Adam Capital ganha com aposta antiga contra ações dos EUA
Nem todo mundo saiu perdendo com a sangria dos mercados na semana passada.
No Brasil, uma aposta antiga da gestora de fundos Adam Capital em uma correção nos Estados Unidos, que no ano passado prejudicou a performance dos fundos da empresa, finalmente deu resultado.
O fundo Adam Advanced Master FIM registrou retorno de 1,75% durante a onda de vendas, o mais alto entre quase 200 pares em meio à propagação de casos de coronavírus fora da China, que levou Wall Street à pior semana desde 2008.
O fundo Adam Macro Strategy Master FIM da gestora teve o segundo melhor desempenho, com retorno de 1,02% na semana passada até quinta-feira, os números mais recentes disponíveis, segundo dados compilados pela Bloomberg.
A queda dos mercados acionários globais ocorreu poucos dias depois de a gestora de ativos — fundada em 2016 por Márcio Appel e André Salgado e com cerca de R$ 20,7 bilhões sob gestão — reforçar a aposta contra ações dos EUA.
Em 21 de fevereiro, Salgado disse no Twitter que a empresa não havia deixado de apostar contra o índice S&P 500 e que, pelo contrário, havia aumentado a posição, sem dar mais detalhes.
Em carta aos investidores na segunda-feira, a Adam Capital disse que agora acredita que o Federal Reserve e o Banco Central voltariam a cortar os juros para aliviar o impacto das consequências da crise de saúde.
O banco central americano anunciou na terça um corte na taxa de juros em uma reunião emergencial.
Segundo a Adam Capital, o “portfólio atual está preparado e equilibrado para amortecer impactos fortuitos de eventuais correções advindas de determinados cenários”, disse a empresa na carta.
“Estamos cientes das dificuldades de equilíbrio que o momento atual nos apresenta.”
A maré de ganhos da Adam Capital durante a piora do mercado marca uma mudança em relação a um 2019 difícil para a gestora, com seu principal fundo não batendo o CDI.
O total de ativos do Adam Macro encolheu em cerca de R$ 3 bilhões nos últimos 12 meses e uma de suas maiores apostas – contra ações da Tesla – não funcionou.
A empresa encerrou a posição no ano passado, dizendo que a melhora da eficiência operacional da montadora prejudicou sua tese de investimento.
Appel e Salgado são veteranos das gestoras do Banco Safra e do Santander. O fundo Adam Advanced Master acumula retorno de 133% desde o início de 2016 em comparação com retorno de 38% de sua referência.
A Adam não foi a única gestora que conseguiu escapar das perdas da semana passada.
Também tiveram destaque o fundo Neo Multi Estratégia Master FIM, administrado pela NEO Investimentos, e dois fundos administrados pela JGP Asset Management, fundada por André Jakurski.
No caso da NEO, a maior parte dos ganhos da semana passada veio de estratégias que exploraram diferentes vencimentos na curva de juros brasileira, disse Marcelo Cabral, sócio-fundador da empresa.
A NEO, que administra cerca de R$ 4 bilhões, já apostava na maior inclinação da curva de juros do Brasil. Tanto o crescimento quanto a inflação do país não vinham mostrando aceleração, mesmo antes da crise do coronavírus aumentar a aversão ao risco.
“A velocidade do movimento foi totalmente inesperada”, disse Cabral.
A JGP também se preparava para o pior antes do Carnaval.
A empresa fez uma aposta contra ações dos EUA, comprou dólar americano contra outras moedas e vendeu petróleo, sob a tese de que as medidas da China para combater o coronavírus teriam impacto na economia, disse a empresa em comunicado por e-mail.
O fundo JGP Stategy Master da empresa quase não tinha exposição líquida à bolsa.
Já alguns dos gestores com melhor desempenho nos últimos anos foram afetados pela onda de vendas da semana passada.
Entre os que registraram as maiores quedas estão o fundo Safari Master FIM, administrado pela Safari Capital, que perdeu 12,59%, e o XP Long Bias FIM, da unidade de gestão de ativos da XP, com retorno negativo de 10,18%. A XP não respondeu a um pedido de comentário.
O fundo da Safari tinha forte exposição a ações com foco na economia doméstica, como empresas de varejo, concessionárias de rodovias e empresas de educação, além de ações da Petrobras (PETR3; PETR4) e JBS (JBSS3), que responderam pela maior parte das perdas, disse Marcelo Cavalheiro, sócio-fundador da empresa.
O portfólio também não tinha hedge, disse.
Ele continua otimista em relação à economia e vê a combinação de juros baixos, ampla oferta de crédito e melhora da taxa de desemprego como fator de impulsão da bolsa brasileira.
“Ainda estamos comprados em ações brasileiras e extremamente confiantes no potencial de nosso portfólio”, disse Cavalheiro.