Adeodato Netto: O país onde Moro, mudou. E agora?
Por Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial Research
Alguns momentos nos levam a afirmar categoricamente: estamos vivendo a história. Hiroshima, morte de JFK, Diretas Já, queda do muro de Berlim… ordem de prisão do ex-Presidente Lula.
Viver a transformaçào da sociedade, da nação, do mercado, não acontece sem dor!
Vimos a destruição da nossa economia ser conduzida pelas mãos da escolhida (ou engolida) por Lula. Nunca na história deste país, havíamos visto tamanho estrago feito em tão pouco tempo. Nos tempos de hiperinflação, quando ainda não conhecíamos a estabilidade, não tínhamos sequer condições de planejar o futuro. Dilma, Mantega e sua turma, demoliram os pilares conquistados a duras penas, por todos aqueles que sobreviveram aos surtos das maxidesvalorizações, do confisco da poupança, das mudanças de moeda. A soberba a derrubou!
O mesmo pecado capital, com uma dose colossal de vaidade, está derrubando Luis Inacio. O PT está órfão. Por uma ironia do destino, e não mais do que isso, a cela preparada é na cobertura da sede da Polícia Federal em Curitiba. Não tem três andares, nem vista para o mar, mas é a cobertura.
Mobilizar uma parte relevante da sociedade civil, demanda mais do que um discurso esvaziado pelos fatos, comprovadamente derrubado pelas diversas instâncias da justiça. Precisa de liderança, convicção e… dinheiro. Qual dos três pilares ainda resta? Imagino que nenhum.
Enquanto o mercado mostra que a redução do risco Lula anima as perspectivas, é fundamental lembrar que enquanto os nobres causídicos pensam em estratégias para liberar Lula, não cabe a nós, brasileiros mortais, que trabalham incessantemente para construir um futuro decente e sólido, reduzir nosso ritmo para viver em êxtase.
Não há razão para perdermos o foco na construção de valor. Por mais que tentem vender a fórmula milagrosa de Alcatraz, nós seguimos apoiados (e precisando deles), no fundamento e no tempo. Não imagino que aumente a previsibilidade, simplesmente reduz-se o risco de ruptura. Quanto disto já está no preço? De curto prazo, muito!
O simbolismo da prisão é importante, para transmitir a percepção de uma nação forte, com instituições que não deixam que os indivíduos se sobreponham. Aliás, defendo isto diariamente, política, sociológica e corporativamente. As instituições DEVEM ser maiores do que os indivíduos.
Mas hoje ainda pouca gente pergunta, quantos dos reformistas não estarão fazendo companhia a Lula em cárcere nos próximos meses? Nosso papel é seguir em frente, vivendo a vida real, aquela que nos faz rir, chorar, pensar, estressar e crescer… independente da dor.
Menor chance do barco virar não significa garantia de estabilidade dos mares e das marés. A lua vai seguir seu ciclo.
Sabem uma das razões do sucesso das manifestações pró-impeachment? Elas aconteciam aos domingos!
O Brasil da economia real, meu, seu, nosso país, depende do nosso esforço, do nosso trabalho, da nossa dedicação e da nossa (sem parafrasear Carmen Lucia), serenidade.
Não, a Bolsa não estará em 100.000 pontos amanhã. Não, a Selic não vai a 4,5%. Não viramos a Dinamarca.
Ao mesmo tempo, a oportunidade é sem precedentes.
Não virem suas carteiras de investimento do avesso, não vendam a casa para comprar o ativo milagroso, nem corram para as colinas! É muito mais simples do que isso. Vão trabalhar, como todos os dias.
Sigam investindo de maneira responsável e com os pés no chão.
A euforia tem uma relação simbiótica com o pânico. Nenhum deles é sequer uma maneira razoável de manifestar os sentimentos superlativos que os anseios da vida nos trazem. Ações hiperbólicas tendem a gerar reações diretamente proporcionais, fato este, publicamente apresentado pela Terceira Lei de Newton.
Mas não podemos perder a chance de respirar aliviados, ainda desejando que a mesma justiça, o mesmo ímpeto, seja aplicado a todos, sem exceção, nem que seja um espetáculo de dominós!
Lula, como diria seu grande amigo Chico: “apesar de você, amanhã há de ser, outro dia“.
Eu vou trabalhar! Mas é verdade, que o país onde eu moro (ou Moro) mudou!
E por fim, de Milton Nascimento… “Sei que nada será como antes… amanhã!“