Adeodato Netto: Mar vermelho!
Por Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial Research
E eu pensando durante o final de semana de Páscoa, sobre tudo o que poderia dividir com vocês na volta. Afinal, quinta-feira Santa teve Bolsa voando, cota fechando, trimestre virando… coisa linda. Bônus da turma acertado, chegamos à verdade dos fatos. Os sucessivos recordes do primeiro mês do ano, combinados com o super twitter oficial do POTUS, apontavam para um cenário em que o céu era o limite!
Ressureição, celebração… a segunda-feira apagou a imagem da véspera do feriado e trouxe outra passagem bíblica… o mar vermelho… hoje quase nada piscava verde nos terminais. É uma onda de “aversão a risco” (odeio esta expressão) que só vendo. O Commander-in-Tweet, oops, Chief, lançou sua fúria sobre a Amazon. Justo as techs Mr. Trump. O complexo de super-homem parece estar extrapolando os limites lá pelas bandas da Pensylvania Avenue.
S&P500 na casa dos 2.500 pontos novamente. Dow Jones com o pior início de trimestre em sabe-se lá quanto tempo e o Nasdaq entregou todo a alta acumulada do ano. Por aqui, azeda menos, mas desidrata, fica chato, sem força… ainda mais quando temos na agenda da semana o STF julgando o HC do ex-presidente Lula e a potencial carta de alforria a centenas, quiçá milhares, de corruptos do colarinho branco e tantos outros meliantes espalhados pelo Brasil. É verdade que criminosos mais simples normalmente não tem dinheiro para os recursos. Mas pensando bem, não é culpa do STF que pobre é pobre, não é mesmo? Amanhã tem mobilizações espalhadas pelo país… uma leva de gente vestida de verde e amarelo, contra outro mar vermelho, da turma defendendo a liberdade (muitas vezes anárquica) e clamando pela salvação do salvador.
É coisa demais para pensar e ver. Mas no meio desta batalha toda, estava passando os olhos pelos destaques da recém encerrada temporada de balanços de empresas da Bolsa brasileira. É muito legal ver que, pelas bandas da economia real, o mar vermelho, que inundou os balanços durante o ciclo mais agudo da crise 2014-2016, transformou-se em algumas poças vermelhas. A recuperação é verdadeira e, em grande parte das companhias, consistente. Se não perdermos a mão, está tudo no lugar para um ciclo verdadeiramente virtuoso. Mas é confuso. Difícil olhar à frente de maneira positiva, quando os valores básicos de igualdade de direitos e deveres são absolutamente deturpados a olhos vistos.
Tentamos identificar os Ministros do STF, quase como fazemos com jogadores de nossa seleção nacional, em ano de Copa do Mundo. Buscamos ver razoabilidade na escalação, coerência no esquema e alguma forma de nos representar como cidadãos, como nação. A cada vez em que um Ministro toma uma decisão que, em tese, atende ao conceito básico de justiça, as pessoas correm para tentar criar um processo de associação, mais parecido a uma luta desesperada pela manutenção da esperança. Mas é fato que, assim como na seleção, logo vem a próxima partida e o herói vira vilão. E nunca na história deste país, o conceito de vilão foi tão atribuído àqueles que deveriam ser os garantidores do cumprimento da justiça.
A Bolsa tem a migração de grande volume dos recursos que viveram, acomodados e serenos, nos rendimentos de dois dígitos da renda fixa, enquanto lutávamos contra a imprevisibilidade e a inflação, alinhada com o endividamento público, sem controle. Quanto isto será suficiente? Ainda estamos lá perto dos 85.000 pontos… se os fundamentos não estivessem tão firmes, já teríamos ido barranco abaixo. As mudanças ministeriais vão atender, obviamente, propósitos políticos, mas na Fazenda e no Planejamento, aparentemente, segue o jogo na mão das competentes equipes técnicas que vieram até aqui.
Ninguém mais fala nas reformas, a Amazon não vai mais dominar o mundo, a Tesla vai fabricar somente carrinhos de controle remoto e o Orkut voltará soberano, chutando as canelas com tornozeleira eletrônica do Zuckerberg. Tem vezes que o fluxo de notícias, de manchetes e barbaridades é tão grande, que parece que muito tempo passou e o mundo mudou mesmo. Ou simplesmente voltamos no tempo.
Quanto voltamos? Se abrir o Mar Vermelho de novo, passamos todos e saímos a salvo?
“O mar abriu no mei, véi!” – Hermanoteu
Que tudo pisque verde logo, apesar do twitter de Trump e do STF!