitcoins mostram que a primeira etapa desse processo já começou. Agora, o volume de negociações ponto a ponto (“peer-to-peer” em mercados emergentes e fronteiriços ultrapassa o volume do mundo desenvolvido, e não é responsável pelas flutuações de preço.
Isso foi destacado no Twitter pela Passport Capital, empresa de investimento de São Francisco, que cobriu os níveis de volume de negociações nos mercados desenvolvidos e emergentes para chegar aos resultados:
O volume da LocalBitcoins em Mercados Desenvolvidos (em azul no gráfico) mostra uma trajetória similar ao aumento e à queda do preço do bitcoin, refletindo a imigração de especuladores no mercado com o aumento dos preços, e a saída deles com a queda de preços.
Isso possui contraste com volume em Mercados Emergentes e Fronteiriços (em laranja), que tiveram um aumento mais estável e maiores níveis mesmo quando os preços estavam caindo.
Uma salvação para mercados emergentes
Com liquidez limitada e um spread de alta compra/venda, LocalBitcoins pode ser um local caro para negociação, e bitcoin custa, geralmente, alguns pontos de porcentagem maiores que o preço à vista equivalente.
Apesar do gasto adicional, o volume na plataforma aumentou de menos de US$ 100 mil por semana em 2012 para cerca de US$ 50 milhões por semana da última vez. Esse número põe a LocalBitcoins no mesmo patamar de plataformas como a Bitfinex.
A Passport Capital sugere que um grande percentual de volume negociado na LocalBitcoins em mercados emergentes não é especulação, mas, por motivos práticos, eles estão mais mantendo a mesma visão de Satoshi Nakamoto do que fornecendo um sistema alternativo e descentralizado de finanças:
“Eu acho que existe especulação tanto nos mercados emergentes como nos mercados desenvolvidos. Assim, há investimento nos dois mercados. A visão abrangente é que os cidadãos dos países de mercados emergentes vejam mais utilidade no bitcoin já que têm moedas menos estáveis e menos acesso a aplicativos de fácil uso, como Venmo/Square. Enquanto os dados não comprovam isso, eu acho que ainda apoiam essa visão.”
Porém, como afirmou a empresa de investimentos, o motivo por trás dos altos níveis de negociação ponto a ponto de bitcoin, em certos mercados emergentes, não é completamente nítido, e cada país tem seus próprios motivos para aderir aos criptoativos.
Rússia, Venezuela, China, Nigéria e Colômbia são os cinco países que contribuem em 80% de todo o volume de negociações em mercados emergentes pela LocalBitcoins.
Cada um deles têm sua própria catálise para adesão do bitcoin: que vai da desvalorização da moeda até a regulações restritivas, além da falta de alternativas para remessa internacional.
As negociações na China, que contabilizam 9% do volume em mercados emergentes, podem ser motivadas ou pela especulação ou pelas praticidades, e é provável que representem compradores locais se afastando de regulações restritivas locais ao negociarem diretamente em fiduciárias.
Os 37% negociados na Rússia também podem ser por conta de entusiastas em cripto que enfrentam desaprovação das autoridades.
Apesar de as plataformas on-line poderem ser acessadas do país, incluindo a própria plataforma da Rússia da Huobi, as autoridades veem a criptomoeda com maus olhos, já que o presidente Vladmir Putin avisou que as criptomoedas apresentam “sérios riscos”.
Mas enquanto a atividade peer-to-peer na Rússia e China possam ser simplesmente uma maneira de escapar das autoridades, Nigéria, Venezuela e Colômbia contam uma história diferente.
Nigéria, que possui 8% do volume, enfrentou incertezas significativas a respeito de sua moeda, naira, por conta do colapso de preços de petróleo, gerando inquietação suficiente para fazer com que os cidadãos usem bitcoin como reserva de valor.
Para a Venezuela, que conta com 19%, bitcoin representa não apenas uma maneira para se desvencilhar do controle do governo do acesso aos dólares americanos, mas também para evitar a inflação catastrófica de sua moeda, bolívar.
Isso é um propósito prático que também explica os altos níveis de negociação peer-to-peer na Colômbia, que dizem ter um crescente contrabando.
Quando considerado em termos de inscrição do “Bloco Gênese” do Bitcoin — “a primeira transação de bitcoin minerada em 3 de janeiro de 2009, prestes a acontecer o segundo resgate dos bancos” —, um alívio para essas crises seria exatamente o que Satoshi Nakamoto imaginava para o bitcoin.
Mas, como sugeriu Antonopoulos, esse pode ser apenas o começo, antes de aplicações novas e antes inimagináveis serem apresentadas para a criptomoeda:
“Primeira etapa: substituir todas as máquinas de fax. Segunda etapa: fazer aplicações que uma máquina de fax nunca conseguiria fazer.”